Apesar das gerações de trintões, quarentões e cinquentões terem crescido com anime fortemente embrenhado na pele, muitos deles (e de nós) não têm bem essa percepção, ignorando uma época de vacas magras de animação de um Portugal obstruído culturalmente por uma ditadura fascista que só no Pós-revolução encontraria uma a verdadeira abertura cultural.

Mas a quase totalidade das séries que fazem parte do nosso panteão colectivo de memórias são, na realidade, animes, com Heidi e Marco a encabeçarem essa liderança de “coisas que afinal eram japonesas e a malta não sabia”.

Há uma trincheira cultural das gerações posteriores, especialmente das nascidas mais próximo dos anos 1990 e que chegaram à adolescência num período em que as trocas de ficheiros na internet estavam mais acessíveis, o que lhes permitiu uma maior disseminação das cultura pop nipónica.

Para a minha mulher, trintona como eu, o último elemento de proximidade que teve com esta linguagem foi ainda com Dragon Ball, que foi o “colonizador” do anime e manga a nível global. Depois disso há para ela um hiato no qual só se reencontrou com Shingeki no Kyojin, que é para mim contemporaneamente o maior gateway para animes.

A história criada por Hajime Isayama trouxe alguns elementos relativamente únicos na sua forma de gerir e construir tensão, especialmente neste mundo de Attack on Titan onde a Humanidade parece estar condenada a falhar. Criaturas gigantes que ameaçam um mundo renascentista em que nem as altas muralhas servem de eficaz protecção para os habitantes que se sentem enganadoramente isolados de qualquer dor.

Os jogos baseados na série conseguem captar mecanicamente a aura de pressão de humanos frágeis a combaterem gigantes quase invulneráveis. Mas pouco mais tem resultado do que jogos que lembram o ritmo dos jogos de Warriors, e isso é dizer pouco. Infelizmente para Extinction, um indie game notoriamente inspirado na obra e no sucesso de Isayama, acontece exactamente o mesmo.

Há uma diferença tremenda entre o que sentimos na primeira hora de contacto com Extinction, do que aquilo que sentimos depois de por lá andarmos um par de horas. No início agrada-nos o dinamismo e a fluidez do combate e animações, e a tensão de termos de andar a correr de ponto em ponto no mapa a salvar os incautos cidadãos que estão a ser atacados por ogres. Com esse ritmo de salvamento vamos enchendo uma barra de poder rúnico que utilizamos depois para decapitar os ogres gigantes que nos atacam. Mas já lá vamos.

Depois da primeira missão de tutorial chegamos ao verdadeiro cerne de Extinction: o combate de David e Golias contras os ogres gigantes que atacam a nossa cidade. E a partir daqui tudo se resume a uma questão de tempo. Se demorarmos muito a derrotá-lo vamos vendo a “barra de vida” da cidade a desaparecer e se chegar a zero é mesmo o final do caminho para nós. Derrotar um destes titãs é uma questão de saber onde e como atacar. Inicialmente basta-nos apontar os ataques para os tendões de Aquiles para fazê-los cair de joelhos, permitindo-nos escalar até à sua nuca para os decapitar. Pelo caminho podemos ir desmembrando estes ogres, mas todos os membros voltam a crescer passado algum tempo.

Desde cedo que os ogres gigantes desprotegidos deixam de existir, dando lugar a couraçados com armaduras de madeira e metal que precisamos de destruir com ataques especiais provenientes da  barra que andámos a encher. O desafio é grande até nos habituarmos, e a diversão de derrotar os primeiros dez titãs rapidamente se esvai ao percebermos que não só já sabemos tudo o que tínhamos para saber, como o resto do jogo vai ser uma repetição sem sentido desta ideia, alternando na dificuldade pelo número e resistências destes ogres.

Extinction é divertido na sua apropriação ocidental da famosa série Attack on Titan, mas falha em ter conteúdo para além da primeira hora de jogo, fazendo-nos sentir que já vimos e fizemos tudo o que tínhamos a fazer. Terminar o jogo é apenas uma aborrecida tarefa e não uma fonte de diversão.

Fluído, dinâmico, onde a diferença de escala é interessante, mas a falta de diversidade rapidamente se transforma em monotonia. E talvez por isso o título Extinction seja tão apropriado. Mas tudo o que se extingue é mesmo a nossa diversão e a nossa vontade de o jogar por muito tempo.