Há dois tipos de pessoas que estudam as mentes criminosas (não estou a falar da série que vai na quinquagésima temporada) mas sim de criminosos a sério: as forças policiais e escritores de policiais. A mente criminosa sempre me fascinou, talvez por isso mesmo quando comecei a ler, entre os meus favoritos estavam os contos de Sir Arthur Conan Doyle e Agatha Christie com o seu redondo detetive belga, Hercule Poirot. Nunca fui muito fã de Miss Marple mas também fui fã daqueles que estão do outro lado do espectro como Arsène Lupin, o primeiro, não o terceiro. Bom… do terceiro também… Devido a este meu gosto antigo, jogos como The Raven Remastered (The Raven) sempre foram do meu agrado, sendo este uma espécie de colectânea de melhores momentos de policiais da literatura.

O facto de em muitas circunstâncias parecer uma colectânea best of, The Raven consegue surpreender o jogador em várias instâncias, mas infelizmente também falha noutras, sendo um bom jogo, mas longe de perfeito.

Esta versão graficamente, e pouco mais, remasterizada do original de 2013 é uma obra dos mesmos criadores de grandes aventuras point and click como The Book of Unwritten Tales, conta com uma boa história, diálogos e puzzles que já nos deixaram habituados. Com uma vertente menos cómica que algumas das suas outras obras a KING Art cuidou de todos os pormenores para que não existissem falhas de enredo, algo muito usual em policiais. Olhando com atenção, esta compilação dos 3 capítulos originais, parecem mais um policial escrito como uma homenagem a Agatha Christie (até conta com uma personagem quase idêntica a ela) no qual foram colocadas mecânicas de jogo.

Cabe-nos descobrir o mistério do Rubi roubado do British Museum aparentemente pelo titular The Raven, o mestre ladrão que supostamente foi morto por um Inspector da Scotland Yard alguns anos antes. Tomando controlo de Anton Zellner, um policia suíço muito semelhante a Hercule Poirot investigamos todos os possíveis suspeitos de estarem ligados ao roubo numa viagem até Veneza a bordo do Expresso do Oriente, viagem essa que nos levará depois a um cruzeiro até ao Egipto e à cidade de Cairo. Se todos estes locais parecem familiares, então o que dizer dos personagens tipo que encontramos aqui? O médico misterioso e a femme-fatale? A nobre escondida na sua cabine, e o músico pobre que tenta aproveitar-se de mulheres ricas? Ou a escritora de policiais retirada, acompanhada da sua assistente solteira e do seu filho? Todos estes clichés são de revirar os olhos ao pensar neles, mas felizmente nas mãos e mentes talentosas da equipa de escrita da KING Art, enfrentamos alguns twists e volte face inesperados que dão bastante interesse ao enredo.

Ao longo do jogo controlamos outros personagens, revisitando alguns locais noutra perspectiva, na tentativa de resolução de um mistério que não revelarei mais para não estragar as surpresas ou o prazer de resolução a quem quiser jogar.

The Raven Remastered, está disponível grátis para quem comprou os originais, e é uma compra acertada para fãs de policiais de Agatha Christie. Com uma história coesa e bons argumentos habituais dos seus criadores que nos fazem olhar para o lado quando enfrentamos algumas das suas falhas mecânicas.