Se não é o melhor é seguramente um dos melhores. Depois da maior GT Academy de sempre, que reuniu mais de 800 mil concorrentes, Hugo Gonçalves foi passando todas as etapas e atingiu um brilhante 3º lugar em Silverstone. Brilhante até porque durante toda a semana da grande final foi considerado um dos principais favoritos, ou até o favorito à vitória. Mas na corrida final, a chuva e outros contratempos traíram-no e o primeiro lugar foi para um Belga. Mas ficou a impressionante participação e a certeza que temos entre nós um promissor piloto.
O Rubber Chicken esteve à conversa com o descontraído, divertido e excelente contador de estórias Hugo. Falámos sobre como se treina para um evento destes, sobre a paixão pelos carros, sobre a família e sobre sonhos. Esta é a grande entrevista a Hugo Gonçalves, o português que levou a bandeira nacional a um lugar do pódio em Silverstone.
Rubber Chicken: Como é que começou a tua ligação com os carros?
Hugo Gonçalves: A minha paixão por automóveis vem desde que me lembro. A primeira vez que fui assistir a uma competição tinha 4 anos e fiquei viciado desde então por todo o ambiente, o cheiro, o som, a movimentação, o sentir toda aquela adrenalina dos pilotos. Lembro-me perfeitamente de ir ver a Rampa da Falperra, em Braga, que é o local onde eu nasci e de poder estar a conviver com as boxes, com os pilotos. Era um espaço aberto, não é como agora que há todas as limitações, portanto quando um piloto acabava de fazer uma qualificação e nós estávamos ali, víamo-lo chegar, víamo-lo a comentar com os mecânicos, com os engenheiros, víamos a cara dele, víamos a transpiração, víamos toda a adrenalina com que eles saíam do carro, e foi isso que me deixou logo apaixonado.
RC: E as primeiras experiências de condução desportiva foram no mundo real ou no mundo virtual?
HG: Foram no Gran Turismo (GT).
RC: O GT foi o teu primeiro jogo do género?
HG: Não, eu sempre tive consolas e computadores desde pequeno, portanto sempre joguei jogos de carros e de motos neles. Quando experimentei o GT foi o primeiro GT na Playstation 1 original. A consola era emprestada por um amigo que não tinha o jogo, e lembro-me de irmos à antiga rede de videoclubes da Blockbuster alugar o jogo para podermos jogar. O problema é que não tínhamos cartões de memória, pois eram caros na altura, então não podíamos desligar a consola porque senão perdíamos todo o progresso. Portanto de cada vez que alugávamos o jogo tínhamos 3 dias para tentar jogar o máximo e acabá-lo. Quando tirávamos o CD da consola vinha a escaldar (risos).
RC: E depois GT3 e GT4 na Playstation 2?
HG: Não, curiosamente não passei por nenhum desses porque não tinha consola. Mas um dia, fui a uma grande superfície à procura de uma televisão nova para comprar e exactamente na televisão que eu queria comprar estava a correr um trailer do GT Prologue com o Lotus na Eiger Nordwand, nos Alpes Suíços e eu fiquei verdadeiramente louco com o que estava a ver, com os gráficos, a qualidade dos carros e prometi a mim mesmo que assim que saísse o jogo eu ia comprar a Playstation 3.
RC: E a ideia de concorrer à GT Academy surge quando?
HG: Eu entretanto, mais ou menos pela altura em vi o Prologue, ouvi a estória do Lucas Ordoñez (estamos em 2008) e percebi que existia o GT Academy e para que servia. Decidi apostar e tentar chegar à GT Academy. O jogo saiu em 2010 e eu comprei-o logo no primeiro dia, mas como não tinha volante jogava com comando e acaba por não ter andamento para os lugares da frente. Nessa semana investi logo num volante e continuei a jogar e a esperar pelo GT Academy de 2012.
RC: A jogar sozinho?
HG: No início sim, mas entretanto descobri uma comunidade e acabámos por juntar um grupo de 200 jogadores e fundámos um blogue de corridas. A partir daí passámos a juntarmo-nos todas as noites para fazer corridas e, naturalmente, a prática desenvolveu-se cada vez mais.
RC: Quantas horas jogas por dia?
HG: Mais ou menos 4 horas de jogo por dia. O meu filho está acordado para aí até às 21h30 e é impossível ligar o volante com ele ao pé, por isso normalmente jogo sempre das 22h até às 2h da manhã.
RC: Portanto foram 2 anos de 4 horas diárias de GT?
HG: Foi um ano. O último ano é que foi o mais intenso. Até porque antes era um jogador mais casual e desconhecia por completo a comunidade de jogadores online.
RC: E quando começou a ser mais intenso, isso interferiu com a vida profissional e familiar?
HG: Não é uma questão de interferir muito, mas tive de mudar alguns hábitos. Eu não esperava chegar à GT Academy logo no primeiro ano, bastava-me atingir a final nacional, mas a família sabia a paixão que eu tenho e sabia qual era a oportunidade à qual eu me estava a propor, daí que sempre me apoiaram. Mas a paixão era tanta que o GT tornou-se o meu hobbie principal. Eu não sou pessoa de sair à noite ou de ir para o café, portanto nem foi difícil a adaptação. E mesmo assim acabo por estar ao lado da minha esposa enquanto jogo.
