“I’m a space cowboy, Bet you weren’t ready for that” – Steven Miller

Starhawk transporta-nos para um universo em que os cowboys se deslocam pelo espaço e, quando em terra, fazem uso de artilharia pesada e até ordenam que dos céus lhes caia ajuda, mas não divina. Que estranho foi para mim quando comecei a jogar e me vi transportada para um casamento entre Red Dead Redemption e a série televisiva Firefly, do qual nasce este filho ilegítimo que é Starhawk. Estamos perante um 3rd person shooter com uma componente RTS bastante bem conseguida e maioritariamente focado na vertente multiplayer online. As origens de Starhawk remontam a 1995, com Warhawk; um exclusivo PSone que nos colocava aos comandos de um caça super pixelizado, com o qual travávamos uma guerra aérea. Mais tarde, em 2007, a Incognito Entertainment faz em exclusivo para PS3 um remake deste mesmo Warhawk, passado num Universo alternativo da Segunda Guerra Mundial e que opunha duas nações fictícias entre si. Tratava-se de um 3rd person shooter, com recurso à condução de veículos de combate tais como tanques e caças, sendo unicamente jogado em modo multiplayer, podendo ter até 32 jogadores em simultâneo. Na altura, Warhawk provocou furor e ainda hoje reúne uma enorme legião de fãs. Starhawk entra no meio disto tudo como sucessor espiritual de Warhawk e mais uma vez em exclusivo na PS3, pelas mãos da LightBox Interactive (sucessora da anterior Incognito Entertainment).

O componente chave de Starhawk é o modo multiplayer, mas ao contrário de Warhawk, possui um modo single player que deverá (pelo menos assim o recomendo) ser jogado em primeiro lugar, para que se sintam minimamente preparados para a festa de arromba que é o modo multiplayer. A estória que nos é contada é muito limitada e redundante; neste western Sci-Fi existe uma energia chamada Rift Energy, pela qual todos se debatem sem olhar a meios. É assim uma espécie de febre do ouro, ou a exploração actual do petróleo. Acontece que quem está demasiado tempo exposto a este tipo de energia, sofre mutações e transforma-se num Outcast. Se a Humanidade explora a Rift Energy para gerar riqueza, já os mutantes Outcast necessitam dela para sobreviver. Gera-se assim um cenário de guerra entre duas facções e entra em cena Emmett Graves (ou Emanuel, chamei-lhe Emanuel vezes sem conta) oriundo de um planeta chamado Dust, que tem como ocupação dos tempos livres caçar os desordeiros Outcast. Emmett vive à margem da sua comunidade, pois foi exposto a Rift Energy, sendo parcialmente infectado. O total makeover de Emanuel não acontece, graças a um colete que absorve a energia e impede a sua transformação. Ao longo da campanha estamos em permanente contacto com Cutter, um personagem que nunca vemos, porque está algures no espaço, na sua nave, mas que é de extrema importância.

Emanuel e a sua égua a assistir ao pôr-do-sol

 

Inicia-se Starhawk sem lugar para qualquer tipo de tutorial e introdução à mecânica de jogo. A aprendizagem fica a nosso cargo e desde logo começamos a experimentar tudo quanto é botão para ver o que acontece (isto claro, com ligeiras indicações do tal senhor Cutter). A primeira coisa que nos apercebemos é que temos o “dom” de instantaneamente fazer cair dos céus paredes (mais propriamente muralhas com possibilidade de fortificação), torres de vigia, veículos, bunker’s, antiaéreas e até cápsulas, com soldados para nos ajudarem no combate! É só pedir e voilà… o item cai do céu e auto constrói-se assim como as tendas da Quechua! Mas de onde chovem todas estas guloseimas para o Emanuel?! Os Deus devem estar loucos!(?) É Cutter o moço das entregas, que desde a sua nave e onde quer que esteja, nos envia o que queremos, bastando para isso apenas especificar o pedido. É nisto que reside a originalidade de Starhawk, trazendo até nós o modo Built n’ Battle; uma junção de 3rd person shooter, com estratégia em tempo real que não nos atrapalha em nada, antes pelo contrário. Somos assim arquitectos do nosso cenário e da forma como se aborda o inimigo. Os confrontos de Emmett dividem-se entre o planeta Dust e combates aeroespaciais, onde nestes últimos temos à nossa disposição um Hawk que na realidade é mais uma espécie de Transformer, porque quando não está a voar sob a forma de caça, pode ser usado como mech nas batalhas no solo.

Que caia já aqui um bunker!

