Um divertimento sério e uma experiência de jogo intensa, escreve o IGN; a impressionante agilidade em combate combinada com as armas poderosas proporcionam competições explosivas, escreve o Gamespot; os conflitos são épicos, escreve a Edge; uma divertida e rápida experiência de pegar e jogar, escreve o Kotaku. E perguntam vocês já em pulgas, mas afinal qual é o jogo? Não é apenas um. Isto são passagens de análises feitas a vários jogos diferentes, retiradas de alguns dos melhores (ou maiores) sites internacionais sobre videojogos e todas estão a falar do multiplayer. Analisei mais de 30 análises e cheguei à conclusão que os editores e redactores destes locais são fanáticos adoradores dos modos multijogador, ao ponto de chegarem a analisar primeiro esses modos e só no fim fazer uma referência à campanha, como acontece nesta análise a Modern Warfare 3, pelo Kotaku. E qual é afinal o problema? Passo a explicar.

A minha mais recente sessão online em F.E.A.R. foi acompanhada por um adolescente, ainda naquela fase em que a voz está entre o masculino e o feminino, a cantarolar uma música Bieberiana que tocava alto no seu quarto; a última vez em que estive aos tiros em Uncharted 2, uma mãe com um sotaque que tinha escrito Trailer Park por todo o lado, gritava com o filho e ele ripostava, enquanto um bebé chorava no fundo; no meu último login em Red Dead Redemption, enquanto tentava tomar o forte dos bandidos, duas pessoas que nos acompanhavam conversavam calmamente numa qualquer língua de leste imperceptível e se discutiam o problema filosófico da felicidade em Nietzsche ou o último resultado do Dínamo de Kiev não sabemos, mas que estragava todo o ambiente isso era mais que certo; por último, a primeira e única vez que entrei no World of Warcraft tive duas personagens uma hora inteira atrás de mim aos saltos, a seguirem-me para todo o lado. E depois, os sites internacionais amam o multijogador online. WTF?

Ai isto afinal é grupinhos, é?

 

Foi então que tudo se iluminou à minha volta. Uma das maravilhas de se pertencer à imprensa de videojogos internacional (suponho eu aqui na minha reles condição de “opinador” luso) é receber as novidades bem antes de todos os outros. Enquanto os jogadores se babam com as imagens publicadas num exclusivo de revista, referentes a um título muito antecipado, enquanto vêem continuamente no youtube o mesmo trailer de um jogo muito esperado, enquanto imaginam quais vão ser as novas capacidades do seu herói digital favorito, muitas vezes, já os editores e redactores estão a experimentar esses mesmos títulos. Enquanto a cidade dorme e sonha com o que já passou, já algures um escritor joga a novidade.

Mas depois uma pessoa põe-se a pensar: então se o jogo ainda nem chegou ao mercado, com quem estão a jogar estes senhores no multijogador? É então que eu fico muito direito e de olhos muito abertos, enquanto desfilam rapidamente imagens na minha cabeça, acompanhadas de sons repletos de graves (como nos filmes): dois jornalistas do Destructoid a sussurrarem um com o outro e a rir enquanto comentam a Jane Raymond num evento de apresentação de Assassin’s Creed; uma cronista da Edge e um jornalista do Escapist que acabam no mesmo quarto em Las Vegas, depois de um dia de E3 e de muitos cocktails à mistura; a gritaria divertida entre jornalistas do Kotaku e do Eurogamer enquanto se batalham numa antevisão exclusiva à imprensa de Battlefield. Regresso de volta ao mundo real e trago de presente uma epifania. Estes senhores jogam multijogador com os amigos e, assim, também eu.

Tudo começou com uma acusação de plágio...

 

Foi numa campanha inteira de Halo Reach com o Pedro aqui do Rubber Chicken que eu mais me diverti em toda a série da Bungie. Foi com pessoas conhecidas que mais me ri no online de Grand Theft Auto IV. Foi com a minha melhor amiga que experimentei um curioso multijogador em Animal Crossing na Wii e os melhores momentos que já passei nos almoços de uma empresa foram com Quake e com Descent. Sim, o multijogador é bom mas se for saboreado como a vida. O que conta, são as amizades. Por isso não nos tentem enganar e daqui para a frente, cada vez que escrevem uma análise, os jornalistas deviam passar a incluir, para além da versão analisada, a seguinte advertência: “Jogado com os amigos, também disponível em versão com gente parva”.