Eliminate Angry Birds. Over.
Se existe algo que a produtora Zipper Interactive percebe, é de táctica. A produtora é conhecida por ser responsável por quase todos os títulos da série de shooters tácticos na terceira pessoa, SOCOM, mas também por Crimson Skies, um dos melhores títulos da década anterior, embora esquecido. Daí que quando a produtora foi chamada a criar um novo título de combate para a Playstation Vita, a estratégia utilizada na criação de Unit 13 foi a mais acertada. Unit 13 é um shooter intimista que possibilita jogos de 5 minutos ou jogos de 5 horas, isto é, uma experiência de combate perfeita para a portabilidade num pequeno ecrã. Este é o género de jogos que habita os novos telefones e tablets, só que aqui joga-se com uma combinação de armas que nenhum outro desses dispositivos permite: manípulo analógico direito, botões físicos e potência gráfica.
Assim que entramos nos menus de Unit 13 percebemos como tudo está organizado em função da simplicidade e da experiência imediata. Os poucos ícones apontam directamente para as experiências de jogo disponíveis e não há nenhum sobrecarregamento de menus secundários ou de texto. Ao escolhermos o ícone das missões principais deparamo-nos com o que parece ser o ecrã de escolha de níveis de qualquer jogo famoso iOS como Angry Birds ou Reckless Racing. Temos 36 níveis possíveis para escolher, onde cada um representa uma missão e, conforme vamos passando as missões com sucesso, o resto dos níveis vai ficando disponível. Não há aqui uma campanha com uma história hollywoodesca e sequências on-rails de acção. Há pequenas experiências de jogo que podem durar entre 5 minutos a 20 minutos cada e que todas juntas podem proporcionar uma tarde inteira de jogo. É esta possibilidade de escolher o quanto e o quê nos apetece jogar que torna este num dos jogos mais viciantes do catálogo da VITA. Já fiz uma missão de 7 minutos ao deitar e depois desliguei a luz. Mas também já estive até de madrugada sem conseguir desligar a consola a tentar melhorar as minhas pontuações.
As missões principais estão divididas em quatro géneros: Covert, onde não podemos ser vistos ou disparar qualquer alarme ao longo da missão; Deadline, onde temos um tempo limite para completar a missão; Elite, onde a nossa saúde não se regenera automaticamente e dependemos de health packs nos checkpoints; e finalmente Direct Action, onde podemos escolher qualquer destas estratégias. Esta variedade de estilos consegue também emprestar variedade ao jogo. Mesmo que queiramos fazer todas as missões ao género Stealth, a caminhar lentamente sem fazer ruído, como se fossemos um elefante a saltar gentilmente de nenúfar em nenúfar, o modo de limite de tempo não nos permite fazer isso, e nessas missões é entrar à Rambo pelo mapa dentro.
Cada missão divide-se em vários objectivos que podem ir de apenas um até quatro, com checkpoints intermédios. Por exemplo: colocar beacons em três pontos diferentes para que não sejam bombardeadas áreas urbanas, depois aniquilar um líder da guerrilha, para então soltarmos o nosso capitão refém. Mas o melhor de todas as missões é o sistema de pontuação e aqui voltamos ao estilo dos jogos mobile. Cada missão pode ter um máximo de 5 estrelas, dependendo da forma como é abordada. Se matarmos todos os inimigos no mapa ganhamos mais pontos, se tivermos mais pontaria também. Mas isto é só o começo, pois existem dezenas e dezenas de formas de ganhar mais pontuação ao longo de cada missão, com variações para cada personagem. Por exemplo, mais pontos por executarmos um inimigo que se encontra distante, mais pontos por limparmos uma sala sem sermos descobertos, mais pontos por matarmos inimigos através do rebentamento de explosivos deles, ou mais pontos por matarmos dois inimigos ao mesmo tempo com uma só bala. Completar todas as 36 missões do jogo é tarefa para 10 horas de jogo. A dificuldade não pode ser seleccionada por nós e é automática para cada missão. Algumas são em modo fácil, outras em normal e algumas em difícil. Ainda temos os modos “especialista” que são os que não permitem regenerar energia. Mas tudo isto é decidido pelo jogo e não por nós, assim como a dimensão de cada missão. Curiosamente, não há uma progressão de dificuldade. A missão 24 pode ser mais fácil que a missão 12. Isto também ajuda a introduzir variação ao longo do jogo. O que é realmente difícil e, isso sim, vai precisar de muitas horas de jogo, é conseguir 5 estrelas em todas as missões. Grande parte das missões são terminadas com 2 a 3 estrelas e, mesmo com um esforço de aumentar pontuação terminei essas com 4 estrelas. Para se conseguir 5 estrelas em todo o jogo vai ser necessário estratégia na escolha do personagem e na forma como se aborda o mapa de uma ponta à outra, o que faz deste jogo uma companhia para vários meses.
