“Na minha profissão de Bombeiro de Staten Island, vi coisas terríveis. Mas nada me podia preparar para o dia 14 de Agosto de 1951. O dia em que as máquinas gigantes rasgaram os céus, fazendo chover o terror nas ruas abaixo. O dia em que fomos atacados.”

Isto é o que nos diz Riley, o nosso novo herói na nova luta contra os quimerianos, desta vez na Playstation Vita. O currículo da Nihilistic, a produtora chamada a trazer a série de Resistance para a nova portátil da Sony não é nada do qual a mesma se possa orgulhar. Com títulos tão dispares como Conan, Marvel Nemesis ou Vampire: The Masquerade, a produtora não é de certo conhecida pela coerência ou brilhantismo e Playstation Move Heroes também não veio ajudar. O que é certo é a empresa foi chamada para que Resistance: Burning Skies seja o primeiro FPS sério da Vita. Será que o conseguiu?

A nossa luta começa numa chamada a um incêndio num armazém, rotina para o bombeiro Riley e os seus companheiros. Só que as coisas prometem complicar-se. Momentos antes, uma introdução bem ao estilo dos filmes animados de Resistance 3, se bem que desta vez com um look muito mais anos 50 (imaginem os posters de Fallout), conta-nos a história dos Minutemen, um grupo de cidadãos que não acreditaram na propaganda lançada pelo governo Americano que declarava a América como segura, enquanto a Europa ardia perante a invasão alienígena. Estes primeiros resistentes começaram a preparar-se e a armar-se contra uma invasão que pressentiram inevitável. Tinham toda a razão. Enquanto desbravamos pelo interior do edifício em chamas encontramos os primeiros quimerianos e percebemos que a invasão começou. Se para Riley estes seres são aterradores e provocam o espanto, para nós são velhos amigos com contas a ajustar. O nosso machado não chega para dar conta do recado, daí que as primeiras mortes colocam-nos nas mãos a bela Bullseye e um carregamento de balas. Chegou o momento de matar mais umas centenas de quimerianos para juntar à conta que já vem alta de outros tempos na Playstation 3.

Vocês ainda estão chateados comigo?

 

O primeiro impacto visual não é o melhor. Os primeiros cenários do armazém e das ruas não possuem o detalhe que esperávamos, com cores demasiado esbatidas e elementos pouco detalhados, com uma qualidade visual que apenas se equivale ao primeiro Resistance: Fall of Man. É certo que mais à frente o detalhe e os ambientes vão melhorar imenso, mas é uma jogada muito arriscada começar assim de forma tão contida. Se é certo que a versão de antevisão tem cerca de 1h30 de campanha, uma versão demo irá ficar pelos primeiros 20 minutos. Esses primeiros 20 minutos impressionam muito pouco visualmente e podem afastar jogadores da versão completa.

No entanto, para compensar, assim que iniciamos os combates entendemos que a experiência é uma das mais fluídas da série. Verdade seja dita que a inteligência artificial de Resistance nunca quebrou nenhuma barreira, mas aqui os inimigos estão muito mais atrevidos, saltando e agarrando-se às paredes, ou correndo rapidamente para a nossa posição, o que provoca sempre uma sensação de ansiedade, uma vez que não nos vale de muito tentar recuar nos cenários apertados. O sistema de cover ajuda a evitar o fogo inimigo, se bem que é aqui que assenta um dos pontos fracos de Burning Skies. O cover em agachamento funciona perfeitamente, embora estejamos estranhamente a descoberto, mesmo que os tiros não nos atinjam. Já o cover lateral é péssimo, pois requere que nos cheguemos devagar ao canto e só num pequeno ponto é que o mesmo fica activo. Não existe nenhuma botão para entrarmos em cover nos cantos. Resta-nos tentar acertar com o local para depois carregar num botão direccional que nos permite espreitar. Isto obriga a um jogo de mãos forçado, uma vez que seria muito melhor espreitar utilizando os analógicos. Mas para isso deveríamos ter a possibilidade de entrar em cover lateral com um botão. O problema do sistema actual é encontrar o tal ponto perfeito. É quase impossível em combate e acabamos por desistir. Se ainda for a tempo, a produtora deveria resolver o sistema de cover lateral e fazer alguns ajustamentos ao agachamento.

