A última novidade do próximo Hitman é o aguardado modo Contracts. A IO Interactive explica-nos de que modo poderemos levar a experiência dos assassinatos ao próximo nível, oferecendo ainda maior grau de liberdade, num jogo que é reconhecido pelas suas escolhas e variedade.

Com este modo poderemos criar os nosso próprios contractos de assassinato, customizando missões a nosso belo prazer que podem ser depois partilhadas com o mundo. A série Hitman sempre foi sinónimo de escolhas e jogabilidade emergente. Eliminar um alvo envolvia normalmente duas opções, entrar a matar ou de modo o mais silencioso possível. Mas o espaço de manobra em cada nível foi sendo sucessivamente calibrado e aumentado, ao ponto de termos um número considerável de maneiras de aproximar os nossos alvos, e despacha-los friamente. O que começou por ser um jogo mediano com diversos problemas (Hitman: Codename 47) tornou-se com Silent Assassin num clássico instantâneo que foi sendo sucessivamente aperfeiçoado ao longo das sequelas, constituindo-se como uma das melhores referências no género.

Hitman Absolution está com um aspecto incrível e tem estado nas luzes da ribalta pelos motivos errados, muito graças ao trailer infame que envolvia freiras vestidas com pouco látex a serem despachadas pelo Agent 47. O circo que se montou em volta do trailer, e da sua suposta temática sexual e fetichista da violência sobre a mulher, levou a um pedido de desculpas por parte de Tore Blystad, director do jogo, tal como reportado pelo IGN. Blystad afirmou que nunca foi intenção ofender ninguém e que o trailer foi recebido fora do contexto da história do jogo e das suas personagens, de estilo Grindhouse, uma influência citada pelo director.

Tá fesquinho.

 

Quem dirigiu o trailer sabia o que estava a fazer e que tipo de impacto desejava, não sejamos ingénuos. Mas se os resultados foram de encontra as expectativas promocionais, não sabemos. Meio mundo falou de Hitman Absolution, o interesse continua genuíno e, mais que tudo, acima de qualquer trailer ou interesse fetishista. Aceito que o trailer possa ter sido de mau gosto e pobre conceptualmente, e o que me choca mais não é tanto a violência, mas a sexualização da mulher. Mas isso é uma batalha que é travada desde há muito tempo e comum a grande parte da produção AAA desde sempre. Mas surpreende-me que se acredite que este tipo de conteúdos seja apelativo aos jogadores de Hitman, sejam adolescentes imberbes ou não, e custa-me especialmente acreditar que a direcção do jogo pretendesse invocar sentimentos de animosidade sexual sobre a mulher como género.

O trailer é dirigido ao público masculino, não temos dúvidas. Pretende chocar a audiência com a apresentação de freiras sexualizadas de atitude hiperviolenta? Parece-me evidente. Mas não acredito que o aspecto das freiras pretenda justificar o facto do Agente 47 as brutalizar, por serem “freiras debochadas que merecem levar uma lição” como foi sugerido por alguns críticos. E é importante que se discutam estas coisas.

Seja feita a minha vontade.

 

Em relação ao trailer, aquilo que mais me incomoda é a sexualização da mulher e não propriamente o facto de serem freiras, ou da violência das cenas. Já vi trailers mais violentos, na verdade. Será que o facto de serem freiras é o nervo sensível da questão? E se fossem Budistas ou Hindus? Não sabemos os pormenores das personagens ou história, mas Hitman sempre teve a devoção religiosa como aspecto importante. O próprio Agente 47 é um homem devoto, numa luta interna entre a sua natureza e propósito, e a busca por absolvição. Devoção extrema e compromisso absoluto são temas que nos remetem para homens e mulheres de hábito, mas talvez a forma como se tentou transmitir alguns destes conceitos no trailer, se é que algum, não foi a melhor.

Vender um produto com marketing de qualidade duvidosa, ou insinuar que a imagem que os developers têm do seu público é de serem um grupo de gente reles e com muito pouco gosto, são duas formas redutoras de abordar conteúdos que podem ser ricos, num jogo que é muito mais do que um trailer.

Como dizia o Miguel Nogueira no seu artigo recente : Tapem os seios, mostrem os jogos. Hitman Absolution é um jogo demasiado importante para se perder o foco sobre a sua jogabilidade genial.

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