Às vezes dou por mim a pensar como é que os anos 2000 serão relembrados. Antes de entrarmos no novo milénio parece que era tão mais fácil de arrumar as épocas, cada uma na sua gavetinha. Calças à boca de sino, Hippies, camisas de flanela xadrez, blazer de mangas arregaçadas, aposto que conseguem colocar cada um destes marcos numa determinada época sem muito esforço. Então vamos lá voltar um pouco atrás, vamos buscar as roupas mais pirosas, coloridas e luminosas que tivermos em casa e fingir que estamos nos anos 80. Vá lá, pelo menos vistam qualquer coisa com manchas de leopardo ou melhor, é isso, uma imagem de um por-do-sol tropical que ocupa a sala toda. Agora vamos de Renault 5 ao salão jogar Dragon’s Lair.

30 anos depois, Dirk the Daring chega finalmente e novamente à nossa sala de estar Ikea. 2012 vai marcar o regresso da marcante série Dragon’s Lair, desta vez com o Kinect no Xbox Live Arcade pelas mãos da Digital Leisure Inc.. A partir de agora poderemos controlar a acção do jogo através dos nossos movimentos, assumindo o jogador o papel de Dirk, sendo também possível controlar o cavaleiro à moda antiga, com o Xbox Controller.

Estou a ficar velho para isto.

 

Dragon’s Lair é um dos mais conhecidos e influentes jogos de sempre. Ao longo três décadas originou mais de 60 versões, desde micro-computadores, consolas caseiras e portáteis, até smartphones e tablets. Nem todas as adaptações foram fiéis ao jogo original lançado em 1983 para as cabines de arcada e ainda assim o nome da franchise tem se mantido nas mentes e corações dos jogadores ao longo de todo este tempo.

A aventura de Dirk para salvar Daphne, a princesa que parece estranhamente satisfeita por estar presa (o modo como se rebola melosamente dentro do seu cativeiro é de levar as mãos à cabeça) teve um impacto tremendo na cena das arcadas no inicio dos anos 80, dando novo folgo a este meio que se encontrava em estagnação. O mais curioso é que Dragon’s Lair pode ser talvez considerado como o jogo que originou o Quick Time Event, para o bem ou para o mal. O jogo consiste num filme de animação colocado num Laser Disc em cada cabine de arcada. Ao correr o filme, o jogador recebe uma série de pistas visuais e auditivas em momentos chave de modo a que mova o controlador numa determinada direcção ou pressione no botão de acção para usar a espada.

Agora já não precisam de gastar 5 contos em moedas para acabar o jogo.

 

As acções do jogador determinavam o modo como o filme decorria, de acordo com a rapidez de resposta e direcção que escolhia. O verdadeiro jogo de QTEs, percursor não só de jogos mais actuais como Shenmue, God of War ou Heavy Rain, mas também de toda a geração de jogos que utilizavam Full Motion Video com especial incidência nos anos 90, e um inspirador de muitos game designers em criar experiências de jogo mais cinematográficas, como Eric Chahi e o seu Another World.

Talvez nos dias de hoje este tipo de jogabilidade possa ser considerada medíocre e certamente muita sopinha já se comeu nos últimos 30 anos, mas ainda assim Dragon’s Lair merece manter-se connosco jogadores. É cómico, é divertido, era estupidamente difícil e faz parte da nossa história. Imaginem naquela época jogar uma coisa destas! A versão de Xbox 360 terá Achievements, Leaderboards e o Kinect mostra-se mais uma vez como um controlador eficiente para determinadas experiências de jogo. Jogar Dragon’s Lair desta forma poderá ser bastante interessante. E por isso já tenho o meu capacete penico a postos, a agulha do meu gira-discos trocada e dois ou três cachuchos que tinha ali guardados, para por nos dedos em caso de emergência.

Em produção encontra-se o documentário Inside the Dragon’s Lair que captura não só a importância deste jogo na história dos jogos mas também a cultura dos anos 80 em que se inseria. Vejam o trailer e comecem a treinar espadeiradas na vossa sala de estar.

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