Caçada Semanal #175

Há coisas que supomos conhecer de trás para a frente mas afinal ainda nos surpreendem. Um exemplo disso foi ter descoberto esta semana que a famosa música 99 Luftballons da cantora alemã Nena (tornada famosa no resto do mundo como 99 Red Balloons) é sobre um pós-ataque nuclear. Uma música de protesto que eu sempre dancei nas pistas como se fosse a coisa mais alegre do mundo e uma das demonstrações de que por vezes cantamos músicas sem estar realmente a prestar atenção à letra sem ser no refrão.

Que o digam todos os casais de namorados que se dedicam mutuamente a música Não Voltarei a Ser Fiel em bares de karaoke.

Nesta caçada temos três indies de géneros diferentes que nos surpreenderam e que provaram ser bem mais do que aquilo que esperávamos à primeira vista.

Sky Noon

É possível errar-se na mistura entre steampunk e western? Sky Noon aparece logo e diz-nos que não.

Lançado recentemente em Early Access, este multiplayer FPS brawler tem uma abordagem tão única aos jogos de arena que só com grande falta de talento é que o resultado (ainda work-in-progress) não seria um dos títulos mais descontraidamente divertidos a agraciar o mercado indie do Steam.

Os developers chama-lhe knockout shooter e é possível que essa seja a melhor forma de o definir. Em Sky Noon habitamos um cenário típico de western mas que existe em pequenas ilhas flutuantes, em que os nossos duelos implicam tentar atirar os nossos adversários borda-fora com tiros das diferentes armas de pressão de ar.

A diversidade de armamento é algo que acaba por tornar delicioso cada minuto em Sky Noon, especialmente porque a direcção artística deste jogo é sólida e cria uma identidade muito única para cada objecto e para cada personagem.

Com um jogo tão divertido, o calcanhar de Aquiles de Sky Noon, como em muitos dos jogos que dependem da experiência online, é a sua potencial falta de jogadores.

NITE Team 4

Se há géneros de nicho, a simulação de hacking é um deles. NITE Team 4 é o mais recente jogo deste tipo que tem colocado as atenções de muitos jogadores sobre si, distanciando-se de jogos bem mais simples.

O primeiro factor de diferenciação é a sua tentativa de criar um jogo MMO de hacking, baseado num MMORPG subvalorizado, The Secret World, interligando a linguagem desse jogo com aquilo que poderia ser o “realismo” do hacking.

Esse realismo leva até aos seus criadores a o definirem como uma plataforma virtual de hacking baseados em exemplos reais de cibersegurança. E eu que não percebo nada de código tenho de vos dizer que não só as primeiras fases de cada missão que envolvem hacking puro só as consigo passar com ajuda da AI/tutorial que está sempre pronta a ajudar-nos com a sintaxe do código. Mas quando consigo:

Depois de “batermos código” ao estilo de Mr. Robot para obtermos informações de vulnerabilidades dos nossos alvos e de efectivamente os hackarmos, entramos numa nova fase onde temos de controlar tacticamente uma equipa no terrena que terá de deitar abaixo os sistemas com ataques de precisão. NITE Team 4 mistura assim uma componente de simulação de hacking com outra de tactical strategy com unidades num mapa. E para quem não percebe nada de código como eu (como já tinha dito) tudo isto parece assustadoramente real. De certeza que não estamos mesmo a invadir a cibersegurança de ninguém?

999

Não sei se os developers de 999 pensaram nisto, mas escolher simplesmente “999” como título é coisa para baixar vendas apenas pela fraca procura no Google. Experimentem pesquisar “999” ou “999 game” e vejam se não vão dar apenas ao magnífico jogo ligado aos Nonary Games?

Mas voltando aqui a este 999, um simpático e simples puzzle platformer que nos obriga a ultrapassar os 999 níveis, usando apenas 999 vidas para apanhar 999 estrelas. 999 esquece as habituais mecânicas de salto e substitui-as por sistemas de fisga e Física como nos habituámos em Angry Birds, e isso é suficiente para criar uma diferenciação de tantos outros jogos do género.

A única parte injusta é que é fácil perceber que alguns níveis foram criados de forma sádica para percamos muitas das nossas limitadas vidas lá, em desafios que por vezes roçam o injusto quando comparados com outros níveis que o antecedem e precedem.

Não sei se existe algum prémio para quem terminar os 999 níveis, ou se ao fazerem-no descobrem o sentido da vida, mas da nossa parte jogámos apenas algumas dezenas dos quase mil desafios que tínhamos pela frente.