A cena Indie no PC é o local actual onde se assiste a mais inovação, embora alguns digam erradamente que é nas tablets e smarthphones. Mas, de vez em quando, o mundo criativo dos jogos independentes fura as barreiras e aparece logo à primeira vez nas grandes consolas, sem ter de percorrer a sinuosa e imprevisível escadaria do lançamento em computador e possível futura atenção de uma editora maior. Não, não esperem que a Electronic Arts invista nesses jogos à cabeça mas outros, como a Sony, têm tido um papel minimamente responsável na indústria. O gigante nipónico arrisca muitas vezes financiar projectos que à partida não estão talhados a ser blockbusters, mas que quase sempre se revelam passos em frente na indústria.

Um desses casos é a produtora That Game Company, com a fabulosa oportunidade de ir recebendo cheques da Sony para lançar pequenos jogos de 2 em 2 anos, sempre tentando conceitos de desenho de jogo nunca tentados e sem a pressão dos resultados de bilheteira. Que inveja que outras casas devem ter. Flow, Flower e Journey foram os três exclusivos até agora lançados para a Playstation e todos aclamados pela crítica. Que inveja que outras casas devem ter. Journey é por exemplo o objecto físico mais belo em que já mexi até hoje. Curiosamente, ou talvez não, estes jogos tem sido também sucessos de vendas, com Journey a atingir o primeiro lugar das vendas digitais na Playstation Network.

Flower é um dos títulos mais fantásticos que pode ser jogado na PS3

 

Esta estratégia da Sony tem mostrado ser uma das mais acertadas e, embora alguns possam criticar a empresa por ser apenas mais um gigante corporativo, é certo que muitos dos jogos que a Sony financiou poderiam nunca ver a luz do dia noutras companhias. A série de jogos PixelJunk, Joe Danger e Criter Crunch (que agora estão presentes em várias plataformas) são outros exemplos de indies nas quais a companhia arriscou. Mas estes investimentos não se fazem apenas de jogos pequenos, pois Heavy Rain e Little Big Planet são dois bons exemplos de como a aposta em jogos improváveis acaba muitas vezes por se tornar uma grande mais-valia financeira. Para já não falar da liberdade da Team Ico que está “livremente” a desenvolver The Last Guardian há 4 anos.

Parte deste investimento provém dos 20 milhões do Indie Pub Fund, um fundo de investimento da Sony para ajudar as produtoras independentes a concretizarem os seus jogos e, principalmente, a produzirem um marketing eficaz e que chegue ao público. Para provar a ausência de Dr. Evil dos japoneses, os produtores ainda ficam com os direitos de autor das suas propriedades intelectuais. Os últimos dois investimentos resultaram no arriscadíssimo Eufloria, e no “artístico” Okabu. Ambos não tiveram muito sucesso, embora Eufloria merecesse muito mais atenção do que a que teve. Já o terceiro e próximo título, promete ser um dos melhores jogos que a Sony já lançou no mercado.

Temos um dos jogos do ano no horizonte?

 

Papo & Yo agarrou-me logo na premissa. É um daqueles jogos que depois de ler a sinopse eu sei que vou comprar, nem que todos me digam que é a pior peça de código alguma vez escrita para uma consola. Vander Caballero, o fundador da produtora Minority Media e criador de Papo & Yo não teve uma infância fácil, pois cresceu com um pai alcoólico que alternava entre os momentos em que era extremamente atencioso e divertido, com os momentos em que estava alcoolizado e que era um autêntico inferno para a família. Caballero acreditou durante a sua infância que conseguia ajudar o pai mas os seus esforços foram sempre infrutíferos. Hoje, o pai de Caballero já não está vivo, e muitos anos de terapia tentam ajudar Vander a lidar com o passado.

Papo & Yo é uma metáfora à infância de Caballero. Quico, o nosso herói, ágil, enérgico e inventivo (como Vander gostava de ter sido) percorre o seu mundo tentando ajudar Monster, um monstro que até pode ser adorável excepto quando ingere sapos e se torna um ser muito perigoso. Com a ajuda de um pequeno robô nas costas, como uma mochila, baseado na mãe de Caballero, Quico tenta evitar que o pai… uhhhh, o Monstro, coma os sapos.

Papá?

 

Tudo em Papo & Yo é uma grande metáfora. Desde a manipulação de casas de cartão que movimentam casas reais, aos desenhos em giz nas paredes que se tornam elementos e formas de interagir com o mundo real. Vander Caballero promete que até o seu psicólogo estará representado de alguma forma no jogo.

Metáforas à parte, Papo & Yo é mais um jogo que pretende investir uma grande experiência emocional no jogador, mas sem esquecer que um jogo tem de ter uma grande mecânica. Ao contrário de muitos jogos indie que chegam a ser extremamente aborrecidos de jogar por esquecerem tudo o resto em função da narrativa, estas “experiências” na Playstation 3 não esquecem nenhuma das peças que envolvem um jogo. Journey é uma obra de arte a todos os níveis. Papo & Yo promete ser a próxima.