Magia na palma da mão.

Abracadabra. A primeira palavra que aprendi quando era criança sobre magia, ao lado dos pequenos truques de cartas, moedas e copos. Abracadabra surgia naqueles momentos quando conseguíamos tirar da mão um lenço que na realidade estava escondido debaixo da manga. Surgia quando escondíamos aquela namorada do faz de conta ou o nosso amigo atrás do sofá e aparecia pelo chamamento da nossa esguiçada voz e braços levantados. Qualquer acto, por mais inocente que fosse, era mágico. Os mais jovens continuam com uma mentalidade fértil e continuam com cada vez mais recursos para impulsionar a sua capacidade criativa. Exemplo disso é Sorcery, exclusivo da PlayStation 3 especialmente criado para ser jogado com controlador Move, que expõe para o ecrã a magia e a aventura, com uma estória que faz lembrar os clássicos contos de fadas, que por sua vez remetem para o significado da verdadeira amizade e de valores humanos. Portanto, Sorcery não é apenas um jogo que levou ao extremo o uso do Move. É também, por mim, visto como um espaço para incutir uma mensagem que nós, adultos, entendemos vaga. Para um público mais jovem, esta é a realidade que os faz sonhar, mas atenção, não devemos entender que Sorcery é um “kid exclusive”, pois qualquer um se pode divertir pela mecânica do jogo. Em contradição a isto estão as vozes em Português que vão ao encontro do público mais jovem e que, continuo a dizer e não me levem a mal, o dubbling e o casting precisa ser dirigido e revisado por entendidos em Videojogos e por pessoas que os joguem. Não que estejam mal, nem se trata da qualidade dos actores e se são ou não apropriados para cada título. Trata-se deste nosso País que gosta de transformar conteúdos em morangos. Magia!

Ó vendedor, tens fruta?

 

Passemos então para a versão inglesa, onde percebemos que são timbres honestos e adaptados ao jogo, com a diferença de cada expressão se intercalar adequadamente entre personagens. Nada escapa e está tudo consolidado, digno de um jogo que apresenta qualidade Visual, Sonora e Musical. Entre as maiores potencialidades de Sorcery estão as animações de imagens sobrepostas no contar da estória, tipicamente usado em outros jogos, e os momentos em que Finn (personagem principal que comandamos) apanha poderes novos. São grandiosos, extremamente bem trabalhados e detalhados, importantes para a progressão no jogo.

Os quatro elementos naturais: Terra (terramoto), Fogo, Água (Gelo) e Ar (Vento); mais electricidade, são combinados de forma a ter maior aproveitamento e causar destruição. Deixando um exemplo, lançar um muro de fogo para depois ser absorvido por um redemoinho de vento e lançar neste o ataque principal que se vai espalhar aleatoriamente pelos inimigos, torna-se num campo de destruição em massa. Pior que Hitler, assim me sinto. Outra combinação que me fez levantar uma das sobrancelhas para cima (Só uma. Duas é para o fogo. Orelhas a abanar é para o Gelo) foi o redemoinho com electricidade. Ter os inimigos a estrebuchar no ar, principalmente quando há outros em campo ou num Boss, é um bom princípio. Congelá-los com o poder de gelo pode também ser uma forma de evitar muitos a atacar-nos ao mesmo tempo, pois temos várias situações em que são tantos os inimigos em cena que temos de usar estas combinações. Chegou a doer-me várias vezes o braço (mais ao final do jogo) por ter tantos para matar. Sabendo usar bem as combinações e conhecendo a fragilidade de cada inimigo acaba por ser como manteiga barrada no pão (neste caso, aranhas barradas no chão).

Combinação de poderes fantástica. Levanto as sobrancelhas por isso.

 

Um problema que não posso aqui deixar de referir é a escolha dos poderes. Cada poder, para ser seleccionado, tem um movimento associado (e bem) com o Move e por vezes o que se faz é isto:

Meia roda para a esquerda, lança, meia roda para a direita, lança com efeito, circular para trás, lança, volta ao mesmo, lança, escolhe ataque principal, lança, lança, lança, lança (porque não uma opção para seleccionar o poder anterior e intercalar com o segundo?).

