Caçada Semanal #151

(RIP inspiração para títulos)

Esta é a expressão natural para qualquer pessoa que leia o terrível falhanço do título deste artigo.

Bater no fundo. Depois de ter decidido dar este título a esta caçada é exactamente assim que me sinto, como se não pudesse cair mais do que isto, a menos que tivesse notas de 100 euros e enchesse uma banheira com elas, e depois esfregasse toda a minha dignidade num poço fundo e vergonhoso. 

Falharam-me os trocadilhos. O que dizer de uma caçada que reúne num só artigo 3 indies dedicados a distintas formas de “dar tiros”? É que “Uma tarde infeliz num liceu norte-americano” é de muito mau-gosto para ser usado. E ao contrário dos novos “content creators”, não vibro com a necessidade de visualizações pelo choque ou pela provocação disparatada.

Mergulhemos então, preparados para os disparos, nestes 3 indie shooters da semana, todos eles com argumentos distintos para agradarem a diversos públicos.

Hellmut the Badass from Hell

Dizer que um bullet storm dungeon crawler é bom para relaxar parece tão antitético quanto ouvir benfiquistas queixarem-se de arbitragens. A ideia de entrar num jogo em que a acção quase não tem pausas para relaxar do que nos povoa a mente no dia-a-dia parece uma opção estranha, mas ironicamente, não é. O mercado indie tem sido solo fértil para este tipo de jogos, com Enter the Gungeon a ser um dos melhores exemplos de muitos bons títulos que nos têm chegado nos últimos anos.

Hellmut the Badass from Hell, do estúdio Volcanicc é a mais recente proposta desta tendência que tem tido maravilhosos exemplos de utilização de pixel art a sustentá-la, mas que se consegue diferenciar de outros twin-stick shooters em masmorras pela sua premissa verdadeiramente diferente.

Com um tom humorístico que tenta trazer o ambiente de DOOM para os jogos retro com um sorriso, a ideia de nos podermos ir transformando progressivamente em diferentes demónios com diferentes habilidades confere-lhe um sabor extra. É claro que estas transformações servem também como “vida adicional” num jogo duro como ossos, e que mais vezes nos vemos a fugir na nossa forma vulnerável e original, um cérebro saltitante e frágil, e eventualmente encontramos a nossa morte.

Hellmut the Badass from Hell não é só um excelente exemplo do género, como é um dos mais criativos, conseguindo combater a monotonia que sobrevoa outros jogos com uma tremenda diversidade de jogabilidade nos muitos corpos que temos para habitar.

https://www.youtube.com/watch?v=38Wwmfg-uSI

Battlezone: Combat Commander

Não é só nos grandes títulos que a aura de remasterização cai, e até nos menos mediáticos existe esta atenção contemporânea. No caso de Battlezone: Combat Commander ainda bem, ainda que pelo caminho da remasterização o título de 1999 tenha perdido o 2 que nos lembrava que era uma sequela do clássico Battlezone.

Está assim de volta quele que foi um dos grandes pontos de inovação para todos os fãs dos RTS que na década de 1990 puderam ver respondida a pergunta: será que algum dia poderei ver o jogo do ponto de vista das minhas unidades? Num cruzamento único entre RTS e FPS, que nos colocava não só a construir e a gerir a nossa base e as nossas unidades, como nos permitia controlá-las, como se estivéssemos no cockpit dos nossos veículos e mechs.

A influência e o seu arrojo conceptual viria mais tarde a conduzir a Westwood Studios a aplicar uma ideia semelhante em Command & Conquer: Renegade, ainda que neste caso toda a componente de estratégia tenha sido retirada, e o elemento de venda residia na possibilidade de sermos um soldado no mundo tão bem conhecido por nós de Command & Conquer.

Battlezone: Combate Commander prova que a actualização visual apenas tornou mais actual um jogo que mecanicamente estão tão polido quanto o era quando originalmente saiu. E que se torna a derradeira oportunidade para experimentar um dos mais inovadores RTS da História dos videojogos.

SUPER ASTEROIDS

Por 1 euro menos 1 cêntimo temos SUPER ASTEROIDS, que é o equivalente dos Descontos do McDonald’s dos shooters indies. Nem é preciso passar mais de alguns segundos para percebermos que esta é uma “homenagem” ao clássico de arcadas dos anos 1980, ainda que a minha grande surpresa resida no facto de que ainda ninguém tenha processado o estúdio brasileiro Alcateia Entertainment pela óbvia apropriação do título do jogo de 1995 da Atari.

SUPER ASTEROIDS é exactamente aquilo que poderíamos esperar: uma versão actualizada e colorida de Asteroids mas como uma lista de perigos e confrontos muito mais alargado do que o monocromático clássico. Os controlos e a forma de movimentação dos objectos no ecrã seguem os mesmos princípios, tornando-se automaticamente instintivos para quem contactou com o jogo da Atari.

Para uma versão barata, desafiante e até complexa de Asteroids, o seu ponto alto é indubitavelmente a banda-sonora que mantém o fulgor da acção na nossa busca pelo topo dos leaderboards.