Se acharmos que as 36 missões não chegam temos ainda 10 missões de eliminação de grandes alvos, onde podemos colocar a dormir líderes terroristas, déspotas, responsáveis por massacres, ou senhores de mau íntimo que não lavam os dentes todos os dias. Se mesmo assim acham que ainda não chega, o jogo tem um modo de missões diárias, no qual todos os dias é gerado um conjunto de objectivos aleatórios num mapa aleatório, o que permite 365 missões diferentes por ano.
Os mapas onde as missões decorrem são variações de 7 cenários grandes. Temos uma prisão, uma refinaria, um mercado, um hotel, entre outros, todos na Ásia e Médio oriente. Cada missão utiliza uma área específica desses cenários e, conforme avançamos, as missões vão utilizando áreas cada vez maiores. Algumas missões utilizam o cenário todo e é nessas que vemos a boa dimensão dos mesmos. Os cenários em si são bem conseguidos, sem grandes virtuosismos, com alguns a serem até muito bons em ambiência como o caso da prisão.
As personagens são 6, onde cada uma é um soldado de elite com treino específico. São personagens com personalidade e, principalmente, com muito estilo. Basta estar um pouco com Animal e a sua barba para nos sentirmos autênticos bad ass com um silenciador na pistola. A progressão das personagens é feita ao género RPG, com as pontuações das missões a somarem até atingirmos o nível 10 de cada personagem. Quanto mais avançamos, mais armas e acessórios para as mesmas vamos desbloqueando também. Para completar cada missão, pouca diferença faz a personagem que escolhermos. Já se quisermos as 5 estrelas em tudo, aí vamos ter que gerir os atributos de cada um, pois uns são mais pezinhos de lã, enquanto outros descarregam carregadores de balas como se não houvesse amanhã. Outra característica das personagens é o humor dos seus comentários. Quando a voz da mulher que nos vai indicando os objectivos ao longo da missão avisa um dos soldados para evitar fazer barulho, ele conforta-a com: “No problem, i’m in Snake Eater mode”.
A mecânica de combate em terceira pessoa é quase perfeita. Os duplos analógicos não requerem qualquer habituação e nos primeiros minutos já estamos a conseguir headshots. É certo que a mira salta para o personagem quando carregamos em L1 para apontar, mas mesmo assim é muito fácil controlar os movimentos tanto do personagem como da câmara, podendo ainda afinar a velocidade de viragem se assim o entendermos. As funções de ecrã de toque estão muito bem implementadas, pois os ícones encontram-se nas margens do ecrã, muito perto dos analógicos. As funções de toque incluem recarregar a arma, ligar a mira telescópica, ou interagir no cenário para colocar bombas, desactivar alarmes, ou roubar documentos de computadores, e nunca se tornam intrusivas. Faz todo o sentido recorrer a estas funções no ecrã e desta forma podemos ter os dedos quase sempre nos analógicos.
