Em 1997 era muito divertido. Atropelar idosos, lançar o carro a partir de rampas e aterrar em cima de senhoras e senhores, ou fazer ketchup a partir de bovinos na estrada era extremamente divertido. A questão é: e porque razão não era doentio?
Quer dizer, alguns países acharam que era doentio, pois o jogo foi banido, censurado, cortado ou alterado em muitos lugares. Até o Papa se chegou à frente a pedir que o jogo fosse retirado nas lojas. Felizmente, em Portugal, levou com um selo de “Maiores de 18” e seguiu para as prateleiras sem qualquer alteração ao original.
O jogo vai regressar agora graças ao Kickstarter, pelas mãos da produtora original, a Stainless Games, que readquiriu os direitos do jogo. Carmageddon: Reincarnation ainda só está no ar há umas horas e já vai em 40 mil dólares. Para um objectivo de 400 mil, e com 29 dias pelo caminho, a dúvida é quanto dinheiro é que vai ser superado e de que forma vai ser investido.
No entanto, fazer um Carmageddon em 2012 é bem mais perigoso do que fazê-lo há 15 anos atrás, por uma simples razão: HD. No jogo original, os gráficos 3D ainda eram primitivos o suficiente para tudo parecerem fracas figuras digitais. Nunca senti nenhuma culpa em provocar explosões de sangue a partir de idosos ou animais pois tinham mais polígonos triangulares à mostra do que as animações dos vídeos institucionais de empresas nos anos 90. O problema é que actualmente, uma velha é uma velha e uma vaca é uma vaca.
O mais difícil no novo jogo não vão ser as batalhas com a censura e a controvérsia. Claro que vai existir, mas a indústria já está muito mais amadurecida. Quando um jovem de 12 anos consegue comprar nas lojas os maiores franchises da Electronic Arts e da Activision, sem que as próprias editoras se importem com isso (não, não estamos a falar de Fifa 12 e de Skylanders), Carmageddon não terá grandes dificuldades em manter-se no mercado, principalmente com distribuição digital. O mais difícil vai ser gerir o equilíbrio entre o realismo e a jogabilidade, por forma a tornar este jogo uma experiência tão cómica como o original em vez de um acto repugnante que nos provoca afastamento.
Os Grand Theft Auto têm conseguido gerir bem este equilíbrio, mantendo um aspecto mais cartoon mesmo com motores gráficos muito avançados. Outro grande exemplo é Pain, da Playstation 3, cuja direcção artística faz com que a experiência de atirar pessoas contra a parede não se pareça com a experiência de atirar pessoas contra a parede, whatever the f**k that means. Porém, no lado oposto temos Manhunt 2 que, na minha opinião de jogador, representou apenas violência gratuita e provocou muito mais repulsa do que diversão.
Carmageddon: Reincarnation vai ser uma peça muito importante na história dos videojogos que nos vai dar a perceber se as “loucuras” dos anos 90 ainda funcionam e se mantém jogáveis. Chegou a hora de ver se deixar rasto de idoso na estrada ainda é tão bom como antigamente.
Comments (1)
Já não era sem tempo! Vou certamente contribuir o que puder para este projecto!