Há qualquer coisa de especial em jogar um Roleplaying Game com outras pessoas, especialmente se forem amigos. Quantas vezes não salvámos o mundo à beira do fracasso, usámos toda a nossa destreza e um pouco de sorte à mistura para derrotar determinado boss, ou seguimos religiosamente um guia de tácticas, estudando todas as possibilidades ao pormenor como verdadeiros mestres estrategas…apenas para partilhar o que alcançamos com ninguém senão nós próprios.

É por isso que os jogos cooperativos são cada vez mais parte integrante da cultura dos gamers e uma funcionalidade que os jogadores esperam estar disponível na maioria dos jogos com modo multijogador. Por muito divertido que seja jogar um shooter com mais 30 pessoas, arrisco-me a dizer que o RPG multijogador é uma das experiências mais fantásticas que se pode ter na companhia de amigos e mesmo desconhecidos. A dinâmica de jogo nas fundações do RPG convida à partilha, e a progressão deste tipo de jogos é um dos elementos chave que torna a experiência cooperativa numa viajem enriquecedora de glória e Loot. De preferência épico.

E depois de sonhar nostalgicamente acordado nas belas sessões de jogo do passado, estou preparado para afirmar com bastante certeza que Heroes of Ruin, desenvolvido pela n-Space, tem o potencial para se tornar numa referência dos RPG de acção cooperativos nas consolas portáteis. O Rubber teve a oportunidade de fazer uma sessão de jogo generosa a convite da Nintendo e tomar o gosto a este Action RPG ao bom estilo de Diablo, que estará disponível a partir de 15 de Junho pelas mãos da Square Enix. Um trio de galinhas armadas de 3DS em local play aventuraram-se nas masmorras de HoR na tentativa de derrotar forças obscuras responsáveis pela maleita do regente da cidade de Nexus, terrivelmente amaldiçoado.

Homens tubarão, só podem ser as catacumbas em S. Bento.

 

Em boa verdade, não foi de todo a estória do jogo que nos cativou desde os primeiros minutos, mas a rapidez com que iniciamos a sessão e começamos a distribuir espadeirada, a aumentar o nível das personagens e sim, a apanhar Loot e gold. Heroes of Ruin oferece 4 classes padrão por onde escolher e costumizar. A Alchitect com funções comummente associadas ao arquétipo do mago; o brutamontes Savage, fonte de dano corpo-a-corpo; Vindicator, o leãozinho de serviço munido de uma espada monstruosa e a dar ares de paladino; e Gunslinger, a classe de dano a longo alcance através de armas de fogo. Poderíamos afirmar que o jogo parece oferecer pouca variedade em termos de classes, mas tendo em conta que suporta exactamente 4 jogadores em simultâneo parece-me que a escolha é elegante. No ecrã de selecção e ao longo do jogo cedo compreendemos que cada uma delas se encaixa num dos arquétipos deste tipo de jogos e ao mesmo tempo parecem conter na sua progressão elementos comuns a outras classes e respectivas variações. Isto é aparente nas árvores de talentos de cada um dos heróis.

O jogo é-nos apresentado numa perspectiva isométrica, com cenários e personagens totalmente em 3D. O botão analógico controla o movimento da personagem, o direccional para navegar os menus, usar poções regenerativas ou equipar itens, L para interagir com o mundo, R para fazer um Dash ofensivo ou manobra de evasão e os restantes botões totalmente costumizaveis à medida que as habilidades vão sendo desbloqueadas. O aspecto e interface de Heroes é intuitivo e quem conhece o modelo de jogo cedo assenta arraiais. Os gráficos são vistosos com especial atenção para o efeito 3D que funciona na perfeição ao nos dar uma dimensão real do espaço de jogo e uma sensação de profundidade que por vezes é difícil de conseguir nos jogos com esta perspectiva de câmara.

Eu sei que tens uma espada aí escondida no bolso.