Os problemas de mecânica resumem-se ao cover system que não permite transitar entre obstáculos, algo que já começa a ser obrigatório nos dias de hoje. O jogo também não permite alterar entre apontar a partir do ombro esquerdo ou ombro direito, o que junto a portas e janelas pode ser um impedimento.
Ao nível gráfico Unit 13 é um pouco desequilibrado. O detalhe dos personagens está magnífico e o de alguns cenários como a sala das caldeiras na prisão também, com uma enorme resolução em todas as texturas mesmo quando estamos muito perto. Mas nem todos os cenários partilham a mesma preocupação gráfica e construção. O detalhe extremo de todo o cenário do mercado, contrasta com a falta de detalhe do cenário do Metro. Entenda-se que estamos a falar do mesmo detalhe ao nível de alguns jogos da Playstation 3, mas teria sido preferível a mesma dedicação em todos os mapas. Outra implementação que seria bem vinda era a inclusão de variações na profundidade de campo, aqui inexistentes, e que tornaria os cenários mais realistas.
Já o som é magnífico. A banda sonora, simples mas eficaz, empresta um estilo de filme de acção ao jogo, e conseguir cada objectivo na missão é acompanhado de acordes de guitarra que nos fazem sentir o próximo protagonista de Expendables. As vozes das personagens acompanham a personalidade dos mesmos, e a voz feminina que nos acompanha ao longo de cada missão é uma presença bem conseguida. Os sons das armas também estão bem implementados pois conseguem provocar vibração com os graves (com phones) que nos fazem até “sentir” o recoil.
O jogo não tem multiplayer, pois o mesmo não faria qualquer sentido. As missões são one man show, com um soldado de elite infiltrado no mapa inimigo. Colocar 12 pessoas ou mais nestes mapas era simplesmente absurdo. Daí que a funcionalidade online se resuma a completar as missões em modo cooperativo, o que funciona na perfeição, sem atrasos e com o microfone da Vita a dispensar headsets. Os servidores estão também carregados de jogadores e encontrar alguém para jogar é instantâneo. O jogo possui ainda leaderboards com várias opções. Podemos ver os nossos resultados na pontuação global, ou em cada missão separada, e comparar a nível global, local, near, ou com os nossos amigos. É aqui que o jogo também ganha na longevidade, ao tentarmos bater os nossos recordes e subir no ranking. Eu estou no lugar 3215 a nível global, portanto ainda me faltam alguns anos no jogo. Se lerem, no entanto, em algumas reviews que o ranking não lista ninguém a partir do lugar 1001, esqueçam, pois a Zipper já corrigiu os servidores e agora toda a gente tem direito a um lugar no céu.
Unit 13 é um daqueles jogos que são obrigatórios no catálogo de quem possui uma VITA. A Zipper Interactive conseguiu o equilíbrio perfeito com um jogo que tanto pode ser jogado em 5 minutos como em 5 horas e que vicia a partir dos primeiros minutos. O facto de não ter campanha, mas sim missões, e de possuir um sistema de pontuações e ranking faz deste jogo uma inteligente forma de combater as experiências rápidas e descartáveis dos jogos mobile, contra-atacando com um jogo de combate denso, com altos valores de produção, mas que se adapta à portabilidade e ao jogo rápido. Os manípulos analógicos provam também que esta é a melhor consola portátil para qualquer tipo de shooter, actualmente no mercado. Este é um daqueles jogos que sem ser um fogo-de-artifício das capacidades da máquina, embora esteja ao nível gráfico de muitos jogos de Playstation 3, consegue o mais difícil numa consola portátil: o regresso do jogador, dia após dia, ao mesmo jogo.
(Unit 13 é um exclusivo PS VITA)
Comments (1)
[…] são dos melhores exemplos que já se jogaram numa portátil. Os casos de Uncharted: Golden Abyss e Unit 13 foram exemplos de bons jogos de lançamento, de estúdios que ainda estavam a tentar compreender […]