Custou-me ver recentemente a THQ a apanhar tareia de virar tripas de todo o lado. A Internet habitua-nos muitos vezes a mostrar o pior que há nas pessoas e ver os milhares de comentários a deitar abaixo a editora foi um espectáculo um pouco triste. É certo que as grandes editoras têm muito que lhes possa ser apontado: que não promovem a liberdade criativa o que faz os criadores fugirem para o Indie, que nos fazem pagar passes online e depois largam o suporte a esses jogos, ou o célebre debate dos DLC’s de primeiro dia. A virtude está sempre no meio e é certo que também são essas editoras que arriscam milhões de euros para nos trazer grandes jogos. Muitas vezes, jogos esses que acabam por fazer a editora perder dinheiro.
Antes de saltarem em cima da THQ, lembrem-se que foi esta a produtora que nos trouxe (por ordem alfabética) Broken Sword, Darksiders, deBlob, Deadly Creatures, Homefront, Red Faction, Saints Row: The Third ou Stuntman Ignition, entre outros. Comparem apenas esta amostra com o catalógo de outras como a Electronic Arts e vão perceber que este gigante é um dos que mais aposta nas ideias fora da caixa.
Se há uma grande crítica a fazer à THQ é que é a editora mais culpada em fazer adaptações miseráveis e preguiçosas de licenças cinematográficas da Disney e de outros grandes franchises de Hollywood, que a editora já reconhece ter sido um erro. Já a aposta errada de um investimento absurdo em uDraw que atirou a companhia para o vermelho não pode ser apontado como um erro inevitável. O risco é muitas vezes a alma do negócio e, embora a estratégia da THQ pudesse estar errada, noutros casos como Skylanders da Activision passou-se o oposto. You never know. Esperamos que a empresa consiga sair do buraco, agora que até está a admitir muitos dos seus erros e a querer corrigi-los. Para além de passar a querer assumir uma estratégia de maior qualidade com os franchises de cinema, assumiu que descorou a promoção de muitos títulos bons no passado, o que os fez passarem despercebidos nas prateleiras. Um desses jogos foi Metro 2033.
Metro 2033, da equipa Ucraniana da 4A Games foi um shooter recebido com críticas mistas sem conseguir consenso. O jogo é porém um bom FPS, principalmente porque o mesmo se passa quase todo no underground do sistema de Metro de Moscovo dentro de um enorme labirinto de túneis. Se pensam que as secções de exterior retiram a claustrofobia ao jogo enganem-se, pois a razão pela qual estamos no subsolo é porque uma guerra nuclear já foi deflagrada. Com o ar no exterior repleto de gases tóxicos, sempre que saímos para fora temos de usar uma máscara de gás que ainda torna o ambiente mais opressor. Sem ser perfeito, Metro 2033 é uma das experiência mais sufocantes que se podem jogar e um shooter com grandes pinceladas de survival horror. Com o jogo a custar actualmente cerca de 10 euros em primeira mão online ou a preço similar em segunda mão na maior parte das lojas especializadas, vale a pena experimentar.
Se é certo que cenários pós-apocalípticos já começam a ser tão frequentes como mudanças de governo em Portugal, o Eurogamer (quando fez a análise de Metro 2033) referiu e bem que Fallout foi um dos maiores sucessos de sempre no Leste e não nos esqueçamos do fantasma de Chernobyl. O certo é que esta temática do mundo depois da terceira grande guerra mundial habita o imaginário da criação actual no Leste, seja na literatura, no cinema ou nos videojogos.
O novo Metro: Last Light (Playstation 3, Xbox 360 e PC) segue obviamente a mesma fórmula: Ano de 2034, Moscovo pós-apocalíptica em ruínas, a humanidade refugiada em túneis no subsolo, ameaças mutantes causadas pela radiotividade, uma guerra civil entre os sobreviventes, escuridão, imersão, claustrofobia. Já o ouvimos vezes sem conta. Mas, como afirma Danny Bilson da THQ, o problema de Metro 2033 foi termos um grande jogo nas mãos e não o sabermos promover. Se é certo que promover o jogo no Leste não será grande problema pois parece que este género vende-se por lá como batata doce quente no Inverno, é num Ocidente a mostrar claros sinais de cansaço com este género que reside o problema.
A curta metragem criada agora para promover Last Light mostra que a THQ talvez saiba o que está a fazer e que, com alguma sorte, tenha finalmente entendido o que deve fazer no futuro.
http://www.youtube.com/watch?v=8S6rPhoej_s&feature=youtu.be