Caçada Semanal #165

Para muita gente em Portugal há um conjunto de referências que os lembram automaticamente o Natal, e duas delas são a Julie Andrews e o Macaulay Kulkin. Ver a histórica actriz inglesa a cantar e a dançar pelos montes de Salzburgo para mim vale cerca de 7,5 Natais a mais do que olhar para o S. Nicolau na Escala Natalícia de Ricardo Correia. 

Anda comigo ver o Natal dos Hospitais.

Depois de uma década de sobre-exposição de jogos de música e de ritmo, a tendência acalmou, muito por culpa da saturação e da repetição desses mesmos jogos. Mas têm sido criadores indie a levar os jogos musicais mais longe, e a trazerem excelentes e frescas ideias para a mesa.

Estes 2 jogos que se seguem são apenas dois desses excelentes exemplos.

Floor Kids

Lembram-se como é que muitos dos problemas nos filmes de Hollywood dos anos 1980 e 1990 eram resolvidos? Para além dos muitos e óbvios casos em que era ao murro e ao pontapé? Dance offs, que deveria ser a forma utilizada no nosso mundo para resolver problemas geopolíticos.

E se a imagem de pensarem no Trump e no Jong-Un a “twearkar” no meio da estrada não vos enoja e vos faz rir ao mesmo tempo, então não sei o que se passa convosco.

Pois bem, os 1990s foram o epitome dos filmes com dance offs e para a mente mais impressionável havia um convencimento de que tudo poderia ser resolvido dessa forma. Assalto a um banco? Vamos a um dance off. Problemas com a última entrega do IRS? Vamos a um dance off. Teste surpresa de uma cadeira da Faculdade? Vamos a um dance off.

É disto que fala Floor Kids, um divertido e diferente rythm game desenvolvido pelo estúdio MERJ Media. Mas se quase duas décadas de jogos de dança nos fazem logo pensar em pessoal aos pulos em tapetes coloridos, Floor Kids tem o seu foco central no breakdance e em toda a cultura que rodeia os breakers.

Sendo um jogo dedicado a breakers, não existe uma lista de passos para seguir, muito pelo contrário. O objectivo é incentivar o freestyling, em que vamos ganhando pontos pela nossa originalidade e adequação dos movimentos à musicalidade que está por trás. Temos um acervo de movimentos à disposição, e a forma como os encadeamos é apenas decisão nossa. Tal como acontecia em jogos como SSX e Tony Hawk’s Pro Skater em que os movimentos e acrobacias são espontâneas, e era o seu encadeamento que nos aumentava a classificação na tabela classificativa.

Visualmente é adorável, e foi a genial a forma como associaram a estética do graffiti e da linguagem visual “da rua” a um jogo de breakdance, tornando-se não só coeso mas extremamente divertido. Floor Kids é um dos jogos de dança mais originais que já tivemos a oportunidade de jogar, e que podem encontra tanto no PC como na Switch.

Just Shapes & Beats

Algo interessante de ver no mercado indie é a forma como muitos dos game devs pegam em alguns géneros e jogos clássicos e lhe dão a volta e criam novos segmentos ainda não explorados. As boas ideias que têm surgido entre juntar music/rhythm games com shmups/bullet hells tem criado ideias interessantíssimas para os dois géneros.

Mas há alguns criadores que foram mais longe, pegando nessas fusões e criando um novo género que pega na grande componente de nos termos de desviar de tudo o que surge no ecrã e fazendo disso a espinha dorsal de alguns jogos.

Just Shapes & Beats é um desses dodge’em ups onde não temos tiros mas temos de ritmicamente ir fugindo de tudo o que nos viaja pelo ecrã e nos pode destruir. Aqui somos um simples quadrado que em cada nível tem de se reencontrar com um triângulo. Uma tarefa que parece fácil não fossem os múltiplos elementos que vão surgindo ao ritmo da música e que compõem este jogo como uma excelente e distinta experiência de videojogo musical.

Lançado simultaneamente para PC e Switch, este verdadeiro exercício de abstracção musical leva-nos para ideias simples como Vib Ribon, onde a dificuldade das faixas iam determinando a acessibilidade e desafio de cada nível. Just Shapes & Beats vai progressivamente ficando mais difícil e diria até que a sua possibilidade de multiplayer até 4 jogadores só ajuda a adensar a cacofonia deste ambiente abstracto.

Just Shapes & Beats é um excelente jogo musical dentro das ideias de dodge’em ups com boss fights e um modo de história estranhamente envolvente para um jogo composto unicamente por formas. Um dos mais coesos e originais jogos musicais deste ano, este título mostra o porquê de ser neste ambiente indie que as ideias diferentes vão surgindo.