Há muito tempo (se calhar não assim há tanto mas parece ser noutra vida) eu refugiava-me muito nos jogos. Dava-me gosto jogar porque gosto de o fazer, mas os jogos também eram um local onde eu podia fugir de várias situações e sentimentos que queria evitar. Consegui superar tudo isso com umas mudanças sérias na minha vida, mas durante um largo período eu precisava de me esconder debaixo de outra(s) personalidade(s), e quanto mais imersivas e mais longas fossem as sessões de jogo, melhor para mim. Foi quando eu fiz a o The Witcher original pela segunda e terceira vez acumulando mais de 100h nessas duas voltas, foi quando eu treinei o Sporting de Braga, o Shalke 04, o Real Zaragoza e a AS Roma ganhando campeonatos nacionais e Champions Leagues com todos eles num total de 15 temporadas, foi quando fui Commander da Xcom em 3 campanhas de diferentes níveis de dificuldade, conquistei o mundo de várias maneiras diferentes em Civ V, mas também foi quando eu fui um herói e vilão da DC Comics (o que escolhia ser dependia da minha mentalidade nesse dia) no DC Universe Online. Passei muitas horas com os meus personagens que nem me lembro dos nomes. Mas lembro-me perfeitamente dos visuais e poderes deles porque seguindo as tendências comerciais do momento fiz-lhes um reboot pequeno ao visual dei-lhes uns nomes e histórias novas, dando-lhes uma nova vida agora na Nintendo Switch onde o jogo está disponível a custo zero (tirando extras habituais neste tipo de serviços) e sem necessidade de ter o Nintendo Online.

Este é o Professor Acksman. Vilão com poderes mágicos à lá Black Adam.

Em DC Universe Online temos a possibilidade de tentar ser o melhor ou o pior de nós próprios debaixo da tutela dos maiores pesos pesados do panteão da casa detida pela Warner Bros.. De um lado temos Superman, Batman e Wonder Woman. Do outro, encontramos Lex Luthor, Joker e Circe (à falta de uma vilã melhor para estar ao nível da membro feminina da chamada Trindade da DC). Estes mentores são escolhidos pela natureza que optamos para o nosso personagem, a sua base por assim dizer, se escolhermos uma natureza  sobre-humana ou mágica o nosso mentor será Superman, se escolhermos uma natureza de gadgets será o Batman, ou as suas contrapartes do lado dos vilões. Depois disso escolhemos os nossos poderes (limitado a 6 opções grátis e mais umas pagas em pacotes extra pagos individualmente ou com uma assinatura) as nossas armas e forma de combate assim como o visual do personagem conta com umas opções bastantes extensas e é fácil perder algum tempo a criar aquele(a) em quem vamos passar tantas horas. Porquê focar um parágrafo inteiro a algo tão básico no mundo dos MMORPG? Porque estamos a falar de personagens BD americanas onde tanto a natureza como os poderes e o visual são chave para o sucesso deles, às vezes muito mais que as histórias que os envolvem porque antes de terem grandes nomes a escrever e desenhá-los têm que ter algo para os colocar num patamar que compense ter esses talentos a trabalhar neles. Se DC Universe Online não tivesse uma boa capacidade de construção de personagens não teria sido tão aceite como foi pela comunidade nestes quase 10 anos de existência. Se os jogadores respeitam as regras de visuais de personagens ou não é com eles, desta vez optei por uns visuais mais clássicas mas nas suas versões originais à primeira vista o meu vilão parecia um herói e o meu herói tinha aspecto de vilão só para dar cabo dos conceitos.

Quem já jogou MMORPGs pode perguntar-se: Porque é que isto ia funcionar bem na Switch?

E vamos ser sinceros, é uma pergunta válida tendo em conta que estamos a falar de um jogo online numa consola portátil. Mas quando olhamos a fundo para DC Universe Online percebemos que não é um jogo como os outros, não é melhor, é só diferente.

Além de já ter uns anitos em cima, DC Universe Online foi lançado para PC e para a PS3 o que implica que os comandos já estão optimizados de raiz para funcionar num controlador e não precisaram de ser adaptados de teclado e rato. Controlamos o personagem como em qualquer outro jogo de acção. Não fosse o seu ambiente online com a capa da DC poderia ser um jogo como tantos outros que andam no mercado. Mas um dos maiores trunfos deste jogo é que não está desenhado para grandes sessões obrigatórias. Quem jogou WoW ou outros sabe que um raid e outras incursões podiam demorar umas 4 horas, na melhor das hipóteses, mas é raro encontrar uma missão aqui que nos obrigue a jogar mais que 1h ou 1h30. Podemos fazê-lo se quisermos encadeando missão atrás de missão mas não temos que o fazer. E acima de tudo podemos fazê-lo sozinhos. Não há necessidade de nos juntarmos a uma equipa porque o conteúdo a solo é imenso. Claro que jogar sozinho vai contra o conceito de um MMORPG mas às vezes apetece-nos apenas voar pelos céus de Metrópolis e bater em pequenos grupos de robots do Brainiac ou patrulhar as ruas de Gotham e fazer pequenas tarefas, a liberdade é enorme e é fácil de entrar no jogo, deixar que a capa nos envolva e simplesmente passar um bocado de tempo em diversão. Além disso quem quiser algo mais a fundo pode juntar-se em equipas, enfrentar inimigos e missões maiores e ser um personagem ao nível da Liga da Justiça.

Este é o Acksman. Vigilante em Gotham munido de um arco. Mistura entre Green Arrow e Deathstroke

E aqui está outra diferença grande que notei quando jogava DC Universe Online em relação a outros jogos foi que nunca senti necessidade de pagar por superioridade ou de fazer grinds aborrecidos para chegar a um certo nível. Tudo bem que se quiser uma capacidade semelhante às tropas Lanterna tenho que pagar mas não é obrigatório, é uma opção que os detentores do jogo nos dão em troca de um rendimento para eles. É no mínimo justo, mas o equilíbrio do jogo também é justo. DC Universe Online foi lançado recentemente na consola da Nintendo portanto não há aquele desnível de jogadores com anos de experiência e outros com um dia, já que não podemos trazer as nossas contas antigas para a Switch. Neste momento estamos quase todos no mesmo patamar, dependendo do tempo que podemos investir nele, porque apesar de ser um pouco diferente, continua a ser um jogo que requer um investimento de tempo. Contudo não é obrigatório abusar, como as várias missões e random encounters pelo caminho permitem uma progressão que podemos usufruir ao nosso gosto e ao encontrar algo acima do nosso nível podemos simplesmente vaguear um pouco e quase imperceptivelmente subir as nossas capacidades até ao nível de missões mais complicadas, e como o ambiente PvP é limitado a arenas, os problemas encontrados noutros jogos de trolls e grievers são muito limitados. Mas podem acontecer, estamos a falar de um ambiente online, não é? Num ecrã grande o jogo faz notar a sua idade mas no ecrã portátil funciona bastante bem.

E este é o Superman. Não é dos meus…

DC Universe Online é neste momento das melhores opções grátis para a Nintendo Switch, é um MMORPG que pode quase funcionar como uma entrada neste mundo que saiu de moda para as gerações mais recentes aproveitando a sua curva de aprendizagem e evolução suaves e às costas do sucesso que as franquias de super heróis estão a ter nesta altura em que tudo usa uma capa e máscara no cinema e TV. 

Tal como Justice League, DC Universe Online pode não ser o jogo da DC que queremos na Switch, nem sequer é o que merecemos, mas é o que jogo que temos neste momento.

Injustice e Injustice 2… isso é que era!