Antes de mergulharmos num dos mais surpreendentes takes num género tão estático, peço-vos para relerem o nome do jogo. Prom, como em “Festa de Finalistas”, e não Porn, ainda que Monster Porn seja algo que de certeza alguns alemães já filmaram de forma amadora com o telemóvel e fizeram upload para sites de pornografia. Não pesquisei isso, mas se o fizerem confirmem-me se o meu amigo que me disse que existiam tinha razão ou não.

Monster Prom é um dating sim com um grande twist que é o facto de ser multiplayer, mas mais ainda, o facto de ser competitivo. Mas já lá vamos. Como dizia no primeiro parágrafo os dating sims (esse subgénero que me foi apresentado pelo Leonel) têm um público muito dirigido, maioritariamente constituído por otakus, e que acho que tem nos gostos ocidentais uma certa proximidade com fãs de aventuras-gráficas como eu.

O conceito destes jogos é simples: estabelecer uma série de relações com personagens em que as nossas escolhas nos aproximam ou afastam da sua preferência, tendo, ou não, estatísticas à la RPG disponíveis. Acho que o primeiro jogo do género (com ligeiras diferenças) que joguei foi o Long Live the Queen, no qual tínhamos de aprender a ser princesas para podermos um dia reinar com sucesso. Sim, esta é uma frase que dificilmente imaginaria um dia dizer, mas o mundo dos jogos é mesmo assim. Também nunca sonhei ser uma árvore, mas já escrevi sobre a experiência. Long Live the Queen tinha o condão de nos matar se as nossas escolhas (em conivência com as nossas estatísticas) dessem para o torto, e lembro-me de pelo menos uma vez ter morrido por cair do cavalo numa aula de equitação. Nem precisei de ser uma super-mulher para isso.

Monster Prom tem esse condão e demonstra-o bem na sua própria conclusão. Neste liceu de monstros, a falha de não conseguir engatar alguém para o Baile de Finalistas é o equivalente à morte, ao insucesso, e em casos piores a perceber que pertence à comissão de honra de uma eleição do Santana Lopes. O número de “turnos” que equivalem a eventos semanais até ao ponto final que é o próprio Monster Prom serve como limitação mecânica e fim da linha de cada playthrough.

A minha primeira experiência foi em single player e não fui bem sucedido. O meu personagem, a quem simpaticamente apelidei de Darky Darko por ser um adolescente criatura das sombras, não conseguiu seduzir eficazmente a medusa local, a capitalista Vera, que acabou por lhe dar uma valente barra e conduzi-lo a uma vida de desgraça e infortúnios.

Existe um questionário inicial que ajuda a criar os stats do nosso personagem e de seguida temos de nos ir adaptando aos eventos que surgem. No meu caso apontei baterias à tal Vera, e tentei direccionar as minhas escolhas para o que a faria cair nos meus encantos. Cada dia é dividido entre escolhermos uma das localizações do Monster High (lembrei-me a meio do episódio o nome das excelentes bonecas e bonecos que criaram esta tendência de adolescentes monstros), sendo que cada localização nos sobe um valor de stats específico (ou 2, se tivermos sorte). Aí activamos um evento (usualmente com o nosso love interest) e ao qual teremos de dar uma resposta que nos aproximará ou afastará dele ou dela. O segundo evento que acontece e que é dissociado das nossas escolhas acontece com algo fora do campus e que nos coloca também a interagir com o elenco e que influenciará a nossa popularidade e mais uma vez, estatísticas pessoais. Nessa primeira playthrough em single player acabei por ficar sozinho (como já disse) mas percebi que existem 22 finais possíveis, mais de 350 eventos possíveis e quase 2000 interacções distintas que necessitam da nossa resposta.

Mas afinal como é que um dating sim funciona em multiplayer?

A segunda playthrough foi multi-jogador (Monster Prom permite até 4 jogadores, local ou online) e decidi jogar contra mim mesmo a jogar com dois personagens diferentes. Isto parece triste à primeira vista, e é o verdadeiro momento forever alone, mas serviu na perfeição para compreender afinal como é que se pega num género tradicionalmente single player e se transforma em algo para vários jogadores, e para além do mais competitivo.

A forma que os developers encontraram para colocar pequenos truques mecânicos para tornar Monster Prom em algo competitivo é verdadeiramente delicioso: ferramentas simples mas elegantes de como subtilmente tornar a coisa plausível. O primeiro passo é encararmos cada turno como isso mesmo, e as possibilidades que temos ao jogarmos antes dos nossos adversários de os prejudicarmos ou de nos anteciparmos. Imaginem que dois jogadores estão a “lutar” pelo mesmo pretendente. O primeiro que conseguir escolher interagir com esse personagem impede automaticamente o outro de também o fazer no mesmo dia.

A segunda forma de criar competitividade é semelhante à primeira e remete para as escolhas das áreas do liceu onde passamos o dia e que stats necessitamos de melhorar. É-nos possível impossibilitar o acesso a uma determinada área que sabemos que o adversário necessita para subir um stat específico, e depois de perceber o quão “exigentes” os nossos pretendentes são a impossibilidade de “crescer” um stat num turno é um atraso penalizador o suficiente.

A terceira, e última, é um momento maquiavélico delicioso. A uma certa altura os pretendentes dos nossos adversários podem despoletar eventos connosco, questionando-nos sobre algo muito específico. A nossa resposta pode prejudicar e muito o “afecto” da personagem para com os nossos adversários.

A decisão da ordem dos turnos passa por debates entre os jogadores para ver quem deu a melhor resposta às loucas perguntas que o jogo coloca. Em caso de empate basta carregar no botão de desempate e o jogo decide por nós. E não demoramos a perceber que como em muitas coisas na vida, o primeiro a escolher é aquele que escolhe melhor.

Uma das surpresas do ano

Sem sombra de dúvida que Monster Prom me apanhou completamente de surpresa com a forma inteligente como criou algo verdadeiramente novo a partir de um género (dito) estático. Com uma escrita brilhante repleta de um humor mordaz, e uma direcção artística que traz excelentes ilustrações que abrilhantam todas as variações que aqui acontecem, este é um dos óbvios candidatos a party game do ano, especialmente por conseguir criar algo tão divertido, inovador e surpreendente. Coisa que muito poucos jogos podem-se orgulhar de conseguir nos dias de hoje.