They live among us… Is it you? Is it me?

O mundo já não é o que era, estamos no ano de 2080 e entre nós vivem robots que se fazem passar por Humanos. Isto por si só já constitui um problema, que se agrava ainda mais, quando esses mesmos robots “pensam” que são realmente Humanos. Eles não sabem, não fazem a mínima ideia que são máquinas. Alguém anda a violar a lei número 21 do novo código de Genebra, que considera crime a produção de robots semelhantes a Humanos. América e Japão são as duas grandes potências responsáveis pelo desenvolvimento de toda esta tecnologia de vanguarda e as suspeitas recaem sobre a Japonesa AMADA Corporation. É então enviada uma equipa de soldados de elite, para encontrar e capturar o responsável. Está assim lançado o mote para este 3rd person shooter que nos chega da SEGA. Exactamente, leram bem, da SEGA. Depois de a mesma em 2010 nos ter apresentado a agradável surpresa que foi Vanquish (já aqui analisado), um 3rd person shooter criado no oriente, mas tipicamente ocidentalizado; agora, em 2012, volta a fazer o mesmo com Binary Domain. Mas não se pense que Binary Domain é um clone de Vanquish. Faz-nos lembrar Vanquish, mas fica só por aí. Digamos que… qualquer semelhança com Vanquish é pura coincidência… ou não! Na equipa de criação de Vanquish esteve presente Toshihiro Nagoshi, dono e senhor da serie Yakuza. Nagoshi possivelmente pegou na bagagem que acumulou com Vanquish, na Platinum Games e trouxe para o seu recém formado Yakuza Studio a criação de mais um 3rd person shooter que passaria muito bem por ter sido criado no ocidente, como é da praxe deste tipo de jogos.

Assumimos o papel de Dan Marshall, o playboy americano que, ao chegar a Tokyo, se faz acompanhar de Bo, o veterano abrutalhado. No decorrer das primeiras missões, vamos encontrar os restantes membros que irão compor a nossa equipa. Michael, um Inglês do MI6 que não sabe quem é o James Bond; Rachel, uma senhora com ar ameaçador que se faz acompanhar de um RPG; Faye, a barbie chinesa que domina uma sniper rifle; Cain, um robot francês, extremamente bem educado e de pronúncia Americo-Francesa, com mania que é um cowboy do oeste; e finalmente Shindo, um japonês pertencente à resistência que sofre de males intestinais e a dada altura faz com que fiquemos todos barricados num WC, rodeados de robots desejosos de nos aniquilar. Estava mesmo muito apertadinho! Ele já devia saber que quando se é personagem de videojogo, se usa fralda. Não há tempo para paragens forçadas. Só os Sims estão autorizados a usar WC! Estamos assim perante personagens estereotipadas e cheias de carisma, que no desenrolar da estória nos vão proporcionar bons momentos de risada.

Listen Very Carefully, I Shall Say This Only Once

 

A jogabilidade é em quase tudo semelhante ao que este género já nos vem habituando, embora tenha alguns pormenores que pretendem fazer a diferença. Um deles é a introdução da tecnologia SpeechFX que através de um headset nos permite dar ordens à nossa equipa: fire, charge, regroup ou cover me e um simples yes ou no. Funciona? Pois nem chegam à capacidade de resposta do carro KITT! Maioritariamente, os membros da equipa acabam por fazer o contrário do que lhes ordenamos, ou até mesmo a não o fazerem; ficam todos atrapalhados a correr de um lado para o outro e eu a assistir na primeira fila. As opções permitem configurar bem o microfone e fazer reconhecimento de voz, mas não funciona em nosso abono durante o jogo. E para que não pareçamos lunáticos a gritar e a perder a cabeça contra o televisor, o melhor mesmo é desligar esta funcionalidade e usar o botão que dá acesso a essas opções manualmente e aí já tudo funciona claramente bem. Contudo não são só ordens que lhes podemos dar; em Binary Domain há espaço para elogios como Good Job ou You’r a idiot (podemos tomar isto por elogio) e até mesmo sentimentos próprios de Primavera, como I love you. Mas e qual é o objectivo de toda esta troca de palavras umas vezes insultuosas e outras vezes apaixonadas? Pretende-se aqui também marcar a diferença e com isto criar um sistema de confiança entre Dan e cada um dos membros da equipa, que irá influenciar a forma como em batalha respondem às nossas ordens. Se temos baixo nível de confiança com algum membro, ele faz birra e não responde às ordens de combate que lhe damos. O friendly fire é também um factor que contribui para o nosso relacionamento com eles, pois caso sejam atingidos por nós, começam a ralhar connosco e ficam amuados momentaneamente. Nada que não se resolva com um par de estalos. Nos momentos mais calmos da acção, é possível conversar com eles através de uma série de diálogos que são disponibilizados e assim contribuir para o nosso relacionamento com cada um. É uma espécie de conversação como a de Mass Effect, mas que não vai alterar de forma relevante o rumo dos acontecimentos, podendo no entanto originar finais alternativos. Todo este conceito de nos fazer interagir mais com o jogo e os personagens é interessante, mas está pouco aprofundado.

Opá! Deslarga-me!

