As temperaturas baixam. O termómetro desce do zero em algumas zonas do país. Corre-se em busca de agasalhos, gorros, cachecóis (recuso-me a usar a abominação do “cascol” ou “cascóis” que alguns fazem por cultivar, sendo que a palavra cachecol vem do francês cache-col e a outra deve ter sido retirada das paredes grafitadas de uma casa de banho pública) e, claro, luvas.

Ora dê-me lá uma mãozinha

Mas nem todos querem a luva de lã ou de pele, com a preocupação térmica na origem da sua concepção. Outros há que usam luvas precisamente nas alturas em que estão a “botar calor”, que é como quem diz, a correr.

Se por aqui não analisamos o Dakar 18, não deixa de ser um facto que o jogo de corridas a reconstituir a prova de Rally Raid de 2018 tem sido algo em que tenho trabalhado ao longo dos últimos tempos. E se há coisa que tenho feito, é jogado o jogo. Para o avaliar internamente e para colaborar com o QA, certo é que tenho passado largas horas agarrado às teclas, aos comandos e aos volantes saltando pelas dunas do Peru, contornando as montanhas na Bolívia ou perdendo-me nas pampas Argentinas. E, se para uma abordagem casual à coisa, as teclas ou os comandos vão servindo, para usufruir verdadeiramente do jogo e fazer do trabalho um prazer, é agarrado aos volantes que me vão encontrando, com mais ou menos acessórios. E têm sido muitos, de várias marcas e preços aqueles que me vão, literalmente, passando pelas mãos. Ora, para quem não sabe, o Dakar tem etapas que são verdadeiras maratonas e o jogo procura reproduzir isso, pelo que, não raras vezes, passo mais de uma hora e meia a debater-me com o volante, a tentar encontrar o caminho até ao próximo marco no roadbook.

Não reproduzo aqui, por delicadeza, as fotografias de alguns dos meus amigos e colegas de trabalho que mostram as sequelas de várias horas perdidos nas dunas e matagais de Dakar 18, mas as bolhas existem. E as queimaduras por fricção também, que andar aos saltos no meio de nenhures faz o volante saltar também. A solução? Luvas!

Permitam-me aqui fazer um parêntesis. Antes de trabalhar no projecto do Dakar 18, a verdade é que jogos de carros não eram o meu forte. Desde o velhinho Indianapolis 500, de 1989, que me agarrava longas horas ao ecrã de um dos meus primeiros PCs, passando pelo Test Drive, de 1987 mas que conheci depois, poucos jogos de carros me agarraram. Carmageddon, de 1997, foi um deles, mas desde então, o meu interesse em jogos de carros e corridas esvaiu-se, sendo recentemente reavivado com dois títulos: Horizon Chase Turbo e Dakar 18. Um volante, um kit de pedais, uma caixa de velocidades e um travão de mão não faziam então parte do meu aparato lá em casa. E, naturalmente, luvas muito menos. Não era coisa que me passasse pela cabeça usar, algum dia. Assim, quando me falaram numas…

Lu.. quê?

No entanto, quer pelo meu crescente convívio com comunidades de adeptos de racing games, como pelos meus pobres nós dos dedos, acabei por ceder e experimentar estas Sparco. A frase “assentam-me como uma luva” encaixa aqui perfeitamente. Do zero à utilização obrigatória, o salto foi rápido e intuitivo. As luvas Hypergrip são confortáveis, sem aquecer em demasia as mãos, e proporcionam uma aderência extra ao volante sem retirar aquela sensação de proximidade com o force feedback do mesmo. A palma da mão está revestida com zonas acolchoadas, com a face exterior em pele, cobrindo uma base em micro-fibra elástica que permite à mão respirar. Aquilo que, à vista destreinada, aparenta ser um defeito de fabrico, é afinal, nas pontas do polegar e indicador, um inteligente desenho em tecido próprio que permite a utilização de ecrãs tácteis sem remover as luvas ou, em alternativa, a remoção parcial apenas desse bocado de luva, deixando as pontas desses dedos a descoberto, para manuseamentos de teclas e operações mais delicadas. Parece coisa pouca, mas quando estamos a meio de uma sessão de jogo e temos uma chamada ou queremos configurar algo no PC, o que parecia meio gimmick torna-se verdadeiramente útil.

Dois dedos com calorO preço não será para todos, acredito. Mas nestas questões de acessórios gaming e, especificamente, dentro dos acessórios de racing, a variação de preços e qualidades é muitíssimo elevada. Haverá volantes a custar menos que estas luvas, é certo. Mas também há volantes e kits de condução completos a custar vários milhares de Euros. Foi, aliás, tema de algumas conversas com fãs de racing games. Custava-me a entender o porquê de alguém gastar mil, dois mil, três mil euros numa estação de jogo, muitas vezes sem contar com o preço do PC e do ou dos monitores. Mas há, em muitos jogadores destas comunidades, uma verdadeira paixão pelo género. Há procissões semanais a autódromos virtuais um pouco por todo o país, para conviver, beber uns canecos e competir em jogos de corridas. E aí, assistimos à verdadeira componente RPG escondida em muitos jogos de corridas, quando, além de percorrermos as pistas ou trajectos no mais curto espaço de tempo possível, encarnamos a personagem de um piloto e queremos sentir e experienciar aquilo que um piloto de verdade sente, sem gastar os muitos milhares que se gastariam para enveredar numa prova na vida real. Os videojogos também são isto. E, para esses fãs hardcore de jogos racing, umas luvas como estas parecem-me verdadeiramente obrigatórias.

A aguardar que o Prof. Marcelo me ligue… estou pronto para atender!