A Era de Ouro dos RTS já lá vai. Apesar das modas – como dizem – serem cíclicas, não vejo num futuro próximo o género a voltar a ter a importância e a hegemonia que teve outrora. Até a minha série de estratégia favorita já viu melhores dias, sendo apenas relegada a um mero esqueleto ridículo de um jogo mobile sem qualquer piada.

Posto isto, e tendo em vista todos aqueles que como eu passaram grande parte dos anos 1990 a arriscar sérias tendinites com sessões prolongadas de cliques intensos em jogos de estratégia, vão surgindo alguns jogos indie (e até alguns AA) que vão aplacando esta sede por RTS, sendo que infelizmente, na grande maioria das vezes, acabamos por beber copos de água salgada.

É um pouco o caso de Bannermen, lançado há algumas semanas pelo estúdio Pathos Interactive. Um RTS medieval que prometia trazer todos os elementos que nos fizeram ficar noites sem pregar olho a passar missões desafiantes nas grandes séries dos 1990s. Mas, por muito que me custe admiti-lo, falha redondamente.

O grande problema não é a fidelidade ao género ou o tremendo sentido de familiaridade, muito pelo contrário. Bannermen parece estar a desenhar seguindo os números dos grandes RTS que fizeram História. Cada missão ou escaramuça têm uma linha perfeitamente clássica: recolher recursos, treinar unidades, derrotar o exército adversário. Por aqui estamos bem, até porque dificilmente um RTS eminentemente bélico conseguiria fugir muito destas balizas.

Na realidade o grande problema é mesmo o facto de Bannermen não estar apenas a seguir as linhas orientadoras do género, mas de se encerrar dentro delas com uma espécie de mínimos olímpicos suficientes para concretizar algo que se possa chamar verdadeiramente de RTS.

O modo de história é decalcado dos clichés das histórias medievais: um adversário que consegue usurpar o trono e que nos obriga a reorganizar e preparar um contra-ataque. Mas visto que existe apenas uma facção em todo o jogo, na prática vamos estar incessantemente a combater com unidades iguais às do adversário, não só em modo single player como em multiplayer.

Bannermen é o equivalente em RTS do treino de sombra de um pugilista, com a diferença que este serve para preparação para enfrentar inimigos diferentes conhecendo bem o nosso próprio corpo, e no caso deste jogo da Pathos Interactive é apenas sintoma de uma falta tremenda de conteúdo. Nem a adição nos poderes da Natureza, acessíveis pelo controlo de altares salva a honra do convento, apesar de conferir uma ligeira profundidade que este base builder RTS teima em não conseguir atingir.

Nem a existência de heróis vem salvar um panorama desolado como este. É ainda mais grave quando pensamos que nos últimos 20 e muitos anos praticamente todos os RTS, dos mais conhecidos aos mais obscuros, fizeram um esforço para incluir pelo menos duas facções, diversificando assim o “sabor” do combate. Mas Bannermen não. De alguma forma sentiu que fazer um jogo de estratégia com apenas uma facção era suficiente para colmatar todas as outras faltas de profundidade, que vão dos recursos (parcos dois existentes) à diversidade de unidades, que, relembremos, são sempre espelhadas pelo nosso adversário.

Torna-se ainda mais difícil tecer uma palavra de apoio a um jogo com esta falta de conteúdo (e consequente falta de longevidade) que está à venda por 29,99€. Só assim de cabeça consigo lembrar-me de pelo menos 15 RTS excelentes que custam bem mais do que isso e que significam um investimento bem mais sensato e valorizado do que Bannermen.

Talvez Bannermen tenha como público possível os mais empedernidos dos fãs dos RTS que por alguma obra do acaso e da multiplicação do espaço-tempo já tenham jogado a tudo o que há para jogar do género, mas provavelmente só a esses é que faz sentido comprá-lo. E aproveitamos para pedir desculpa se o título vos induziu em erro e pensaram que Bannermen era o equivalente qualitativo nos RTS do que o maravilhoso Kramer vs. Kramer é para o cinema. A explicação para utilizar a referência deve-se ao facto de existir apenas uma facção, e na prática, de termos hipoteticamente gente da mesma família em beligerância entre si. E assim de repente esta comparação quase que teve mais conteúdo do que aquilo que Bannermen tem para nos oferecer.