Museu de Arkham, Massachusetts. Forças tenebrosas encontram-se em andamento, estranhos acontecimentos por todo o museu forçaram ao seu encerramento prematuro. Na cidade falam-se de criaturas hediondas avistadas aqui e ali, fala-se do fim dos tempos, da chegada de uma entidade cósmica pelas mãos de cultistas. O universo de Lovecraft é de pouca esperança, o malfadado escritor de ficção de terror nos anos 20 e 30 do século passado, de grande influência na literatura, cinema e também nos videojogos. Na cidade de Arkham, com o seu asilo para os insanos, o original… não há Batman que nos valha.
Elder Sign Omens é a conversão digital de Elder Sign, jogo de cartastabuleiro pelas mãos da Fantasy Flight Games, que em conjunto com a Chaosium, tem sido um dos principais arautos do Cthtulhu Mythos, o universo partilhado por muitos escritores que continuam a expandir o paradigma de horror de H.P. Lovecraft. Descrito como “Arkham Horror light”, por apresentar um conjunto de mecânicas simplificadas e fortemente baseadas neste jogo último, também ele de tabuleiro que conta com 25 anos de existência. Arkham Horror é um portento de jogo, com mais de 700 peças individuais, tokens e cartas, um tabuleiro enorme e várias horas de jogo cooperativo até 8 jogadores que já conta com 8 expansões. Elder Sign é uma opção viável para aqueles que não têm oportunidade de tirar um dia de folga para se entregar de corpo e alma a um jogo de tabuleiro, oferecendo uma alternativa mais leve a um jogo que apesar de bastante bom é pouco acessível a iniciados e impraticável em curtas sessões de jogo.
Omens é uma produção típica da Fantasy Flight Games, um jogo que desde os primeiros segundos transpira qualidade. Visualmente apelativo, com arte directamente retirada da linha de jogos Arkham Horror, é ainda bastante polido a nível sonoro, com cutscenes e diversos vídeos tutoriais simples e directos. Dentro de poucos minutos estamos a jogar sem qualquer problema. O objectivo do jogo é simples, impedir que uma criatura cósmica hedionda seja invocada dos confins do espaço inter-dimensional, o que irá inevitavelmente acontecer após diversos turnos de jogo caso uma equipa de 4 investigadores não consiga reunir um certo número de Elder Signs, uma runa mística que permite selar o portal por onde a criatura vai sair. O jogador controla 4 personagens de 16 que se encontram disponíveis, investigadores que serão sobejamente conhecidos de quem já jogou os jogos de tabuleiro, sendo os heróis base do Arkham Horror original. Cada investigador possui uma habilidade única e um conjunto de itens com que começa o jogo. A título de exemplo, Carolyn Fern, a psicóloga de serviço possui a capacidade de restaurar um ponto de sanidade a uma personagem no inicio de cada turno.
Caso o Ancient One acorde, ou todos os investigadores perderem quer a vida, quer a sanidade, o jogo termina. Para ganhar Elder Signs o jogador terá de explorar o museu e resolver eventos ou aventuras, através de um sistema de glifos. Cada aventura tem um conjunto de glifos que terão de ser atribuídos para que seja resolvida, glifos que terão de ser conjurados. Esta mecânica corresponde ao rolar de dados na versão de tabuleiro. Rolar os glifos é um acto de pura sorte, mas as habilidades que cada investigador possui e que podem também ser adquiridas com pontos, têm a função de modificadores probabilísticos. Apesar do jogo ter uma boa parte de sorte, à medida que vamos conhecendo os seus meandros começamos a compreender que é possível estrategizar a melhor maneira de conseguir resolver os eventos. Ultrapassar um evento oferece diversas recompensas para além de Elder Signs, mas falhar significa sofrer diversos tipos de consequências, desde perder vidasanidade, a fazer nascer monstros ou mesmo diminuir o nosso tempo. Antes de iniciarmos um evento teremos de analisar bem quais as recompensas e riscos de cada aventura, uma das formas pivotais da estratégia de jogo.
Elder Sign Omens é um jogo de tabuleiro perfeitamente idealizado para iPad e iPhone. E apesar de não ter o mesmo impacto de ser jogado numa mesa com dezenas de peças, é uma compra segura para os apaixonados de Lovecraft, da série Arkham Horror ou para quem procura um jogo de aventuraestratégia de qualidade na palma da mão. No entanto, o preço de €5.49 (iPad, €2.99 para iPhone) poderá fazer franzir o sobrolho a alguns de nós, especialmente porque a experiência Elder Sign Omens não estará completamente acessível por esse preço. O jogo trás 17 investigadores (um desbloqueável) e dois Ancient Ones, que correspondem a dois níveis de dificuldade, mas o famoso Cthulhu apenas estará disponível se comprado à parte juntamente com mais investigadores, por mais uns euros.
O jogo tem ainda um forte componente de sorte que pode ser do desagrado dos jogadores que gostam de ter controlo absoluto sobre a sua sessão de jogo. No entanto, tal como já foi referido, à medida que vamos explorando todas as opções que Elder Sign nos oferece, cedo compreendemos que temos armas para fazer face a essa aleatoriedade inicial. Outra crítica, mas esta acaba por ser um quezília pessoal de quem já batalhou muitas criaturas cósmicas, é o facto da Fantasy Flight continuar a reciclar alguma da arte dos seus jogos, que apesar de ser absolutamente fantástica, acaba por cansar um pouco quem já passou muitas horas a olhar para ela. Este problema não se aplica à versão digital per se, já que segue a linha da versão de tabuleiro. Pecuinhices, na verdade.
Mas apesar destes pormenores, acreditem quando vos digo que Elder Sign Omens é um jogo essencial no nosso iCoiso. Neste caso, pagamos pela qualidade. Precisamos de mais jogos assumidamente Lovecraftianos, e é surpreendente o facto da Fantasy Flight ter decidido desenvolver Elder Sign para formato digital já que era sua politica não converter Arkham Horror em videojogo. Elder Sign Omens dá um cheirinho do que é jogar os jogos de tabuleiro, um cheiro bafiento e nauseabundo a milénios de horror cósmico. Lovecraft na palma da mão.
Cthulhu Fhtagn!
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(Analisada a versão iPad. Disponível também para iPhone)
Comments (1)
Para quando uma tarde de board games com pessoal do rubber e os fieis leitores, isso é que era