Hora do Meh #22

Se há coisa que merece uma discussão isolada e um artigo só é a diferenciação mental que fazemos da nostalgia com jogos retro e o quanto eles são perfeitamente desfrutáveis nos dias de hoje em oposição a tantos outros exemplos que roçam (e passando o neologismo) a barreira do injogável.

Um dos segredos disso é o maior avaliador de sempre: o tempo. É ele que dita quais os objecto que sobrevivem em termos de qualidade à sua passagem. É ele que indica porque é que Wild Boys dos Duran Duran continua a ser (pelo menos para mim) uma das grandes músicas da pop/new wave e o porquê do Despacito vir a ser provado em poucos anos como uma das grandes causas de suicídio em 2017 e 2018.

Parte da culpa disto nos videojogos são as deficiências técnicas. Se um Super Mario Bros 3 continua tão actual como no dia de lançamento, o mesmo não se pode dizer de todos os jogos tridimensionais que foram sendo feitos na viragem do milénio. Muitos deles não eram realmente bons na altura, e apenas os óculos da nostalgia é que nos permitem vê-los assim. Alguns deles são verdadeiramente medianos, com boas ideias perdidas no meio de representações coxas.

Beast Quest

Tal como nas redes sociais, a imagem de apresentação é muuuuuuuuuuuuuuito melhor que a vida real.

Exactamente no período do qual falámos, a viragem do milénio, houve uma vaga de RPGs ocidentais na terceira pessoa que, se tivermos em conta apenas a nossa memória, eram do melhor que o mercado alguma vez produziu. Estamos a falar de jogos como Severance, e outros que tinham uma qualidade “excelente” apenas para serem ofertas de revistas de videojogos, e que à falta de melhores exemplos iam preenchendo o espaço vazio de vontade jogar que tínhamos.

Beast Quest, publicado pela Maximum Games com base nos livros de fantasia com o mesmo nome destinado a um público mais infanto-juvenil é um desses exemplos de mediania extemporânea. Os screenshots deixavam antever uma excelente abordagem tridimensional aos RPGs, mas quando vemos o jogo em movimento percebemos o quão banal é a sua direcção de arte, com o personagem titular a ser apenas um modelo 3D mediano e sem alma, quase filho bastardo de um tutorial de 3D Max, tal como nos jogos que recebíamos de oferta com revistas.

As animações do personagem estão no mesmo patamar de qualidade: toscas, medianas, quase fruto de artistas e animadores em início de carreira. Há tantos exemplos de jogos indie tridimensionais que souberam ultrapassar as suas limitações orçamentais com uma linguagem estética forte, e Beast Quest tinha de ir pelo caminho banal, mediano, sem qualquer força de expressão própria, com a pobre qualidade técnica de há vinte anos. 

Um jogo em 2018 que ainda demonstra os triggers em pixeis de início de animação para escalar um pequeno parapeito, mostra que existia potencial para criar um bom RPG infanto-juvenil, com imensos caminhos artísticos por onde seguir, mas que caiu naquela mediania constrangedora que nem sequer o podemos apelidar de “mau”. É apenas… meh.

Seasonal Soccer

Falando dos óculos da nostalgia, e da forma como exemplos recentes como o jogo de Dino Dini nos levou para outra época dos jogos de futebol, bem distante do realismo de hoje de FIFA e de PES.

Seasonal Soccer vem apelar a essa memória, mas é apenas mais um jogo a fazê-lo, e mesmo o que demonstra já em Early Access é perfeitamente banal, e que apesar dos seus 7,99€ não está acima de tudo aquilo que já jogámos quando os pixeis visíveis faziam parte integrante dos jogos de bola.

Para jogos com abordagem retro temos exemplos criativos como Nintendo Pocket Football Club que pelo menos traz inovações, e não apenas nostalgia. Seasonal Soccer é tão bom quanto um jogo de futebol de meados da década de 1990. Não é mau por isso, é apenas meh, e dentro dessas limitações preferimos jogar os originais.