As recentes campanhas Kickstarter para trazer de volta as aventuras gráficas de Tim Shafer, o Leisure Suit Larry de Al Lowe ou o Space Quest da Sierra, podem levar os mais distraídos a acreditar que o género já tinha morrido. Na verdade, algumas produtoras têm tentado manter o género vivo ao longo dos anos, embora este esteja realmente moribundo e sem o sucesso comercial de outros tempos. Mas estes jogos de apontar e clicar lá vão mantendo uma base constante de fãs como o comprova o excelente adventure gamers.

A produtora Wadjet Eye, responsável  pela excelente série de jogos Blackwell e pelo premiado Gemini Rue é uma das que se recusam a deixar o género desaparecer. A Wadjet está prestes a lançar a sua nova aventura gráfica, Resonance e enviou-nos uma versão de antevisão para experimentarmos.

Se as aventuras gráficas dos anos 90 envelhecessem como o seu público e agora tivessem uma idade entre os 30 e os 40 anos, Resonance seria o resultado. O jogo mantém toda a identidade das antigas aventuras gráficas mas de uma forma mais madura, mais inteligente e com um humor mais subtil. Enfim, uma forma mais refinada de apontar e clicar.

Resonance já não é uma criança nas aventuras, e quando jogarem vão perceber que esta criança também não o é.

 

Na sequência de abertura, vários cabeçalhos ao estilo da CNN mostram-nos que uma série de misteriosos ataques estão a acontecer por todo o globo, ataques estes que deixam buracos enormes com a forma de esferas em prédios, ruas e monumentos. Não se sabe qual a origem dos ataques e se são causados por terroristas, ou sequer por mão humana. O certo é que recuamos 60 horas no tempo, para iniciarmos uma história que por certo nos vai explicar o que está a acontecer.

Assim que um dos nossos protagonistas acorda no seu quarto em Aventine City, somos brindados com um estilo gráfico que nos reporta para Beneath a Steel Sky, mas como se o jogo da Revolution tivesse tomado um pílula de “alguma resolução” (pois não se pode chegar a chamar alta definição a isto). O aspecto pixelizado e “blocky” dos gráficos é uma piscadela de olho aos puristas do género, se bem que é acompanhado de animações muito mais detalhadas que os jogos originais. Todo o ambiente é também mais adulto, com uma calma música jazz a acompanhar a acção.

Olhem o Beneath a Steel… afinal não é.

 

O melhor de Resonance é a sua subtileza. As músicas alternam entre o jazz e o easy listening, com os sons ambientes tão bem utilizados que por vezes chegam a enganar. A certa altura pensei que estavam pássaros a cantar fora da minha janela real e, não fossem ser duas da manhã, teria acreditado que não vinham do jogo. O humor nos diálogos é também subtil e usado com ponderação, com as vozes a emprestarem seriedade ao jogo. Nada disto porém torna o jogo aborrecido, antes pelo contrário, mas digamos que Resonance vai mais longe que a piada fácil e que a sua estória e as suas personagens tentam não cair no estereótipo. Nem sempre isso é conseguido, mas está lá muito perto. Um dos momentos mais geniais envolve o diálogo com um porteiro atordoado que em tempos tentou o mundo do espectáculo. Mas há muitos mais momentos destes espalhados nesta primeira hora de jogo.

Na versão de antevisão podemos jogar com os nossos quatro protagonistas: Ed, o jovem cientista; Anna, a médica; Detective Bennet; e Ray, o jornalista. Todos se envolvem na trama que rodeia Resonance, uma descoberta científica que pode revelar-se muito perigosa nas mãos erradas. Jogamos com as personagens individualmente, em narrativas que se cruzam ou que são jogadas em momentos muito próximos uns dos outros, mas por vezes, as personagens juntam-se nos mesmos cenários e momentos temporais sendo-nos dada a possibilidade de alternar entre elas.  Embora o jogo acabe antes de podermos experimentar, acreditamos que haverá momentos onde poderemos controlar os quatro protagonistas dentro do mesmo cenário.

Bem melhor do que repetir a mesma pergunta com uma personagem, é repetir a mesma pergunta com dois personagens.

 

Nos cenários desta versão que incluem uma carruagem de metro, uma rua nocturna de uma zona problemática, a recepção de uma empresa, entre outros, não existe, felizmente, pixel hunting. Esta célebre e irritante técnica de clicar em todo o cenário para descobrir elementos a interagir é aqui resolvida, pois quando é permitida uma acção em cima de determinado objecto o interface avisa-nos dessa possibilidade. Os diálogos são também ilustrados com balões de texto, que facilita quem não acompanha facilmente diálogos em inglês e, numa ideia que faz todo o sentido, os pensamentos são ilustrados com um balão de texto e não com voz alta.

Para além da jogabilidade comum de uma aventura gráfica, Resonance comporta no entanto duas inovações. A primeira é a utilização de duas zonas do interface onde podemos arquivar objectos numa memória de curto prazo e numa memória de longo prazo. Estas memórias permitem-nos transportar temáticas para conversas com outros personagens, ou lembrar no futuro momentos chave da narrativa necessários para a progressão. A outra inovação é que por cada interacção bem sucedida vamos ganhando pontos. Quanto a nossa personagem morre (sim, é possível) podemos utilizar 10 pontos para recuar no tempo e tentar uma abordagem diferente aos problemas. Se já não tivermos qualquer ponto, é game over.

Neste jogo pode-se morrer ou, pior ainda, ficar sem os pneus do Smart.

 

O jogo inclui ainda muitos instantes refrescantes, como a melhor utilização de um email virtual que já experimentei num videojogo, ou uma sequência de sonho num labirinto que roda para não decorarmos o caminho, no qual temos de ir deixando moedas no chão como se fossem um rasto indicativo de migalhas de pão.

Resonance é uma aventura gráfica amadurecida, uma meia idade do género e um jogo que provoca várias vezes o riso mas de forma subtil e inteligente. É aliás esta subtileza e maturidade que pontua todos os aspectos do jogo, dos ambientes à música, da narrativa aos diálogos. Com a possibilidade de jogar alternadamente com quatro protagonistas e com algumas inovações no género como a utilização da memória de curto e longo prazo, esta aventura gráfica promete ser ao mesmo tempo uma homenagem e uma evolução do género. O jogo chega em Junho de 2012 para PC, pela mão da Wadjet Eye e da XII Games.