Quando Miyamoto abriu a conferência da Nintendo com as suas brincadeiras em torno de Pikmin 3 mostrou porque razão a Nintendo consegue criar mecânicas de jogo tão fabulosas. O mítico criador da Nintendo é uma criança, no bom sentido. Está lá no brilho dos seus olhos toda a magia de alguém que quando está a criar pensa em jogos como diversão e não em jogos como máquinas de fazer dinheiro. Esses primeiros momentos faziam prever uma grande apresentação da Nintendo, algo que era esperado há semanas e que todos previam ser a grande conferência da E3. Só que a partir daí, as expectativas foram descendo gradualmente.

A Nintendo tinha aqui a sua grande oportunidade de convencer o mundo que a Wii U é a máquina de jogos que todos precisam nas suas salas. Falhou redondamente. O mais curioso, é que se forem ver todos os vídeos dos produtores dos jogos, todos os trailers e todos os guias de jogo que estão disponíveis na página da Nintendo dedicada à E3, percebem que a Wii U é mesmo uma máquina fabulosa para se ter na sala. Como se erra uma coisa destas com tantos meses de preparação, ultrapassa-me.

Antes de Reggie entrar em palco, Miyamoto, como dissemos, apresentou-nos o novo Pikmin 3. Este é um dos franchises da Nintendo que mais despercebido passa do público mas basta jogá-lo para perceber porque tanto se desejava o seu regresso. Um jogo de estratégia em que controlamos séries de pequenas criaturas que são híbridos entre um animal e uma planta e os usamos, assim como as suas diferentes habilidades, para conseguir atingir os nossos objectivos nos cenários. Imaginem um jogo de estratégia saído da mente criativa de Shigeru Myamoto.

O novo Pikmin 3 está obviamente deslumbrante, com maravilhosos cenários 3D que parecem maquetas e animações diferenciadas para cada Pikmin. O novo GamePad da Wii U mostra um mapa do nível no seu ecrã enquanto jogamos no televisor. Ao que parece, a jogabilidade principal está preparada para o Wii Remote com Motion Plus normal mas quando jogamos apenas com o GamePad temos uma forma diferente de jogar. Por exemplo, com o GamePad passamos a poder controlar 4 líderes de Pikmin e vemos o jogo de uma câmara mais vertical e mais afastada. Esta ideia de que no mesmo jogo temos jogabilidades a solo diferentes se usarmos o Wii Remote ou o GamePad pode ser uma revolução ou conduzir a uma grande confusão nos jogadores mais casuais. Ainda não o sabemos. Pikmin 3 foi ainda mostrado só com recurso a vídeos, sem estar a ser jogado no palco, algo que se iria tornar uma constante em todo o evento.

 

Miyamoto, antes de se despedir, referiu ainda que criou Pikmin 3 para mostrar às pessoas o tipo de diversão que os jogos com uma mecânica mais densa podem permitir, num momento em que os consumidores estão a mudar-se para os jogos mais simples e casuais. Só por esta frase: Respect! (com um punho fechado a bater no coração).

Quando Reggie Fils-Aime, o presidente da Nintendo América entrou em palco (outro que curiosamente ainda mantém uma cara de miúdo) avisou que a conferência era toda acerca dos jogos e que eles eram o mais importante. Logo aí eu percebi que podia esquecer as características técnicas da consola. Qual o processador, qual o poder gráfico, o tamanho do disco rígido, seriam perguntas que se percebeu automaticamente que iriam ficar sem resposta.

A Wii U quer mudar três coisas. Quer mudar a forma como jogamos, a forma como nos conectamos uns com os outros e a forma como vemos os conteúdos na televisão. Quer ainda revolucionar a sala de estar. Nesta última parte acho que a Nintendo está a esticar-se um pouco mas concordo com o mudar a forma de jogar. Aquilo que a Nintendo apelida de jogabilidade assimétrica e que só é permitida pelo seu novo GamePad, com conteúdos diferentes no ecrã do controlador e na televisão pode realmente revolucionar a forma de jogar. E com o novo Miiverse (que o André também já explicou um pouco neste artigo) com mensagens sobre os jogos no GamePad de amigos ou outros jogadores de, por exemplo, como ultrapassar uma secção do jogo em que nos encontramos, talvez possa estar a surgir uma revolução social no que diz respeito aos jogos. Em relação ao resto do mundo fora da jogabilidade a Nintendo e as outras marcas que esqueçam. O Facebook não as vai deixar.

