O fim do mundo está para breve, mais uma vez. Não me refiro ao dia 21 de Dezembro, que segundo o calendário Maia marcará o derradeiro dia de promoções no Pingo Doce. Falo antes do fim da civilização tal como Ellie e Joel a conhecem, as novas estrelas da Naughty Dog. A chegada de uma nova franchise deste estúdio é para nós tão ou mais importante do que qualquer profecia apocalíptica. É o nascimento de mais um daqueles jogos que nos vão fazer encher de sebo os cantos dos botões do Dualshock 3.

A Electronic Entertainment Expo em Junho deste ano aproxima-se a passos largos, e será na E3 que iremos ter a oportunidade de finalmente saber tudo sobre o jogo e meter os olhos nos seus gráficos e ambiência tremendos, não fosse este o novo projecto da rapaziada por detrás de Uncharted. Até lá, tivemos acesso a mais um pequeno vídeo que mostra um dos elementos chave da aventura, a presença constante de grupos de sobreviventes que tudo farão para saquear e matar quem quer que seja. The Last of Us conta a a história de Joel, Ellie e o modo como lutam pela sobrevivência num mundo destruído por uma praga que assolou a humanidade à 20 anos atrás.

As novas caras larocas da Naughty Dog.

 

Segundo Neil Druckmann, director criativo do projecto, numa recente entrevista ao site IGN, o jogo será totalmente singleplayer e sem componente online, permitindo um maior enfoque sobre a estória da dupla de heróis e sobre o impacto emocional que a viagem terá sobre eles e o jogador. The Last of Us será movido pela sua narrativa, por isso é importante que o jogador tenha uma experiência de jogo focada nas suas personagens de modo a mais facilmente se identificar com as suas motivações.

Joel conhece a vida antes da catástrofe enquanto a perspectiva de Ellie é bastante diferente, já que o seu mundo sempre foi este, um mundo de sobrevivência, de perigo constante e escassez de recursos, sem Mocaccinos ou Smartphones. The Last of Us coloca o jogador perante a queda da civilização tal como a conhecemos, em que as regras do jogo se alteraram e a esperança é um luxo difícil de encontrar.

O novo trailer mostra-nos uma nova Ellie, de aspecto mais jovem e um pouco menos aguerrido do que vimos há uns meses atrás. Esta alteração no design da personagem foi justificado por Druckmann como necessário por forma a ajustar a sua personalidade à da actriz que a representa, Ashley Johnson e também para cimentar a personagem como uma adolescente mais jovem, que se adequa mais à estória que pretendem trazer aos jogadores.

Old vs New: notam as diferenças?

 

Durante a pandemia foram estabelecidas zona de quarentena controladas pelos militares onde a população se acotovela para sobreviver, zonas em que a lei marcial impera e pode ser brutal, já que quem quebrar as “regras” se arrisca a ser abatido sem piedade. A nossa dupla escapa de uma desses zonas e aventura-se em direcção a Oeste, percorrendo os EUA. Para além dos militares, outras facções de sobreviventes foram criadas, grupos com os quais o jogador irá interagir durante a sua demanda. Um desses grupos, os Hunters, surge no novo vídeo que poderão ver mais abaixo.

Muitos jogos pós-apocalípticos já passaram pelas nossas mãos, alguns deles muito recentemente e de estética semelhante a jogos como Uncharted. E uma coisa certamente nos passou pela cabeça: era tão bom que este jogo fosse feito pela Naughty Dog. Acho que ainda não caímos em nós, ainda não compreendemos bem o que significa termos um jogo de aventura na terceira pessoa passado num mundo Apocalíptico criado por este estúdio. A próxima E3 aproxima-se a passos largos e temos a promessa de muitas surpresas em relação a este jogo.

Tijolada pela manhã.

 

Temos muita antecipação e expectativa, e talvez por isso também algum receio. O director criativo afirma que neste mundo será necessário ter em conta a escassez de recursos como munição e mantimentos, mas que o jogador vocacionado para a acção também terá formas de jogar mais orientadas nesse sentido. O que terá The Last of Us em comum com Uncharted, até que ponto demasiado foco sobre a acção não estragará o ambiente deste tipo de jogo? Confesso que me preocupa um pouco o facto de Joel parecer um Nathan Drake um pouco mais velho. Parvoíce minha! De que modo irão estes ases da cinematografia nos jogos criar uma experiência da intensidade que esperamos, mas com um maior foco sobre a condição e sobrevivência humanas, de modo o mais realista possível? Expectativas irrealistas, certamente. Isto porque eu não quero que The Last of Us seja um bom jogo, eu sei que o será. Eu quero que seja perfeito. De qualquer das maneiras, será grande.

Sem comentários.

 

O Apocalipse está na moda. Acho que sempre esteve. É estranho quando pensamos o faz este tipo de cenários serem tão atractivos para as obras de ficção, o porque de nos sentirmos compelidos a viver o “faz de conta” de uma civilização implodida. Talvez seja pela liberdade que teríamos se pudéssemos viver num mundo sem regras, onde a lei do saque seria a única que faria algum sentido, mas vivemos essa ilusão de uma perspectiva diferente, de dispensa cheia, de gasolina no carro, de “bom dia vizinho”, de civismo por pouco que seja. Talvez seja pelo medo que todos sentimos mas não elaboramos, de perder o que temos. Da nossa sala de estar cuidadosamente montada e investida deixar de fazer sentido, da colecção de jogos da qual nos orgulhamos parecer ridícula quando a luz, a água ou a segurança deixarem de existir no no nosso lar.

Talvez ainda pela curiosidade mórbida, ou então mesmo catártica, de experimentarmos viver num mundo que não é assim tão distante de dias de promoção mais afoites. O Apocalipse está dentro de nós, à espera de sair. E pudermos jogá-lo em segurança, no conforto do nosso sofá, numa viagem de montanha-russa, talvez seja uma atitude saudável e nos faça por algumas horas dar real valor aquilo que temos. E deixarmos de ser ridículos quando um jogo não termina como gostávamos ou se tivermos de adiar a nossa sessão de jogo durante algumas horas por erros 37.

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