 

A tecnologia StreetPass e SpotPass é utilizada de modo a permitir que os jogadores se juntem a sessões de jogo online ou através de ligação local, e também aceder ao Traders Network, um espaço em que é possível trocar e vender itens. Iniciámos a sessão de jogo localmente e num instante nos ligamos e começamos a pequena aventura. Cada personagem tem algumas opções de costumização, mas que nos souberam a pouco. Cada jogador fica com uma cor identificativa que pode ser escolhida e funciona de marcador durante a sessão. O dualscreen da 3DS é feito à medida deste tipo de experiência: no ecrã superior é onde se passa a maior parte da acção, pelo menos de combate, enquanto o ecrã inferior mostra o mapa e um conjunto de opções que incluem a folha de personagem, o sistema de trocas e o nosso inventário de itens.

Algumas galinhas continuam a preferir os botões para navegar nos menus, mas eu pessoalmente encontro na navegação através do touchscreen um meta-jogo muito satisfatório. Poder interagir com os menus num toque de dedos é prático e tornou a minha sessão de jogo muito mais eficiente, em especial quando tentava perceber como funcionava o sistema de trade. Apesar de pouco intuitivo ao inicio, rapidamente compreendemos que todos os menus dispõem de um ícone de ajuda que permite aos menos pacientes aprender rapidamente as funcionalidades de cada menu e de cada símbolo. Simples, eficaz e muito bem pensado. Passámos quase tanto tempo a combater como a navegar os menus para trocar itens, evoluir o personagem à medida que subíamos de nível ou a dar uma vista de olhos à lista de estatísticas dos nossos heróis. O sistema de trade permite seleccionar itens para troca que são sinalizados imediatamente aos outros jogadores, podendo a transacção ser feita por itens, gold ou um conjunto entre os dois. Este sistema de trocas irá certamente levar a que uma das primeiras interacções entre jogadores online seja algumas dezenas de minutos a trocar itens.

Estes monstros são sempre uns javardolas. E dizem-se mal compreendidos…

 

Heroes of Ruin aparenta ser um jogo pragmático e acessível, no entanto a nossa sessão de jogo deu para vislumbrar que terá profundidade em termos da progressão e dinâmica entre os personagens. Tivemos a oportunidade de percorrer duas masmorras e a dificuldade elevou-se de modo surpreendente na segunda, resultando em algumas mortes prematuras. Talvez por inabilidade nossa, mas provavelmente por uma das galinhas preferir se separar do grupo e saquear o ouro sozinha e rapinar os itens. Tão pouco tempo de jogo e já encontramos o nosso primeiro ninja looter. Ainda tentamos resolver a disputa com um duelo mas infelizmente o jogo não suporta PvP, focando-se antes na experiência de cooperação. A dificuldade é escalada consoante o número de jogadores e a sessão de jogo manteve-se desafiante até ao fim.

A cidade de Nexus funciona como núcleo do jogo. Nela podemos comprar e vender itens, recolher quests, treinar o nosso personagem e descansar depois das batalhas. O sistema de habilidades encontra-se dividido em árvore de talentos, com diversos ramos que permitem estruturar o personagem em builds. Não tivemos oportunidade de explorar a fundo as combinações e a dinâmica entre as classes, mas pela extensão de opções acreditamos que o sistema permita bastante variedade dentro da limitação das 4 classes padrão. Cada skill é desbloqueada usando pontos atribuídos ao subir de nível, disponíveis de acordo com níveis sucessivamente mais altos. Evoluir um determinado ramo permite aceder a habilidades que não só afectam o próprio jogador como também o resto do grupo, em muitos casos.

Heroes of Ruin dispõe de um sistema de desafios diários que podem ser acedidos através do SpotPass. Para além da campanha, o jogo oferece novos conteúdos periódicos que prometem manter o jogo fresco e aumentar consideravelmente a sua longevidade. A nossa sessão de jogo soube a pouco, e normalmente isto é bom sinal. Jogar lado a lado em cooperação foi fantástico. Ter um RPG deste calibre na palma das nossas mãos é perigoso, o barulho do ouro ao ser apanhado e a disputa amigável por armas e armaduras agoira muitas horas de vicio. O jogo suporta voice chat, o que pode facilitar enormemente a interacção entre os jogadores e enriquecer a experiência de jogo. Ficamos bem impressionados com Heroes of Ruin e esperamos sinceramente que todo o seu potencial se concretize. Este jogo parece ter sido feito por alguém que sabe muito bem o que os amantes do Action RPG ocidental gostam e apreciam.

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