A Nintendo tem no entanto de gerir muito bem o Miiverse, pois a sua “rua principal” que é a primeira coisa que vemos quando ligamos a consola e que tem todos os Miis dos amigos ou de pessoas na nossa área a conversarem em balões, parece um emaranhado confuso de conversas e frases que nos tapam o essencial a que queremos aceder.

Continuando nos jogos, New Super Mario Bros U é um jogo que vai tirar partido deste Miiverse, onde todos podem estar a discutir a forma de conseguir mais moedas ou a gabarem-se das suas pontuações. Neste, como em muitos jogos, o ecrã do GamePad será um estilo de janela para uma rede social dentro do próprio jogo. Isto bem construído é bem capaz de resultar. O jogo é uma sequela do mesmo jogo na Wii com jogabilidade para 4 jogadores e com o jogador do GamePad a poder criar plataformas adicionais para ajudar ou martirizar os outros. Mais uma vez, só um vídeo mostrado no ecrã do evento.

 

Esta tendência dos vídeos ainda se tornou mais estranha quando Martin Tremblay, o presidente da Warner Bros. Interactive foi chamado ao palco. Para começar, a Nintendo tem de desistir das conversas em guião entre presidentes que supostamente devem ter graça. São estranhas, têm pausas embaraçosas e nada adiantam. O presidente veio dizer quão importante é o franchise de Batman para eles e chamou ao palco Reid Schneider, o responsável pela versão Wii U de Batman Arkham City: Armoured Mode que por sua vez conversava enquanto víamos um vídeo das característica no ecrã. Mas porque raio vem tanta gente ao palco se ninguém sequer vai jogar o jogo? O novo Batman possui características que tiram proveito do GamePad, como usá-lo como um scanner quando apontamos para o televisor, o mapa no controlador é mostrado em tempo real enquanto nos deslocamos, o inventário está todo disponível no GamePad Pro via toque, ou o facto de podermos controlar os Baterangs com os sensores de movimento do comando de forma precisa. Isto é o que vende a Wii U senhores! Mostrem isto no palco, enquanto jogam e falam. Mas não. Vídeos. Como este.

 

Scribblenauts Unlimited, que também foi anunciado mais tarde para a 3DS, teve lugar a, adivinharam, um vídeo. Este foi ainda mais estranho porque o criador da 5th Cell foi chamado ao palco mas depois o vídeo tinha uma narração pré-gravada. Se todos os jogos da Wii U não estivessem disponíveis para jogar no stand da Nintendo, eu pensaria que alguma coisa devia estar errada com a consola. Foi também através de uma sequência de montagem que vimos pequenos trechos de Darksiders II; Mass Effect 3; Tank! Tank! Tank!; Tekken Tag Tournament 2; Trine 2 Director’s Cut (que merecia um lugar de destaque na apresentação); Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge; ou Aliens Colonial Marines, alguns dos jogos de outros produtores third-party que estão a caminho da consola.

O fitness é algo em que a marca nipónica tem de apostar. Podem brincar o que quiserem com Wii Fit e com Wii Fit Plus, mas o certo é que já venderam mais de 43 milhões de cópias no mundo. Pois é. Não são só os condutores, os atiradores e os salteadores que dão dinheiro à indústria. Os que querem divertir-se a fazer exercício ou a cantar são uma das maiores fatias do mercado. Para elas e para eles vai ser lançado Wii Fit U, que conta com novos mini-jogos e rotinas de treino e que permite usar apenas o ecrã do controlador como ecrã principal. O jogo irá ainda incorporar um Fit Meter, um pequeno dispositivo que permite trocar dados de treino com outros GamePads através da ligação de infravermelhos. Para os cantores a Nintendo está a preparar SiNG (cujo título não é final), com os criadores de DJ Hero, um jogo em que no GamePad estão as letras da canção e no ecrã da televisão estão as rotinas de dança, permitindo a todos na sala interagirem uns com os outros, em alternativa em estar à espera da sua vez para ir cantar.

http://www.youtube.com/watch?v=HV93svATZgs&list=PL2EF2AE9D81064AF9&index=8&feature=plpp_video

 

LEGO City Undercover é um jogo que promete muito. Imaginem um GTA, no universo da LEGO, em que o nosso papel é o da lei e ordem. Com um mundo aberto, disfarces, veículos e muitas missões, este é um dos meus jogos mais esperados no catálogo da consola. A jogabilidade assimétrica permite um sistema de comunicações no GamePad ou utilizá-lo como scanner, entre outras funcionalidades. Apresentando com, um vídeo. Este exclusivo terá também uma versão para a portátil da Nintendo.

