Imagino que se visitarmos os escritórios da Sony vamos encontrar um cenário parecido com o filme “Voando Sobre um Ninho de Cucos”. O gestor de produto anda descalço pelo corredor a soprar bolas de sabão, a responsável dos recursos humanos bate na cabeça sistematicamente, a técnica de logística sobe e desce a secretária enquanto bate os braços como uma ave, e o analista de mercado encosta-se à parede a tapar os ouvidos e a gritar. Enquanto tudo isto acontece, Kevin Butler atira jogos para o meio da rua, para quem os quiser apanhar.
No dia 29 de Junho de 2010 arrancou globalmente o serviço de subscrição pago da Playstation Network, conhecido como Playstation Plus. As funcionalidade online da Playstation 3 e da PSP sempre tinham sido gratuitas até à data, e a Sony assegurava que continuariam a ser, mas para aqueles que quisessem um serviço mais completo a empresa disponibilizava um pacote com novas funcionalidades: demos do jogo na sua versão total que expirava dentro de um período de tempo; descontos regulares nos jogos existentes na loja; acesso prioritário a versões beta; download de conteúdos e updates automáticos numa hora designada pelo utilizador; gravação de saves dos jogos em servidores externos; e jogos gratuitos, ocasionalmente.
Claro que sendo a Playstation começou imediatamente um debate entre imprensa, jogadores, fãs, haters, trolls e muitos outros sobre qual o valor acrescentado que os cerca de 50 euros anuais proporcionavam. Muitos apontaram o dedo à Sony acusando-os de quererem encher os bolsos com um serviço que não justificava o preço. Afinal de contas, nem sequer o chat de voz entre amigos quando se está a jogar, existente no concorrente Xbox Live, o serviço da Playstation proporcionava. O serviço da Microsoft serviu muitas vezes de comparação, uma vez que a subscrição é de valor similar, com a discussão entre qual o melhor a subir quase sempre de tom.
Mas, sem grande publicidade e alarido, algo começou lentamente a acontecer no Playstation Plus. Os prometidos jogos grátis ocasionais, deixaram de ser assim tão ocasionais e começaram a ser cada vez mais frequentes. Era rara a semana em que os jogadores entravam na loja e não saiam de lá surpreendidos com o que acabavam de receber a custo zero. Muitos de nós começámos à procura onde estariam as letrinhas pequeninas pois, quando a esmola é grande, o gamer desconfia. No entanto, a única coisa que encontrámos é que os jogos deixariam de estar disponíveis se deixássemos de pagar e usufruir do serviço. Fazia perfeitamente sentido e era completamente justo.
Não contente com as constantes surpresas a Sony quis provocar o espanto (e até o choque) nos seus jogadores, quando na recente E3 anunciou a colecção instantânea de jogos. O negócio seria o seguinte: os subscritores actuais e os futuros subscritores do Playstation Plus contavam logo com 10 jogos grátis entre os quais se incluíam vários títulos AAA e, ao longo dos meses, alguns jogos desapareciam e outros apareciam no seu lugar. Porém, desde que os subscritores continuassem a assinar o serviço, os jogos que já tinham desaparecido continuavam disponíveis para jogar na sua colecção. A promessa seriam 45 jogos grátis por ano. Parece fantasia certo? Só que, curiosamente, é a realidade.
É por tudo isto que eu acho que a Sony enlouqueceu de vez e, mesmo não sabendo se isto é sequer sustentável, estou a adorar a perda de capacidades cognitivas da empresa japonesa. Ora vejamos, desde que a colecção instantânea começou em Julho eu já recebi: Just Cause 2; Borderlands; Saints Row 2; Lara Croft: The Guardian of Light; Infamous 2; OddWorld HD; Outland; Little Big Planet 2; Virtua Fighter Showdown; Choplifter HD; Zombie Apocalypse; Warhammer 40.000: Space Marines; Retro/Grade; Dead Space 2; Rock of Ages; Darksiders; Motorstorm Apocalypse, Chime e Deus Ex: Human Retribution.
Desde Julho recente!
No entanto, uma vez que eu tenho Playstation Plus desde que o serviço começou em 2010, juntam-se à lista de jogos gratuitos no disco da minha PS3 os seguintes: Renegade Ops; Tomb Raider Underworld; Infamous 1; Sky Fighter; Trine 2; Maximo; Back to the Future; Dead Nation; Hydrophobia Prophecy; e muitos, muitos mais que entretanto já apaguei do disco.
A partir de hoje, junta-se à colecção de jogos oferecidos o aclamado por toda a crítica Red Dead Redemption, e para as próximas semanas estão já prometidos o excelente Machinarium, o Scott Pilgrim vs. The World e o esperado remake de Double Dragon: Double Dragon Neon. A juntar à festa, a subscrição até dia 19 de Setembro está a custar apenas €37,49 por um ano de serviço. Começa a ser cada vez mais complicado à Microsoft justificar os seus 50 euros anuais e a outros as ausências de serviços similares.
Edgar Alan Poe disse um dia que a ciência ainda não nos sabia responder se a loucura seria na realidade o estado mais sublime da inteligência. Nós não sabemos se a Sony está no seu estado sublime e a atravessar uma epifania ou se caiu na sua maior burrice de sempre, mas o que é certo é que vamos aproveitar até ao último bit. À borla. Quase.
Comments (3)
Excelente artigo com noticias ainda melhores
De fato, tenho um Xbox e a assinatura Gold não se justifica diante da Plus, para falar a verdade ela não se justificar em hipótese alguma.
[…] de um mês a um serviço que cada dia que passa se torna mais irrecusável, como já escrevemos aqui e também […]