Atenção que o título não é literal

E não é porque como já muitas vezes referi eu sou um verdadeiro tronco de árvore a jogar à bola. Sempre fui o último a ser escolhido para jogar na escola, o que até nem me deixava grande tristeza, não fosse o facto de que a quase totalidade das raparigas da minha turma eram escolhidas antes de mim. Vicissitudes da vida diria eu.

Deixei de jogar jogos de futebol há muito tempo. Muito tempo mesmo. Para além de algumas incursões muito superficiais pelo FIFA 11 (acho eu), ainda nem tínhamos entrado no novo milénio na altura em que jogava jogos do género durante dezenas de horas sem largar.

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Como sabem também, este ano calhou-me a mim analisar os três jogos relacionados com futebol: PES 2016, este FIFA 16 e esta semana sairá o artigo sobre o FM 16. Algumas das considerações que fiz sobre o jogo da Konami ajustam-se ao FIFA 16, mas com uma pequena diferença: se senti originalmente (talvez por algumas saudades de jogar jogos de futebol) um grande vício com o PES 16, o que me aconteceu com FIFA 16 é completamente incomparável. Só parei de o jogar porque convenhamos: há mais jogos à serem lançados e sobre os quais tenho de escrever.

O FIFA está muito diferente de quando o joguei a sério, e não me refiro ao par de jogos que tive com a edição de 2011. Quando eu jogava FIFA ainda na década de 1990 o jogo era muito mais arcade do que é hoje, e parece que os (possíveis) dezasseis anos que me separam da série fizeram uma tremenda diferença. Há uma complexidade gigantesca no gigante da EA Sports, que elevou o jogo para um patamar diferente, para a simulação de futebol e de tudo o que gira em torno disso. Já não temos apenas campeonatos para jogar, ou jogos amigáveis, ou a Liga dos Campeões. Temos aqui a inclusão de questões de estratégia e gestão tangentes ao velhinho CM, ainda que muito mais superficial do que esse jogo como é óbvio.

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Muitos dos leitores estarão surpreendidos com as minhas conclusões iniciais com FIFA 16, mas relembro o meu espírito de tabula rasa com a série nas últimas quase duas décadas. Este não é o FIFA que eu joguei em 1999 na PlayStation, nem de perto nem de longe. É uma experiência infinitamente mais complexa, mais absorvente, mas igualmente menos acessível. Este salto gigantesco entre a abordagem mais arcade de há muitos anos atrás e esta vertente de simulação de futebol é completamente distinta. Um exemplo disso, à semelhança do que senti com o PES 2016, é a dificuldade que um novo jogador tem em conseguir obter a posse de bola. Idos estão os tempos da tackle ou da sliding tackle como forma de retirar a posse de bola. O FIFA 16 vive de uma série de cálculos de física, entre ímpeto, velocidade, aceleração e envergadura dos jogadores para percebermos no confronto corpo-a-corpo quem consegue ficar com a bola. Entre antecipar o drible do adversário, ou conseguir sobrepujá-lo se o nosso jogador for mais encorpado, há uma série de varáveis que transformam algo que era tão simples quanto carregar no X ou no Círculo, como algo bem mais difícil de masterizar.

FIFA 16, parece-me estar feito para os fãs da série. A complexificação dos controlos impedem-no de ser um jogo plug and play para um novato, ou uma fácil porta de entrada para o género.

Tinha experimentado o FIFA World na Gamescom 2014 mas acabei por deliciar-me com esse modo (ou o seu semelhante) dentro da série principal. É-me perfeitamente compreensível o porquê do apelo que o modo Ultimate Team consegue trazer para largos milhares de jogadores. Coleccionar, trocar, vender, ao bom estilo das nossas cadernetas de cromos de miúdos, numa dinâmica muitas vezes injusta para os pay-to-winners. Foi aliás o que me fez desistir rapidamente do modo: perceber – ainda que o sistema equivalesse os níveis de jogador – que muitos dos meus oponentes já tinham injectado algum dinheiro real no jogo. Se é justo? Sim, porque assim ditam, literalmente as regras do jogo. Se me agrada? Não, mas por outro lado olhei para o logo da EA a girar no ecrã e lembrei-me em que terreno pantanoso me movia. Estas microtansaçõees (que nas somas de pagamento disponíveis não são assim tão micro) incluídas num jogo com full-price é que é algo que magoa ideologicamente. Mas isso são linhas para outro artigo.

Uma das novidades deste FIFA 16 é a inclusão de equipas femininas. Não conheço a estatística, mas acredito que muitos dos jogadores tenham feito como eu: experimentar as equipas femininas e regressar para a sua equipa de futebol habitual. Ainda assim, com o crescente impacto que o futebol feminino tem tido na Europa é de salutar que a EA as tenhas incluído. E não em formato DLC pago. Ainda.

Visualmente, ao nível dos gráficos, animações e efeitos atmosféricos, há um abismo gigantesco entre o FIFA e o PES actuais. Se no artigo sobre o jogo da Konami eu falava de modelos tridimensionais genéricos, aqui no FIFA 16 não se pode dizer que todos os jogadores tenham sido esculpidos ao detalhe como o CR7, mas pelo menos não parecem placeholders de um programa de modelação 3D. FIFA 16 parece realmente estar na geração actual em todos os aspectos, e o visual – que é de longe a sensação mais primária que temos – é prova disso.

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Uma curiosidade que tenho deixado às pessoas que me rodeiam é a actualização quase ao segundo que a EA está a conduzir ao FIFA 16. Um exemplo prático disso aconteceu no primeiro jogo que disputei, exactamente na semana em que a novela do Carrillo se tornou mais evidente no meu Sporting. O que aconteceu foi que para a simulação do jogo (real) que o Sporting ia disputar no dia seguinte eu tinha o Carrillo e o Théo (que estava lesionado) indisponíveis. Uma atenção ao detalhe curiosa que me deixou bastante agradado.

Para alguém que andava há muitos anos afastado dos jogos de futebol, FIFA 16 parece-me o regresso quase perfeito. Um bom simulador de futebol, complexo, frustrante nos primeiros dias de jogo, com uma dificuldade de adentrar que era facilmente perceptível nas valentes “tareias” que recebia a jogar contra outros jogadores online, mas altamente viciante e recompensador ao sentirmos a nossa evolução enquanto jogadores.

Parece que continua a não ser este o ano em que o PES volta para a mó de cima.Diria eu. Mas eu percebo pouco de jogos de futebol.