 

Tivemos de esperar 50 minutos na conferência até termos a primeira demostração no palco. Yves Guilemot da Ubisoft, deu lugar a Xavier Poix, que chamou um grupo de dançarinos profissionais, e que deu a Reggie a possibilidade de jogar Just Dance 4 durante 2 minutos. E depois disto, nunca mais se jogou novamente em palco. Dois minutos. De Just Dance 4.

Bem mais interessante teria sido terem jogado ZombiU aquele que é a maior surpresa do catálogo da consola e possivelmente um dos melhores jogos para a mesma. A “assimetria” parece perfeita aqui. O GamePad serve de sonar, scanner, inventário, keypad, e muitas outras funcionalidades. Sim, é um jogo de Zombies, mas não podemos ter tudo. Uma montagem mostrou-nos ainda os títulos que a Ubisoft tem na manga para a Wii U como Assassin’s Creed III, Rabbids Land ou o excelente Rayman Legends que deveria ter sido uma das demonstrações principais no palco.

 

Para o final estava ainda reservado o novo Nintendo Land. O presidente da Nintendo América afirma que este jogo vai fazer os jogadores entenderem o conceito da Wii U e do seu GamePad assimétrico, assim como o Wii Sports fez os jogadores entenderem a Wii original. Acredito que sim mas, um conselho: então coloquem-no no pacote da consola. Nintendo Land é um parque de diversões baseado nas propriedades intelectuais da Nintendo como Zelda, Donkey Kong, F-Zero e outros. O título é um conjunto de 12 mini-jogos que tiram proveito das novas funcionalidades do comando e que elevam o multiplayer para um nível que, em alguns casos, pode vir a revelar-se genial. Na maior parte dos jogos que envolvem mais do que uma pessoa, quem tem o GamePad acede a jogabilidade diferente de quem tem o Wii Remote.

Ver este jogo de Donkey Kong a mexer é perceber a importância de Nintendo Land.

 

Por exemplo, no mini-jogo Luigi’s Mansion o jogador com o GamePad controla um fantasma que os outros jogadores não vêm nos televisores. No entanto, sempre que o fantasma se aproxima de um jogador, o Remote dele vibra, podendo assim avisar os outros onde o fantasma anda. Juntem a isto uma mecânica de os jogadores terem lanternas que gastam pilhas e começam a misturar uma série de elementos de jogo que mostram o talento da Nintendo para a criação de experiências. Imaginem Nintendo Land como uma mistura entre Mario Party, Wii Play e Wii Party, mas com muitas inovações de jogabilidade proporcionadas pelo comando. Pode não parecer, mas este é um dos jogos mais importantes a reter desta conferência. Apresentado, para a surpresa geral, apenas com vídeos.

Qual o preço da Wii U? Não sabemos. Qual a data de lançamento final? Não sabemos. Quais as características técnicas? Um documento fornecido à imprensa sobre o hardware detalha o processador como sendo um multi-core da IBM, o GPU como sendo um AMD Radeon de alta definição, uma memória interna de flash sem referência às capacidades e não diz nada sobre a capacidade dos discos de jogo Wii U nem sobre a autonomia de bateria do controlador. Mais generalista e vago que isto é impossível. É suposto a consola estar disponível para o público em Novembro se quiser vender no Natal. Faltam 4 meses, como é possível que não existam mais detalhes? O que se pode estar a passar?

Foram estas últimas perguntas sobre o que está realmente no interior da Wii U e sobre qual o preço que esta vai custar que ficaram por responder. O alinhamento de jogos não trouxe praticamente nenhuma novidade sobre o que se vinha a falar, excepto Nintendo Land que poderá ser uma boa surpresa. Com um suporte third-party que é fraco, pois praticamente não existem exclusivos coube a ZombiU da Ubisoft salvar a festa. O melhor da Wii U é o seu GamePad e o conceito de jogabilidade assimétrica, algo que a Nintendo falhou claramente em explicar numa conferência em que os jogos deviam ter sido jogados em palco. Se um jornalista consegue perceber isso depois de ver mais umas dezenas de vídeo e de juntar as peças todas, para a maior parte dos jogadores a ideia pode passar despercebida. O boca a boca será a forma de passar informação, é certo, mas ao contrário da Wii esta consola não vai de certeza ser muito barata no seu arranque. Será por isso que não sabemos mais nada? Veremos o que aí vem. Não estraguem isto Nintendo, pois vocês têm um controlador fantástico nas mãos.