Agora imaginem isto a grande velocidade durante algum tempo e imaginem com o controlador descalibrado, mesmo havendo um slow motion durante a escolha destes poderes. Não é por acaso que alertam para retirar tudo o que está à volta do espaço onde se joga, e não é só por isso. É também pela irritação ou pela excitação que Sorcery pode trazer. Para evitar isso, pensem sempre que para progredir é tudo muito mais simples do que parece, principalmente na utilização de poderes num Boss. É por si só realizado para ser fluído e percebe-se muito bem logo no início do jogo, pela movimentação da varinha mágica e pelos movimentos na escolha e lançamento de feitiços. Movimentamos Finn com o controlador de navegação ou o DualShock e o resto é controlado com o Move, podendo variar o lançamento de feitiços (em frente, curvo, baixo, cima) e demonstrando-se bastante intuitivo. Há momentos que doí o braço, mas na maior parte do tempo chega a ser automatizado e as lutas bastante activas e compensatórias (em modo casual).

O jogo apresenta elementos RPG pelos upgrades e da escolha destes. Começamos com ingredientes que vamos colectando ou comprando, para depois fazer um research, combinando três ingredientes para criar uma poção. Cada combinação é uma poção diferente, sendo preciso ter os ingredientes, mais uma garrafa (na maior parte dos casos), para preparar no caldeirão e beber a poção abanando e direccionando o Move para baixo. Todos os efeitos após ter bebido são permanentes, excepto alguns, mas é improvável conseguir dinheiro para comprar tudo, que pode ir da poção para ter mais energia (health) à poção para nos transformar num porco. Como diz no jogo: “momentaneamente, infelizmente”. Mas será? Escolham bem os upgrades, porque este último, por exemplo, só dura alguns segundos (as vez que quisermos) e serve para: Nada! Apenas humor pela metade ao esquecerem-se das galinhas. Temos poções para ser ratos e passar por caminhos de passagem reduzida, ovelhas (só porque sim), ave (que não controlamos, porquê?) e podemos transformar os rebanhos duma aldeia numa praga de ratos ou porcos. Transforma-se ao gosto de cada um. Contudo, falta mais variação nestas transformações, como falta mais variação em todo o decorrer do jogo.

Abana, vira, mexe, abana, bebe.

 

Há uma carência de pormenores, mesmo que alguns lá estejam explorados pela magia e poções, principalmente. Áreas impossíveis de alcançar e que parecem zonas para explorar; a gata, companheira de Finn, que não se desvia do caminho se tentarmos passar onde está parada; colliders (muros invisíveis) entre objectos onde deveria ser uma passagem. Os objectos destrutíveis, que se encontram no percurso e dos quais apanhamos moedas e tesouros, só se partem com o feitiço principal (não será o terramoto ou o redemoinho com fogo suficiente para partir esses objectos?). Não se trata de bugs, mas de esquecimento, talvez. Alguns poderão dizer que são elementos insignificantes e que são desnecessários referir para catalogar Sorcery na prateleira dos bons jogos. Não o colocaria se não tivesse um espaço extra e se não fosse pela linda capa ou pela garantia de algumas poucas horas de divertimento com Move. Não o colocaria se não me fizesse jogar até ao final ou se não tivesse um final comovente e digno de um bom conto de fadas (excluam Disney e irmãos Grimm). Se não fosse pela fluidez de movimentos ou pela arte. Por outro lado, teria um lugar na prateleira dos intermédios pelas partes repetitivas e com pouca contribuição para o enredo.

Estamos na fase de acreditar na potencialidade do Move. Sorcery implementa, e bem, o controlo de movimento com precisão, fuidez e com carácter intuitivo, do início ao final do jogo. Melhor até hoje desenvolvido para PlayStation Move, dizem, e é possível. Só não se percebe como demorou tanto a The Workshop a desenvolver Sorcery, tendo uma campanha que não é propriamente longa e com falta de pormenores que identifiquei acima. O visual dos poderes, cenários, magias são bastante agradáveis e o som que acompanha todos os efeitos visuais retratam muito bem esse mundo mágico. Um jogo simples que nos leva a pensar em opções impossíveis, com desafios que nos levam a arrancar os cabelos… Estou a brincar, são simples. Muito simples. Para amantes de Magia (esqueçam lá o Harry Potter!) este é um título que poderá certamente interessar. Longevidade pouca, mas é divertimento garantido para um grande núcleo de jogadores.

 

Sorcery é um exclusivo PlayStation Move