É na rede que o Tekken rende

Esta história não tem nada de novo.
Tecnicamente há aspectos brilhantes, os combates retêm o espírito da série, o framerate constante a 60fps, a qualidade gráfica, o detalhe das 41 personagens disponíveis, os cenários variados, a possibilidade de nos ligarmos online para continuarmos a aperfeiçoar o nosso ranking, o efeito de 3D que está ao nível do melhor dos melhores que já presenciei nesta consola e, como se tudo o mais ainda não bastasse, há ainda uma longa metragem de animação, Tekken: Blood Vengeance (também em 3D) com batalhas épicas entre algumas das personagens mais emblemáticas deste universo ao som de breakcore a 180bpm… ufff!!

Tinha tudo para dar certo não é? O que é que falhou?

Foi a jogabilidade.
Para os fãs, Tekken, é um sinónimo de mecânicas complexas, modos de jogo apelativos, uma lista interminável de personagens e, para todos os efeitos, uma longevidade acima da média. Era isso que eu esperava nesta Prime Edition e foi portanto com natural interesse que abordei esta primeira tentativa de portar este título da Namco / Bandai para a Nintendo 3DS.

Este estilo mais ‘latino’ pode ou não ser questionável. Mas pelo menos é novo para esta personagem.


Mas logo de início há algo de muito estranho no ecrã de selecção de jogadores.
Todas as personagens estão disponíveis. Todas. O porquê desta decisão ilude qualquer adepto da série pois, que me lembre, não há nenhum Tekken que disponibilize todo o arsenal de lutadores sem primeiro os desbloquearmos.
Só este simples facto mexeu bastante nas minhas expectativas.

Sigam meu raciocínio:
Se não precisamos de desbloquear personagens então não há progressão nem arco narrativo. Se não há arco narrativo então a simples ânsia de chegar ao ‘fim’ do jogo dissolve-se (ao fim da história, por assim dizer). Se subtrairmos esta característica tão importante ficamos com algo que não é bem Tekken e passa a ser apenas um jogo com as personagens desse universo.
Sem ‘Story Mode’ e com todos os lutadores disponíveis desde o primeiro momento qual é então a estratégia desta Prime Edition?
Os combates online. Mais precisamente os combates online numa consola portátil em 3D.

Aqui a Namco / Bandai consegue um triunfo parcial. No que toca à jogabilidade em rede este Tekken consegue, pelo menos, entusiasmar quem já gosta e conhece ao que vem. É verdade que os combates são mais lentos devido a alguma latência mas o simples facto de estarmos diante de oponentes de carne e osso, com reacções imprevisíveis e níveis de mestria muito superiores ao CPU, é o suficiente para agarrar qualquer fã. Por outro lado pergunto-me porque não podiam ter mantido um pouco das tendências de RPG introduzidas em Tekken 6. É por aqui o futuro dos beat’em ups (já o disse na análise do último Soul Calibur) e custa bastante que não exista qualquer tipo de personalização disponível para além da possibilidade de alterar a cor do fato do nosso lutador. O que, claramente, não chega e ainda tem a agravante de essa possibilidade só ser concretizada após atingirmos um ranking extremamente alto.

Ficamos então com 4 modos jogo, apenas. Special Survival (um único Health Meter para derrotar tudo o que nos apareça à frente), Versus Battle (o tal modo de luta em rede, seja via Internet seja por conexão através da Street Pass / Wireless), Quick Battle (onde lutamos contra 10 oponentes na esperança subir de ranking) e Practice Mode (onde treinamos as nossas personagens e podemos ver demonstrações dos seus golpes).

“As meninas dançam?”. Aquele calcanhar dobrado em ângulo recto parece indicar o contrário.

Depois há as Tekken Cards… Aqui fico meio perplexo e admito que simplesmente posso não ser o ‘target’ da coisa. São 765 cartas para desbloquear ou coleccionar com os amigos via Street Pass. Infelizmente esta tarefa não é propriamente simples e no meu caso em particular revelou-se numa empreitada frustrante e no final bastante incompleta. Não tive o prazer de conseguir trocar nenhuma carta com outro jogador e as que consegui desbloquear não me trouxeram aquela sensação habitual de recompensa.

Resumindo: É difícil recomendar Tekken 3D: Prime Edition (e olhem que eu queria) como uma introdução ao universo desta excelente saga na consola da Nintendo. Os combates são incríveis e foram bem transportados para a 3DS, é certo.
Mas a falta de modos de jogo e a perda da personalização dos nossos lutadores têm um impacto demasiado grande para colocar este título de igual para igual em relação à concorrência.
Dito isto, para quem quiser apenas treinar as suas ‘skills’ de Tekken numa boa consola portátil e ver um filme em 3D tecnicamente bem sucedido mas com um software de ‘player’ da idade da pedra, esta pode ser a opção que procuram.
Mas
se possível experimentem-no na loja primeiro e tentem ligar-se a outro jogador.
Este pode ser o factor decisivo no momento da compra.

(Exclusivo Nintendo 3DS)