É do conhecimento universal que o Deus do Antigo Testamento era uma pessoa extremamente sensível com os nervos à flor da pele. Como Ele ainda não tinha inventado a psicologia nem os ansiolíticos, cada vez que faziam algo que não gostava lá choviam sapos, pragas, meteoritos ou doenças mortais para os primogénitos. Para Deus, um tabefe ou uma semana de castigo em casa não era forma suficiente de educar as suas criações. Outros tempos.
Uma das estórias mais famosas do Génesis é a criação da Torre de Babel, narrativa que está porém envolta em alguns equívocos para muitas das pessoas que a contam. Para a grande maioria, a estória conta que a humanidade quis construir uma torre tão grande que chegariam aos céus e seriam maiores do que o seu Deus. Vai daí, o Senhor que já se sabe que não suportava nem que lhe levantassem o tom de voz, fez chover cometas e outras catástrofes que atiraram a torre por terra.
Na verdade, a estória real como está descrita na Bíblia possui muito menos destruição, uma metáfora muito mais forte, para além de uma moral extremamente perigosa. A seguir ao grande dilúvio a humanidade procriou que nem coelhos a fim de conseguirem refazer o quórum de população necessário para tomar decisões. Ora, como seria de esperar, toda esta humanidade falava a mesma língua, habitava o mesmo local e, demograficamente falando, começava a sobrelotar o mesmo espaço. Como é de boa tradição dos homens, toca então a explorar coisas novas para fazer e nas planícies de Shinar resolveram construir uma grande cidade com uma enorme torre. Palavra atrás de palavra, pedra em cima de pedra, a empreitada queria ir cada vez mais longe e já se falava na torre ser tão alta que tocaria os céus.
Deus, ameaçado pela eficácia dos homens, percebe que com todos a falarem a mesma língua e a partilharem a mesma vontade nada os poderia parar. Para além do mais, tinha prometido a seguir ao dilúvio que não voltaria a castigar os homens (se bem que o tenha dito com figas atrás das costas) e enquanto estes se lembrassem estava de mãos atadas.
“Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros” disse o Senhor e assim fez. Espalhou a humanidade por todo o planeta e confundiu as suas línguas, cada grupo ficando a falar a sua. A torre, se acabou destruída, foi pela erosão do tempo e dos elementos, pois a mesma ficou abandonada com a construção a meio, depois da humanidade ter sido baralhada por completo.
Daí, como vêm, a estória tem muito menos destruição, possui um mito metafórico que explica a existência das diferentes linguagens e comporta em si uma moral que se assemelha a muitas das formas de estar de grande parte das Igrejas: não tentes ir mais longe do que deves, ou Deus castiga.
Babel Rising é desta forma biblicamente errado. O jogo coloca-nos no papel de Deus a ter que castigar os homens enquanto estes tentam construir a Torre de Babel. Errado do ponto de vista da construção da torre, extremamente certo na forma como Deus castiga. Em Babel Rising, Deus está em casa com poderes pelos quais é famoso: provocar terramotos, fazer cair chuvas de raios devastadores, lançar inundações arrasadoras, entre outros passatempos de um Senhor aborrecido. O jogo é uma evolução natural (mas não digam evolução natural muito alto) da versão iPhone que agora é melhorada com um grafismo 3D muito mais detalhado para Playstation 3 e Xbox 360. O jogo suporta ainda controlo a partir de Kinect ou de Move, o que pode testar ainda mais a nossa paciência do que os homens testaram a do Criador e pode ser razão para pedir “Perdoa-os Pai, pois eles não sabem o que fazem”.
O jogo é lançado a 13 de Junho, digitalmente para as consolas da Microsoft e Sony, e no dia seguinte em todas as plataformas iOS e Android. No dia 27 de Junho segue-se ainda uma versão para PC.
http://www.youtube.com/watch?v=AcSnSmCzje0