Felizmente para quem é fã da saga, o universo de Mass Effect não começa e termina com os DVD. Além de meios artísticos mais convencionais, como livros e banda desenhada, temos uma quantidade respeitável de conteúdo adicional, e isso inclui três apps para iOS, umas melhores que outras. São elas:

 

Mass Effect Galaxy


Anterior ao lançamento do Mass Effect 2, o Mass Effect Galaxy era (e digo era porque foi retirado da app store em Fevereiro) um shooter com elementos de física e pretensões a semi RPG sob a forma de uma história e meia dúzia de opções de diálogo. O combate é linear e deselegante: disparamos automaticamente, só temos de girar o iPhone ou iPod touch na direcção para onde queremos ir, e depois temos mais três ou quatro poderes bióticos que se activam com um toque no ecrã. A história está bastante boa para o tipo de jogo que é, com revelações mais ou menos inesperadas pelo caminho, e consiste nas férias goradas do Jacob Taylor, que viríamos a ter na party no Mass Effect 2, a converterem-se na tentativa de salvar o embaixador batarian de ser assassinado por extremistas. Claro que pelo meio as coisas já não são bem assim, e depois mudam outra vez, mas está bem feito. Preferia, no entanto, não ter tido a opção de ser Paragon ou Renegade tendo em conta que o Jacob afinal tem uma personalidade definida no ME2, mas isto é uma queixa menor de quem só jogou o Galaxy muito depois de ter terminado o Mass Effect 2.

Ena! Uma imagem da Miranda em que não se lhe vê o rabo! Estarão doentes?

 

Mass Effect Datapad

Disponível gratuitamente, o Datapad foi, para mim, o miminho inesperado, a cereja em cima do bolo que foi o Mass Effect 3. A app tem cinco áreas: Alliance News, Mail, Media, Galaxy at War e Codex. Destas posso dizer que achei a Media completamente irrelevante: são vídeos e screenshots do jogo, os mesmos que encontramos no site oficial, mas não podemos sequer seleccionar um para usar como wallpaper. A secção Alliance News é o twitter oficial do ME3, o que acaba por ser simpático e apropriado numa app deste género, a Galaxy at War é um mini jogo desinteressante (onde tudo o que temos de fazer é seleccionar áreas no mapa galáctico para explorar e comprar upgrades de naves de um modo linear) mas que ainda assim nos oferece uma forma gratuita (e lenta, tão lenta!) de aumentar a nossa Galactic Readiness, e o Codex é o mesmo que temos dentro do jogo (e na Wiki de Mass Effect), mas agora num formato convenientemente portátil e acessível. Então porque apregoei eu que esta app era a cereja em cima do bolo? Por causa da secção de Mail. Esta área é nada mais nada menos do que uma maneira da nossa party do Mass Effect 3 comunicar connosco. À medida que vamos avançando na história vamos recebendo mini emails que não estão disponíveis de qualquer outra maneira e que adicionam um toque muito bem-vindo a um jogo já de si magnifico. Se tiverem um aparelho capaz de a correr não deixem de a ir buscar.

Não imaginam como me derreti quando recebi este email do Garrus depois do grande momento romântico do jogo.

 

Mass Effect Infiltrator


Supostamente o supra-sumo das apps de Mass Effect, o Infiltrator deu azos a muitos momentos de frustração cá em casa. O sistema de combate promete muito, mas nem sempre cumpre: rebolamos de um lado para o outro com um gesto à esquerda, controlamos a câmara com uma mão e o movimento com a outra (e, se estivermos num iPhone, nem sempre sobra ecrã suficiente para vermos para onde exactamente é que queremos ir), carregamos nos inimigos para fazer mira e disparamos automaticamente. Se tivermos o último update também podemos disparar manualmente e temos mais uma missão de bónus. Além disso podemos comprar mais poderes, fazer upgrades aos que já temos, e comprar ou melhorar armas. Ganhamos créditos com cada missão e podemos ir apanhando pacotes de dados que podem ser convertidos em mais créditos ou prontamente enviados para o Mass Effect 3, para aumentar a nossa Galactic Readiness. Depois de interiorizarmos a mecânica, o sistema de jogo até é razoavelmente bom, mas sofre de um defeito que suspeito ser mais uma maneira de nos fazer gastar dinheiro do que uma simples falha de design: é que como não podemos ter mais do que um save, e quando gastamos os créditos já não podemos voltar atrás. Se de repente nos depararmos com um inimigo que não estamos a conseguir derrotar por nada este mundo, não podemos ir para um load anterior e tentar comprar coisas diferentes. Resta-nos lutar contra a vontade de atirar o nosso iDevice à parede durante as primeiras 135 vezes que morremos naquele boss específico e esperar que tenhamos sorte na 136ª, ou então comprar mais créditos com dinheiro real, dentro da aplicação.

Pensem lá bem. Este parece-vos o aspecto de um tipo que quiséssemos irritar quando até o tínhamos do nosso lado?

 

A premissa da história é simples: um agente da Cerberus resolve ir contra a organização para salvar uma técnica de laboratório amiga dele, a Inali, e leva tudo à frente. Quando digo “a premissa é simples” não quero dizer que faça sentido. Senão vejamos: Randall Ezno, o nosso personagem principal, é um membro leal da Cerberus e um sucesso em termos de implantes Reaper, sendo capaz de usar os poderes que estes lhe conferem sem lhes ter sucumbido. Quando o jogo começa está o Randall a conversar via intercomunicador com a Inali enquanto derrota alegremente Geth e captura Turians como se não houvesse amanhã; depois regressa à base, troca mais meia dúzia de palavras com ela, e percebe que algo de errado se passa. É aqui que tudo descamba. Afinal, o director da base resolveu fazer experiências na Inali, e ainda se ri do sofrimento mental do Randall. Pois. Nunca vi a Inali, ouvi-a durante três minutos, e já querem que sofra com o destino dela só porque o Randall se lembra de berrar “Inali!” durante o resto do jogo? Não me convencem. Ainda temos um Volus omnisciente para nos ajudar sem sabermos muito bem porquê. E já agora, se a estrelinha da base, cãozinho de ataque obediente e exemplo modelo da fusão de tecnologia Reaper com fisionomia humana que é o Randall estava tão apegado à Inali, porque é que o director resolveu mandar isso tudo à fava para fazer experiências atrozes naquela humana completamente vulgar? A Cerberus é suposto ser uma organização impiedosa, não estúpida, e este comportamento parece digno da brigada suicida de Monty Python, mas com muito menos estilo. Por fim, uma dúvida existencial: onde esteve a powerhouse que é o Randall durante todo o Mass Effect 3, quando o/a Shepard mais precisava de aliados fortes contra os Reapers? Na praia a apanhar sol? No psiquiatra a tentar ultrapassar a perda da Inali? É que alguém com aquelas capacidades tinha vindo mesmo a calhar para fazer algo muito pouco importante na qual o/a Shepard tanto insistiu, lembram-se do que era? Ah, sim. Salvar a galáxia.

A história dos jogos, para mim, é como a letra das músicas: supremamente importante. Se uma boa música tem uma letra miserável, então tornem-na num instrumental, senão não a consigo apreciar. E se um jogo como este tem uma história miserável, então retirem-lhe a história e façam do jogo o Randall a treinar contra vagas de inimigos, ponto final. Não me peçam é para me esquecer da (inexistência de) qualidade da história em prol do sistema de jogo. Quero os meus €5,49 de volta!