Para quem jogou os Resistance da Playstation 3, Burning Skies vai fazer-vos sentir em casa ao nível das armas. Este sempre foi um dos pontos fortes da série e aqui regressa ainda melhor. As armas conhecidas estão de regresso, assim como os seus famosos disparos secundários. A Bullseye com as suas tags, A Carbine com as suas granadas, a Auger com o seu visor e balas que atravessam paredes. No entanto, neste novo Resistance, as armas familiares estão muito mais divertidas. Os disparos estão fenomenais e o comportamento das armas provoca um gozo enorme a cada disparo. A Carbine está mais lenta e ritmada, a Bullseye está com um som e um recoil de metralhadora terráquea, enquanto a  sniper Sixeye proporciona um disparo no qual quase que sentimos o impacto nas mãos. Tive de pensar várias vezes se a Vita tinha vibração no seu interior.

As armas possuem também upgrades como em Resistance 3, mas desta vez o sistema foi muito melhorado. Cada arma possui 6 upgrades possíveis e estes podem ser feitos após encontrarmos uns pequenos cubos azuis tecnológicos cuja origem promete ser um dos pontos principais da narrativa. Cada um destes cubos proporciona um upgrade a uma arma à nossa escolha. Ao contrário de Resistance 3, em que tínhamos de jogar algum tempo com a mesma arma até ela ir subindo de nível, aqui podemos escolher fazer todos os upgrades à nossa arma preferida em primeiro lugar. Este sistema faz muito mais sentido e dá-nos a liberdade total de escolha sobre quais as armas a evoluir e quando o fazer.

Há pois é meus amigos. Um herói diferente, mas as vossas velhas amigas.

 

Os disparos secundários das nossas armas são explicados através de pequenos filmes. Estes disparos secundários são activados no ecrã de toque o que umas vezes faz sentido, enquanto noutras é simplesmente intrusivo. A Nihilistic precisa de afinar esta utilização do ecrã táctil embora tenha introduzido algumas boas ideias, como o facto de o jogo entrar em ligeiro slow motion sempre que estamos a usar um poder secundário de fogo com o dedo no ecrã. Alguns problemas fazem-nos disparar o alternativo quando estamos a abrir uma porta também com o toque, o que precisa de ser resolvido. Talvez a solução esteja em utilizar o painel traseiro, que neste momento apenas serve para activar a corrida, numa solução um pouco preguiçosa.

Também abandonados foram os Health Packs que regressaram em Resistance 3, depois de serem introduzidos em Resistance 1. Aqui, a saúde comporta-se como em Resistance 2, onde basta ficarmos sem receber fogo no corpo para podermos recuperar. Ame-se ou deteste-se, é o novo standard dos shooters e este não foge à regra.

Os inimigos a que a série nos habituou estão todos de regresso, muito melhorados em relação a Resistance 3. Os Long Legs, os Leapers, os Grims foram todos redesenhados e alguns, como os novos Executioners (um canhão com um corpo agarrado, como diz o regressado menu de intel), estão simplesmente fantásticos.

Os Executioners são como o Vinho do Porto. Envelhecem bem.

 

Ao longo da campanha os ambientes vão melhorando e o jogo vai finalmente mostrando as suas cores. É apenas no terceiro nível que finalmente começamos a ver o potencial de Burning Skies, com o cenário de uma ponte (muito ao estilo de Half Life 2) na qual tanto os exteriores como os interiores estão fantásticos visualmente e em que a cenografia é cuidada e detalhada. No entanto, visualmente, o jogo nunca chega a espantar e ficamos sempre com a sensação que a consola consegue muito mais do que aquilo que aqui vemos.

Resistance: Burning Skies promete ser um FPS sólido e não existe nada que se aproxime desta experiência em nenhuma máquina portátil actual. O combate é extremamente fluído, as armas são fantásticas, os inimigos e os bosses gigantes estão exigentes. O enorme ecrã e, principalmente, os manípulos analógicos provam que a Vita prepara-se para ser rainha dos Shooters de levar no bolso. Fica no entanto a sensação, tanto ao nível visual quanto ao nível sonoro que a máquina da Sony consegue ir muito mais longe e que este Burning Skies é apenas a primeira geração de jogos do género na consola. O pior é mesmo o sistema de cover, que precisa de ser resolvido, e o equilíbrio entra a utilização de botões e do ecrã táctil que precisa de ser muito equilibrada, pois por vezes é completamente inadequada ao combate. Resolvidos estes problemas e teremos uma grande experiência FPS numa portátil. Algo que já fazia muita falta.