Caçada Semanal #157

Cada vez mais é impossível fugir da Realidade Virtual. Eu sei que esta frase soa a uma linha retirada de um conto sci-fi com um vórtex de VR a sugar toda a Realidade para dentro de si, mas é afinal uma consideração do que tem sido o mercado desde o início de 2017.

É exactamente nesse ambiente que vamos viajar em 4 indies dedicados ao VR nesta 157ª Caçada Semanal.

ARK Park

Pela primeira vez nestes anos a fazer Caçadas vou não só incluir um jogo que não recomendo neste momento, como até abro as portas do artigo com ele. Todos conhecemos o sucesso de ARK: Survival Evolved, e nós até há pouco tempo falámos dele. Desde muito cedo que o público pedia aos developers que lhes dessem uma versão VR do jogo, e depois de tanto tardarem em implementar isso no jogo principal, e porque o dinheiro, mesmo que jurássico, fala mais alto, decidiram criar um spinoff chamado ARK Park.

ARK Park é um wave shooter terrível, numa versão travestida do jogo original que nos obriga a recolher materiais e a fazer crafting como se fosse 2016. Com controlos terríveis tanto na versão PSVR como em Steam, num loop repetitivo e vazio de conteúdo.

Mas…

Eu aconselho-o condicionalmente no futuro se dois factores forem cumpridos. O primeiro é tornar-se gratuito (ou quase) e a segunda é que o usufruam como uma espécie de visita virtual a um sucedâneo do Jurassic Park, sem dar grande atenção à componente de shooting. Como exploração e “convivência” com dinossauros virtuais é uma óptima experiência mas apenas dessa forma. Tudo o resto é uma afronta pelos 39,99€ que pedem por ele.

Vroom Kaboom

Não é difícil de perceber que à boca pequena exista quem fale deste jogo como um Clash Royale com veículos. Vroom Kaboom é tão caótico e tão diferente de qualquer coisa que já jogámos que a beta fechada para imprensa recente deixou-nos com água na boca para este tower rush filho do Mad Max e de Twisted Metal.

Em Vroom Kaboom o objectivo é simples: destruir o tanque de gasóleo do inimigo que se encontra na extremidade oposta ao nosso, separados por uma estrada. Para lá chegarmos temos de utilizar as cartas (veículos) do nosso baralho pré-organizado, controlando-os no terreno e tentando chegar o mais perto de possível de causar estragos ao inimigo.

Pelo caminho vamos apanhando bombas e gasolina, que serve aqui de energia para invocarmos os veículos na estrada.

Imaginem um Clash Royale no deserto australiano em que as unidades são veículos armadilhados e que têm de conduzir vocês mesmos até destruírem as bases dos inimigos, protegendo as vossas no caminho. É isto que Vrooom Kaboom nos trará quando for lançado, acredito que em free-to-play e com suporte VR em premium. O que o torna obrigatório para quem tem um dispositivo do género a apanhar pó em casa.

Throw Anything

Nem por acaso, ainda este fim-de-semana numa visita ao Palácio Nacional de Queluz se falou dos hábitos sanitários do Séc. XVIII de se atirar dejectos pela janela, num “água vai!” que se tornou mítico nas aulas de História do liceu.

Throw Anything não nos pede para sobreviver a um apocalipse zombie por atirarmos urina ou fezes a mortos-vivos (até porque acredito que fosse muito pouco eficaz), mas ao contrário de tantos outros shooters de zombies, especialmente em VR, a nossa arma de defesa é… qualquer coisa que tenhamos à mão.

Este conceito funciona em consonância com a abordagem cartoonizada de Throw Anything, um jogo que não se leva a sério, e ainda bem. Com níveis e cenários diferentes com distinto manancial de objectos para atirar às hordas de zombies, este jogo é uma das apostas mais saudavelmente tresloucadas do mercado VR.

HeadON!

Das muitas vezes em que fui obrigado a jogar futebol (sendo que 90% foram em aulas de Educação Física) não me lembro de uma única vez ter cabeceado uma bola. Desde os 13 que cuido diariamente de uma poupa com gel (e no liceu com laca), e não era com medo de desmanchar o penteado com o embate da bola. É mesmo o facto de ser um valente medricas (chicken, em inglês) e ter sempre medo de me magoar na cabeça com o remate.

HeadON!, em Early Access no Steam, é a resposta VR a quem, como eu, tem medo de cabecear uma bola. Convenhamos, todos os paquicefalossaurídeos foram dotados pela evolução com um crânio revestido para cabecearem coisas (e para se cabecearem entre si). Cabecear bolas em Realidade Virtual é coisa que eu até quero fazer, ainda que ache os 14,99€ pedidos por este jogo um pouco excessivo.

A “Taxa de VR” parece ter levado a melhor sobre o bom-senso. Como mini-jogo que é acho que HeadON! é aconselhável mas num preço mais baixo. Por outro lado o risco de magoarem a cabeça com bolas virtuais é virtualmente… zero.

(E de repente fiquei com saudades do Mário Jardel).