 

Os fãs e conhecedores de Warhawk não vão estranhar os combates aéreos e irão identificar muitos elementos e semelhanças do que foi o guia espiritual de Starhawk. Para os que caem de pára-quedas neste jogo; o domínio do espaço aéreo poderá ser um pouco turbulento, mas ao fim de algum tempo comandar o Hawk, passa a ser uma extensão bem sucedida dos nossos polegares. O desenrolar da acção é frenético e bastante fluído; basicamente vamos eliminando hordas de inimigos que vêm em waves, sendo que segundos antes dessas mesmas waves nos é dada a possibilidade de personalizar e fortificar a zona em que estamos, para o que nos vai aparecer pela frente. Se jogarmos no normal mode, Cutter indica-nos de que frentes vão atacar os Outcast; mas caso joguem em hard mode, adivinhem vocês mesmos de onde poderão vir os mutantes; portanto este Build n’ Battle vem mesmo a calhar. “Cutter send me a Wall now!” e se estivermos em combate aéreo será algo do tipo: “Cutter give me torpedos now!” Abençoado Cutter. Isto de encomendar coisas vindas do céu não é sempre que o homem quer; Emmett pode invocar os préstimos de Cutter apenas quando tem energia suficiente acumulada no seu colete protector/armazenador de Rift Energy, o qual será relativamente fácil recarregar, uma vez que vamos absorvendo energia dos Outcast que matamos ou pelos pequenos depósitos de Rift Energy que existem pelo cenário. É de salientar que os comandos de acesso à opção de escolha de itens vindos do céu são um pouquinho toscos e requerem habituação e sensibilidade. Está tudo condensado no botão do Triângulo, que ao ser pressionado abre uma enorme roda e com o joystick escolhemos o elemento que queremos; o que no meio de combate e acção abundante pode gerar certa confusão.

“Fly me to the moon, Let me play among the stars”

 

Visualmente, Starhawk apresenta-nos cenários bastante coloridos, misturando elementos do velho Oeste com ficção científica; daí eu ter mencionado inicialmente aquela espécie de casamento entre Red Dead Redemption e Firefly. Até a banda sonora nos faz sentir num filme western, em que a característica melodia da harmónica está bem presente. As cutscenes estão inteligentemente trabalhadas; são em 2D e com um visual muito estilístico, apresentando-se com um aspecto de banda desenhada.

Terminámos então cerca de 5 horas de Single player que serviram de instrução para a grande experiência multiplayer que Starhawk nos quer proporcionar. Com a possibilidade de estarmos 32 jogadores em simultâneo num mapa, a expectativa é grande. Temos como opções os modos Capture the flag, Deathmatch, Team Deathmatch, Zones e ainda um modo co-op split screen em que na companhia de um amigo, defendemos um extractor de energia rift contra hordas de Outcast durante 10 rondas. Em qualquer um dos modos, os jogadores de cada equipa são colocados em pontos opostos do mapa, e a partir daí é à vontade de cada um. Digo à vontade de cada um, porque o facto de a jogabilidade de Starhawk ser tão variada, permite que cada jogador encontre o seu estilo de jogo preferido. Ora posso construir a minha torre de vigia e ser sniper, ora encomendo um hawk e ando pelos ares a bombardear a base inimiga, como posso fazer-me passear num tanque e ir esmagando o que me apetecer pelo caminho. Mas tendo a possibilidade de fazer uso do Battle n’ Build, a tendência é que desde que iniciamos o confronto, cada um de nós vai ajudando na construção das defesas da nossa base, contribuindo com uma parede, uma antiaérea, etc. Isto desde que tenhamos energia suficiente (cada jogador tem possibilidade de mandar vir dos céus 32 itens). Depois de termos os nossos aposentos relativamente operacionais, começamos a escolher o tipo de abordagem ao inimigo; uns optam por ficar na base e esperar que a montanha venha a Maomé, outros escolhem o seu tipo de veículo e vão de encontro à base inimiga. Esta versatilidade de abordagens faz com que cada combate seja sempre diferente e imprevisível até ao último minuto. Há também o hábito recorrente de se jogar muito à defesa; por exemplo no caso do Capture flag, constroem-se defesas muito eficazes e fica-se à espera que venham à ratoeira. O pior é que do lado oposto também acontece o mesmo e durante muito tempo fica-se ali numa espécie de limbo. Para os mais experientes, poderão fazer por se juntar a um clã, ou criar o seu próprio e ir amealhando pontos de experiência, o que lhes dará direito a subir de nível e desbloquear equipamento extra ou habilidades de combate. Importante será dizer que o decorrer da acção é super fluída, não havendo quebras na ligação.

A LightBox Entertainment mostra o que sabe bem fazer e traz-nos um jogo com um modo multiplayer muito competitivo, capaz de acrescentar horas e horas de diversão para além do que foi o single player. Diria que foi um jogo arriscado; desde a sua temática descabida de fazer um western do espaço até à introdução de elementos RTS numa jogabilidade continua na 3ª pessoa (pelo menos acho que nunca vi nada assim), mas que obteve resultados muito bons, sendo caso para dizer que o risco compensa e fazendo com que Starhawk seja até ao momento um dos melhores multiplayer’s para PS3. Agora se me permitem, vou matar mais uns Outcast pois a luta continua imprevisível!

(Starhawk é um exclusivo para PS3)