O regresso da consola Neo Geo é visto por muitos como a segunda vinda do Messias. E parece que este Natal isso vai mesmo acontecer. Mais ou menos. Neo Geo X resulta de um esforço conjunto entre a SNK Playmore, a Tommo Inc. e a Blaze Europe. Talvez este último nome seja familiar, se nos recordarmos das consolas Megadrive e Atari que surgiram nos últimos anos, com funcionalidade de Plug n’ Play ou formato portátil com até duas dezenas de jogos no caso da SEGA. E parece que a Neo Geo vai pelo mesmo caminho, o que são óptimas notícias para quem nunca teve oportunidade de jogar numa das melhores consolas jamais feitas. O preço de admissão? Cerca de 200 dólares. Leram bem. No mínimo arriscado, mas acredito que ainda assim seja vendida. Vamos ver porquê.

Os jogos incluídos na consola são os seguintes:

A nova portátil com 20 anos mais cara de sempre.

  • 3 Count Bout
  • League Bowling
  • Art of Fighting II
  • Magician Lord
  • Alpha Mission II
  • Metal Slug
  • Baseball Starts II
  • Mutation Nation
  • Cyber Lip
  • Nam 1975
  • Fatal Fury
  • Puzzled
  • Fatal Fury Special
  • Real Bout — Fatal Fury Special
  • The King of Fighters 95
  • Samurai Showdown II
  • King of the Monsters
  • Super Sidekicks
  • Last Resort
  • Word Heroes Perfect

O pacote Neo Geo X Gold oferece uma consola portátil com ecrã LCD 4.3 polegadas, uma entrada para cartão SD, output A/V, uma réplica da consola AES original que serve de carregador de bateria e de docking station permitindo jogar na televisão. Vem acompanhada ainda de uma réplica do icónico joystick da AES.

A Neo Geo AES (Advanced Entertainment System) é considerada por muitos como o Rolls-Royce das consolas. Foi possivelmente a consola mais poderosa em comparação com as suas pares a jamais ser lançada, ao longo da história dos videojogos. É uma consola que actualmente é bastante procurada por coleccionadores, com preços raramente abaixo dos 250 euros, e com jogos que podem ascender aos milhares de euros a peça. Parece loucura, não é? As coisas valem o que alguém tiver disposto a pagar por elas.

É linda.

 

Mas para compreender o fascínio da AES é necessário colocar as coisas em perspectiva e perceber o impacto que teve quando foi lançada. Naquela altura, o sonho de qualquer jogador era ter uma cabine de arcade em casa. O zénite em termos de produção gráfica e sonora estava nas arcadas, os melhores e mais icónicos jogos eram exclusivos dos salões para maiores de 16 anos, com os consoleiros a terem de se contentar a jogar versões “rascas” dos seus jogos de arcade preferidos. Mas a Neo Geo mudou isso tudo. Dentro da pequena caixa negra estava nada mais nada menos do que uma cabine de arcade, sem tirar nem por. A SNK dispunha de uma versão em cabine, a MVS (Multi Video System) que possibilitava a inclusão de diversos jogos na mesma cabine, por meio de cartuchos, cujas versões AES eram essencialmente as mesmas. A Neo Geo caseira trouxe uma capacidade de processamento gráfico e sonoro que as suas rivais apenas podiam sonhar. Com tudo para ser bem sucedida, o que falhou?

O preço: a consola custava mais de 600 dólares e cada jogo rondava os duzentos dólares. Lembram-se da celeuma que a PS3 causou com o seu preço de venda inicial, imaginem isto há 20 anos atrás. A consola rapidamente se encaixou num nicho de gente com dinheiro para gastar em brinquedos para adultos. A empresa fabricou a sua última AES em 1997 mas ainda continuou a lançar jogos até 2004. O elevado preço da consola tornou impossível qualquer esperança da SNK em competir com as grandes, e com o declínio do mercado das cabines de arcada, ainda apostou na Neo Geo Pocket e na Neo Geo CD, consideravelmente mais barata mas que nunca replicou o sucesso da AES. Finalmente a SNK voltou-se exclusivamente para o desenvolvimento de jogos, em especial das suas franchises, como Metal Slug, Samurai Showdown, Fatal Fury ou Art of Fighting.

Actualmente a Neo Geo é responsável por um dos maiores cultos nos videojogos, um núcleo de gente com uma paixão inabalável sobre uma consola, arrisco-me a dizer sem igual. Como curiosidade, vamos ver alguns dos mais raros e cobiçados jogos da lendária máquina.

 

 

Kizuna Encounter (EU)

Um jogo de luta de estilo torneio, um género muito comum na época áurea das arcadas, a versão japonesa de Kizuna Encounter é relativamente fácil de encontrar e de preço acessível. Já a versão europeia pode ser virtualmente impossível de adquirir, até pelo facto de não se saber ao certo se o jogo chegou a ser publicado sobre essa versão. Os números que surgem em pesquisas pelo valor do jogo são assustadores, não menos de $5000, até cerca de $13000. Uma loucura.

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Versão MVS de Kizuna Encounter

 

 

Ultimate 11

Um jogo de futebol,  quarto e último da série Super Sidekicks, o número de cópias desta raridade conta-se pelos dedos das mãos. Razões mais do que validas, obviamente, para largar até $10.000 por um exemplar. Ou porque não um rim. Neste momento encontra-se uma cópia da versão japonesa no ebay por $449.99. Vão rápido!

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Metal Slug

Um jogo que despensa apresentações, com inúmeras iterações em muitas e diferentes consolas. Metal Slug é um dos mais icónicos, divertidos e sólidos shooters de plataformas jamais feitos e merece estar na Hall of Fame dos videojogos. A versão AES do original é bastante rara pela escassa quantidade de cópias, um facto estranho tendo em conta a fama que o jogo tem. É talvez o jogo mais reconhecível da SNK e apesar de encontrarmos indicações de valores até cerca de $3000, neste momento encontra-se uma cópia da versão japonesa à venda no ebay por $469.99. Enfim, sempre podemos jogar noutra qualquer consola por uma pequena fracção deste preço. Mas não é a mesma coisa, pois não?

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Aero Fighters 3 (US)

No início do ano surgiu a notícia surpreendente de que uma cópia da versão Americana de Aero Fighters 3, ou Sonic Wings no Japão, teria sido vendida pela módica quantia de $30.000, numa transacção feita num aeroporto. Uma versão nunca comercializada, mas com a suposta existência de 3 cópias, uma das quais estaria envolvida nesta transacção. Seria de esperar que este caso fosse investigado ao mais ínfimo pormenor por membros da comunidade Neo Geo e do banzé criado pela noticia surgiram sérias dúvidas acerca da autenticidade do exemplar. No início deste mês  vieram à luz evidências que apontam fortemente para uma possível falsificação, tendo em conta factores como as características do manual, do autocolante do cartucho e da capa do jogo, analisados ao ínfimo pormenor. Esta malta não brinca em serviço. Pudera, com os números envolvidos não seria de esperar outra coisa e o facto de existir uma comunidade atenta é algo valoroso. Porque no mundo Neo Geo, de escassez de jogos, elevada procura, e existência de cartuchos copiados e versões modificadas, todo o cuidado é pouco. E se nos entusiasmarmos, o dinheiro também. Um artigo com um resumo das informações acerca deste caso encontra-se disponível no site SubstanceTv, para os mais curiosos.