Entre 1994 e 1996 Shaquille O’Neal era rei e senhor de Orlando, Flórida. Tinha conseguido levar a equipa da cidade pela primeira vez aos playoffs da NBA e estava a subir a escada do estrelato para posteriormente ir para os LA Lakers onde foi triunfante a nível nacional e internacional. Fora dos campos de basquetebol a sua reputação é menos memorável, desde filmes como Blue Chips ou Kazaam e até uma das primeiras tentativas da DC de usar as suas propriedades no cinema com Steel, nunca conseguiu fazer a transição para o pequeno ou grande ecrã. A sua fama deu-lhe a oportunidade de ser a figura num jogo de vídeo de 1995, Shaq Fu, considerado ainda hoje dos piores jogos de todos os tempos. Mesmo pelos seus fãs.

Vinte e quatro anos mais tarde, e após todos os problemas que aconteceram com a versão de NBA Playgrounds para a Switch, a Mad Dog finalmente disponibilizou de forma gratuita (até dia 5/7/2018) Shaq Fu: A Legend Reborn para quem, como eu, comprou o jogo da NBA na sua fase inicial e passou meses até ter as falhas corrigidas. Para quem não tem essa “benesse” o jogo já está disponível para compra em várias plataformas por €19.99.

Posso dizer já com toda a sinceridade que A Legend Reborn é melhor que o Shaq Fu original de tal maneira melhor que para mim esse nunca existiu, e este remake é o definitivo e único jogo com esse nome. Não é um remake ao nível de The Fly, Ocean’s Eleven, The Thing ou Heat que superam os filmes originais a um nível quase incalculável mas é o suficiente para fazer com que o original seja esquecido, mesmo que tenha constantes piadas ao mesmo.

Não vou tecer mais elogios a Shaq Fu do que ele merece, não é um grande jogo, não é genial nem inovador, é só decente. Faz o que um Beat’em up arcade deve fazer, mas se não tivesse o peso de ser um remake/reboot do fracasso original e a figura ainda icónica de Shaquille O’Neal era apenas mais um a ser lançado este mês.

Pode parecer que não, mas ter a imagem e também o voice acting de um dos mais históricos jogadores de basquete de sempre ajuda bastante.

Mecanicamente é simples, avançamos por cenários sidescrolling dando porrada em tudo o que mexe e algumas coisas paradas. Os ataques são simples e as combinações também, mesmo os ataques especiais, quase sempre evocando os pés enormes do protagonista, conseguem ser eficazes mas nada mais que isso. Os bosses não são complicados de derrotar após perceber o seu esquema e fraquezas. No fundo não é mais que um beat’em up dos anos 90, somente é feito hoje com uma qualidade gráfica mais evoluída, em particular na profundidade ilusória dos cenários.

Seria um óptimo jogo para a Nintendo 3DS se isso ainda fosse algo a investir.

O aspecto visual é o meu favorito de Shaq Fu, o cuidado gráfico é considerável e tenho que dar os parabéns ao pequeno estúdio Big Deez Productions pelo que conseguiram fazer tanto na construção de cenários como na de personagens sem esquecer a fluidez da acção e alguns actions shots onde a qualidade é superior ao que estava à espera.

Melhor ainda é animação dos pequenos vídeos que vão contando o enredo do jogo, mesmo que muitas vezes sejam estragados por piadas secas. Se os videojogos não derem resultado os membros do estúdio podem muito bem pensar em trabalhar em animação.

Shaq Fu tem imenso humor, infelizmente para mim é humor juvenil. Claro que isso pode ser visto como uma homenagem ao original pois a maior parte dos jogadores que apoiaram este projecto nas plataformas de crowdfunding provavelmente eram adolescentes em 94/5, tal como eu. Mas o humor da cueca, como eu lhe chamo, é algo que também me ficou ali nos tempos em que os Venga Boys vendiam álbuns e se gritava “Oh Elsa!” por festivais e outros sítios. Não sendo geniais e pecando pela repetitividade há algumas piadas que me fizeram soltar um pequeno riso.

Shaq Fu: A Legend Reborn é o jogo que os fãs esperavam originalmente, infelizmente vem quase um quarto de século atrasado, hoje é apenas mediano. Vale a pena em saldos ou se puderem aproveitar a cópia grátis na Switch. Talvez mediano seja cruel demais, vá, é bonzinho.

Conhecimento virtualmente inútil:

  • Num pequeno regresso às minhas raízes de estudos linguísticos: Shaquille pronuncia-se com ênfase no final (CHApéu) + (aQUILo) já a abreviatura é com ênfase na única vogal (Xeque). Fu é mesmo só Fu.
  • O’Neal mede 2.16 cm e calça um tamanho 22 americano, não há equivalente europeu na escala, que vai só até ao 15 americano, 47 europeu.
  • Em 1993 foi considerado o Rookie do ano na NBA e alinhou na equipa inicial do All-Star Game. O último Rookie a fazer isso tinha sido um tal de Michael Jordan em 1985.
  • Os seus “afundanços” eram tão fortes que após a sua época inicial a NBA teve que reforçar os postes e suportes dos cestos.
  • Em toda a sua carreira tentou fazer 22 lançamentos de 3 pontos. Acertou 1.
  • Tem um álbum rap platinado Shaq Diesel, noutros álbuns e músicas conta entre outros com um dueto com Michael Jackson. 
  • Não sabe Kung Fu ou qualquer outra arte marcial
  • Entre outros, protagonizou em filme, um jogador de basquete, um génio da lampada, um substituto de Superman quando a DC decidiu matá-lo durante uns tempos.