 

Binary Domain merece referência ao seu argumento, que é um dos seus trunfos. Sendo o tema da robótica e mundo futurista já bastante trabalhado nos dias de hoje, a estória que nos é apresentada não tem nada que já não tenhamos visto. Aliás, remete-nos bastante para o universo de Blade Runner, mas está muito bem contada, dramatizada e cheia de reviravoltas; fazendo com que fiquemos agarrados e queiramos superar nível após nível de forma entusiasta. Seguramente damos connosco a reflectir sobre o que é ser-se humano. O que é a vida? Não foi de ânimo leve que assisti ao suicídio de um Hollow Child (este é o nome dado aos robots semelhantes a Humanos). O autor do argumento? Anthony Johston, uma boa escolha, sem dúvida. A acompanhar uma boa estória, temos tiroteios intensos e dinâmicos, onde não há lugar para a monotonia. A variedade de robots inimigos é equilibrada e os muitos Bosses que enfrentamos são sempre épicos e exigem diferentes formas de abordagem. Os robots mais comuns que vamos limpando do cenário têm várias formas de ser aniquilados e com isso acumulamos mais pontos, para poder ir às compras. Há que acertar nas pernas e braços dos homens de lata e assim ganhar mais uns pontinhos. O head shot está do nosso lado; ao atingir a cabeça de um robot, ele dispara contra os seus semelhantes. Isto no modo hard é muito, mas mesmo muito útil! Believe me! Poderão perguntar: “Mas durante todo o jogo estamos acompanhados por toda a equipa?” – Não. Também ao estilo Mass Effect, quando vamos para cada uma das missões, temos que escolher um a dois membros para seguirem connosco, enquanto os restantes ficam encarregues de outros afazeres da mesma missão, como por exemplo cobrir a retaguarda ou ir procurar provas contra a AMADA Corporation, e neste caso as escolhas que fazemos resultam em cutscenes exclusivas com esses mesmos colegas. Quando se vai às compras, em pequenos terminais (diga-se de passagem “muito iguais” aos de Dead Space), espalhados por todo o cenário, é possível comprar armas, medic kits, granadas e habilidades de combate para Dan e os seus companheiros; bem como fazer upgrades das armas de todos. As habilidades referidas consistem em aumentar as capacidades de precisão de disparo, saúde, resistência, etc. E isto que “oferecemos” aos nossos colegas, também contribui para o tal sistema de confiança. Curiosamente, este 3rd person shooter ao contrário dos demais, não tem muita variedade de armas ao nosso dispor e Dan e os restantes membros não são dotados de poderes bizarros nem de força supra-humana. São personagens bastante credíveis, por assim dizer, o que faz com que tenhamos de usar o sistema de cobertura com bastante frequência; este mostra-se bastante eficaz, e até os robots adversários, que possuem uma inteligência artificial muito aceitável, também fazem uso dele para se protegerem de nós. Graficamente, Binary Domain é competente, não é soberbo, mas não nos incomoda. Peca talvez por ser relativamente cinzento, em que possivelmente umas cores mais vivas e harmoniosas não ficariam mal numa Tokyo do futuro; que coincidência ou não, parece ter uns toques de Yakuza.

Quando perco a cabeça fico incontrolável! Eu já vos tinha avisado para não tocarem nos meus cereais do pequeno almoço!!!

 

Esgotadas as cerca de 10 horas de single player, este pode ainda ser jogado em modo Survivor (o equivalente a Hard) , conferindo uma luta bastante renhida entre nós e as máquinas, em que as nossas abordagens têm que ser um pouco mais pensadas e como anteriormente disse, o head shot vai ajudar muito. Posto isto, resta-nos o modo multiplayer que não tem nada de novo. À nossa disposição temos os modos Deathmatch, Team Deathmatch, Team Survival, Data Capture, Demolition, Domain Control, e o Operation, sendo este ultimo um modo em que duas equipas se defrontam para alcançar objectivos pedidos. Os servidores estão maioritariamente cheios de jogadores japoneses, que falam entre si e discutem as mais avançadas técnicas de combate para exterminar o adversário. Pelo menos assim quero pensar… pois eu de japonês não percebo nada; no entanto expressavam-se de forma muito entusiasta. Na realidade deviam estar a insultar-me, devido às minhas más prestações dentro da equipa, pois confesso que sou muito desajeitada para este tipo de confrontos multiplayer. Estes senhores é que não conhecem a Ana, a nossa galinha altamente treinada e qualificada nestas lides. Por fim, o meu modo preferido, o Invasion, onde juntamente com outros jogadores, temos que combater hordas de robots até 50 rondas. Claro que esta se revela uma tarefa difícil, quando não há espírito de união entre o grupo (tive sempre a infelicidade de me cruzar com pessoal individualista e kamikaze). O modo online está lá, funciona sem problemas, mas não acrescenta longevidade nem mais interesse por Binary Domain. Ficaria a matar a possibilidade de se jogar o modo campanha em co-op! Seria a cereja no topo do robot, certamente.

Com Binary Domain temos provas de que nem só de Yakuza vive Toshihiro Nagoshi. Não há registos de Nagoshi alguma vez ter criado um jogo deste género, sendo portanto o seu primeiro e o resultado não é brilhante, mas convence e não nos deixa indiferentes. Binary Domain está como que a passar despercebido, não teve a merecida atenção, mas mais uma vez do Oriente nos chega a mensagem de que lá, também se podem fazer bons 3rd person shooters e conquistar o Ocidente!(?) Ou até mesmo passará por alcançar um target japonês que não costuma debruçar-se neste tipo de jogos tipicamente ocidentais. Aliás, no Japão está disponível um DLC para Binary Domain, com vários personagens da série Yakuza, para serem usadas no modo multiplayer. Se gostam deste género e desta temática, não deixem que Binary Domain vos passe ao lado. 

(Versão analisada: PS3. Também disponível para Xbox 360 e PC)