Na descrição de Alteric está incluída a intenção dos seus criadores: Thomas Was Alone encontra Dark Souls. Esta inspiração está de facto patente no jogo, embora a execução não capte os melhores atributos destes títulos.

A Thomas Was Alone, Alteric vai buscar o grafismo das aventuras de uma figura geométrica num mundo minimalista de plataformas 2D com um ambiente ao mesmo tempo colorido e sombrio. Incorpora uma mecânica que possibilita a troca instantânea entre duas dimensões ao pressionar de um botão. Isto permite contornar obstáculos que não se encontram na outra dimensão, e é muitas vezes utilizado em secções que requerem uma rápida combinação com os movimentos entre armadilhas.

Em Alteric “saltar entre dimensões” tem que ser executado de forma literal.

Mas para além de trocar o foco na resolução de puzzles por desafios intensos de plataformas, este “tributo” esquece-se da dimensão narrativa que era discutivelmente a melhor faceta do original, sendo o único contexto de Alteric oferecido na sua descrição na loja virtual da PlayStation:

 “You are alone. Are you lonely? You’re lost. Or stuck? Somewhere…but where? And most importantly, who are you?

Only Yesterday You Were A Man.

Today Everything Has Changed.

You Died.

But your soul is still there. It’s a piece of light energy trapped in the alien space between two worlds.”

Mas a história pode ficar para segundo plano quando a jogabilidade toma as rédeas. A dita inspiração na dificuldade de Dark Souls permeia os níveis que vão aumentando em complexidade e tamanho. Com sequências de saltos milimétricos entre precipícios, feixes laser e lâminas de serra, cada morte transporta o jogador para o início do nível, num exercício de frustração que podia ser melhor comparado a Super Meat Boy. Mas ao contrário destes dois jogos notoriamente reconhecidos pelo seu desafio, Alteric não oferece a mesmo nível de controlo nos movimentos do seu cubo personagem. Daqui resulta uma experiência mais simplista e rígida, com menos oportunidades para o jogador sentir que progrediu por ter melhorado o seu domínio das mecânicas, em vez de pura insistência repetitiva. Os três bosses do jogo apresentam-se como uma mudança em relação à restante jogabilidade de plataformas, mas são também os mais afetados por esta simplicidade e falta de polimento mecânico. Ora são demasiado fáceis, ora artificialmente dificultados por elementos aleatórios cuja superação reside apenas num jogo de probabilidades.

Os visuais vibrantes do jogo são acompanhados com uma banda sonora eletrónica bem escolhida, mas com loops demasiado curtos, que em conjunto com o sempre presente som de esforço cada vez que o personagem salta, se tornam demasiado repetitivos após recomeçar o nível pela vigésima vez. Depressa preferi retirar os auscultadores.

Tenho ainda que mencionar o bug no boss final, que teima em continuar a luta eternamente mesmo após se encontrar envolto na sua suposta explosão final, algo que já é um problema desde o lançamento na Steam em 2016. É contornável, mas só através de um procedimento que torna a batalha final ainda mais tortuosa, e (segundo as minhas pesquisas) com uma mudança no idioma do jogo. Não sei se este último passo é essencial, mas eu lá levei com os créditos em francês.

No final de contas, as minhas 5 a 6 horas com Alteric foram definitivamente desafiantes, e a vontade de tentar mais uma vez fez-me terminar o jogo de uma assentada. Pode não ser Thomas Was Alone, Super Meat Boy nem Dark Souls, mas por €5,99 é uma tarde bem passada.