É uma das discussões mais acesas actualmente. Será que as vendas de videojogos usados estão a destruir a indústria? Existem ideias completamente diferentes dos dois lados da barricada, com cada uma a escolher os seus Dr. Evil e Dr. Doom. Dois dos melhores artigos, cada um com a sua própria visão, são o de John Walker que defende que são os preços altos e não os jogos usados que estão a destruir o mercado, e o de Richard Browne que defende que são os usados as bombas atómicas.
Confesso que estou mais do lado de Walker e que o facto da indústria dos videojogos se estar a queixar (quem se queixa são curiosamente as maiores editoras, não os independentes) assemelha-se às lamurias das produtoras de Hollywood que se fazem passar por vítimas, enquanto continuam a registar gigantescos lucros anuais.
Para atear ainda mais o fogo, o site Ekgaming.com vem agora anunciar um serviço de venda online de jogos usados que promete distribuir parte dos lucros às editoras. Segundo os responsáveis pelo site, o facto de a operação ser exclusivamente online permite reduzir os custos de armazenamento e transporte físicos, o que significa comprar os jogos aos clientes por mais 20% a 30% do preço que as lojas tradicionais pagam, para além da já referida contribuição à indústria.
Sinceramente, isto cheira-me a publicidade e em nada vai ajudar a definir as regras do jogo. As grandes editoras querem acabar com as vendas, ponto, as lojas querem fazer o máximo de lucro com as vendas, ponto. Nenhuma das facções vai ceder, se bem que o que devíamos estar a discutir era algo bem diferente. Se eu quiser vender o meu carro usado tenho de devolver parte do dinheiro da venda à Ford? É isto que acaba por estar em questão e que muitas vezes não se discute. Fala-se muito de como as pobres EA, Activision e outras perdem com o negócio dos usados, mas raramente se fala da liberdade das pessoas de venderem a sua própria propriedade, algo que nunca foi posto em causa em nenhuma indústria, nem sequer na musical.
Vender ou trocar um jogo é um direito que nos assiste. Fundamental.
Comments (4)
Não podia estar mais de acordo contigo, Miguel. Vender o que comprámos (por oposição a vender *cópias* do que comprámos, já que muitas vezes a indústria tende a meter tudo no mesmo saco) é um direito que nos assiste. Com o aparecimento dos DLCs as editoras têm uma oportunidade magnífica de nos fazer querer comprar os jogos novos, oferecendo conteúdo exclusivo com códigos de uso único. Essa é a abordagem inteligente, e deveria ser a única.
Dizer-nos que não podemos vender algo que nos pertence faz lembrar os avisos das cassetes VHS, que informavam altivamente que não nos era permitido emprestar o filme a um amigo, nem vê-lo em grupo, porque estávamos a infringir o copyright. Ninguém ligava nenhuma àquilo, e só nos fazia rebolar os olhos.
O uso de “pseudo” downloadable content (já que esse conteúdo se encontra no disco sendo apenas autorizado um token informando a consola de que lhe podemos aceder) é tão ridículo quanto a ideia de proibir a venda de jogos usados ou a utilização de passes multiplayer.
Infelizmente é um habito que começa a ser comum e que implica que muitas vezes que quem compre o jogo tenha de gastar mais dinheiro ainda, para desbloquear conteúdo que até á penúltima geração de consolas era dado como adquirido. Podia sim ser desbloqueado pelo jogador mediante determinadas condições, fim de jogo, nível de dificuldade etc. É absurdo pensar que sai um jogo de luta com personagens bloqueados e toda a informação referente a eles no disco e se peça aos jogadores que desembolsem ainda mais euros para poder ter acesso a essa informação. Seja em jogos usados, seja em novos. Só porque comprei o jogo novo em outra loja que não tinha um acordo qualquer de marketing tenho de gastar mais dinheiro para ter acesso aos restantes personagens? O que se segue? Filmes com capítulos bloqueados, ou livros com metade das paginas?
Corrobar com este tipo de comportamento por parte das editoras só piora a situação.
Fosse ilegal as vendas de jogos usados e esses grupos queixosos haveriam de se queixar de outra coisa qualquer. Preocupem-se em fazer produtos de qualidade a um preço justo e haverá sempre quem esteja disponível para pagar por eles.
A defesa com os online passes que supostamente são para manter os servidores, devido à compra em segunda mão, também não cola. Como se viu recentemente com o fecho do recente MMA pela Electronic Arts, que utilizava online pass.
A isto se chama a ganância das emprezas. Lá por as pessoas não comprarem os jogos pelo seu preço original não quer dizer que não temos direito a não o jogar. Se querem evitar isto começem por perder mais tempo a ouvir o feedback dos jogadores, resolvam os problemas ou bugs do mesmo e diminuam um pouco o preço dos jogos. Daqui a nada temos jogos a chegar quase aos 100€!!! Refiro-me a versões simples de jogos e não a versões de coleccionador. É que custa pagar 60€ e depois de jogar chegar à triste conclusão que foi um dinheiro mal gasto. Aí sim, dá vontade de trocar o jogo!