RC: E ela não se chateia de estar a ver o GT todas as noites?
HG: Temos duas televisões uma ao lado da outra. Ele vê os programas dela e eu jogo, e assim estamos sempre juntos (risos). Muitas pessoas quando chegam a nossa casa perguntam porque temos uma televisão igual à outra na mesma sala. Mas a verdade é que se eu tiver no quarto e ela na sala acaba por existir um distanciamento. Assim, vamos falando. O objectivo é poder jogar mas poder continuar a desfrutar da companhia dela.
RC: Então não houve grandes cedências?
HG: Quer dizer… eu de 15 em 15 dias costumo ir a Braga ter com a minha mãe e a minha família e passei a ter que levar a consola e o volante atrás. Mas depois, para não ter de chatear ninguém, passei a levar também a televisão (risos). Houve alguns ajustamentos.
RC: Voltando à condução, foi então no GT que tiveste a primeira experiência de condução mais “agressiva”?
HG: A experiência de condução existe desde os 18 anos mas é a condução normal em estrada. Fruto da minha profissão (stand de veículos) faço muitos quilómetros por ano e já tinha tido algumas pequenas experiência para testar modelos novos em circuitos, mas sempre carros de estrada e com uma pessoa ao lado que não nos deixa andar à vontade. Tinha também algumas experiências de Karts com os amigos, mas nada de experiência real de condução desportiva. Aquela que se pode chamar verdadeiramente a primeira foi a proporcionada pela Sony e pela Nissan no Algarve, antes de irmos para Silverstone.
RC: Já sabias com o que contar na GT Academy nacional? Nas provas que irias encontrar?
HG: Honestamente não. Nós no blogue até tentámos juntar os 16 apurados online para irmos treinando com eles.
RC: Ficaste em que lugar?
HG: Em vigésimo. Eu tive de me apurar num evento ao vivo que decorreu na Game On de onde saiam outros 16 apurados. Aí já fiquei em primeiro e foi aliás onde conheci o Diogo Sousa que acabou por ser outro dos finalistas a ir a Silverstone. Como estava a dizer, juntámos então todos os participantes online, fizemos os convites, e passámos uns tempos a treinar as corridas para a final nacional. No entanto, o que encontrámos não era nada do que estávamos à espera, pois as provas de simulador consistiam em colocar tempos (time trial), daí que estávamos completamente ao lado do que iria ser a final (risos). Mas foi bom para perceber o andamento uns dos outros e até aprendermos técnicas e trajectórias que uns usavam e outros não.
RC: Quando é que começaste a pensar que tinhas mesmo hipóteses de chegar longe?
HG: Nas duas semanas antes da Game On eu estava completamente focado em conseguir apenas chegar à final nacional. Mas como não tinha conseguido o apuramento online, estava um pouco relutante com o meu nível quando comparado com os outros. Percebi que muitas pessoas no online passavam horas e horas por tentativa e erro a tentar colocar os melhores tempos. Eu jogava 4 horas por dia mas existiam jogadores a jogar 12 horas. E nesses, se falhares na segunda curva podes logo fazer restart. Mas quando começamos a fazer corridas entre os melhores, percebi que acabava muitas vezes em primeiro ou lutava pelos primeiros lugares. Foi aí que achei que na final, onde só tínhamos uma hipótese sem carregar no botão para começar de novo eu até tinha boas hipóteses. Mas fui sempre estabelecendo os objectivos um passo de cada vez. Depois de chegar aos 16, passou a ser chegar aos 3 primeiros.
RC: O que é que pensaste depois de acordar no dia seguinte a teres conseguido passar a competição nacional?
HG: Logo no dia seguinte percebi que estava ao meu alcance poder concretizar um sonho de 27 anos e portanto tinha que arriscar, pois esta experiência proporcionada pela Sony e pela Nissan não tem comparação com nenhuma outra. Não existe nada similar a este programa da GT Academy. E uma vez que tinha conseguido estar no lote restrito de 36 jogadores em Silverstone tinha que dar tudo por tudo porque era a minha grande chance.
RC: E o que fizeste?
HG: Logo no primeiro dia comecei à procura de um ginásio e de um personal trainer que me pudesse ajudar fisicamente, pois era a minha grande lacuna. Eu fiquei em terceiro na final nacional porque fui traído nas provas físicas que foram uma miséria (risos). A minha vida tinha sido bastante sedentária até então, 5 anos praticamente sem fazer qualquer desporto, deslocações sentado no carro e trabalhar sentado à secretária. Custou-me bastante fazer as provas físicas a nível nacional e percebi que tinha que ser por ali um dos meus maiores investimentos. A final foi no sábado e na segunda eu já estava no ginásio a treinar.
RC: Então a preparação para Silverstone começou imediatamente à final nacional?
HG: Sim, e chegámos até a estar os três juntos, eu, o Diogo e o Raul, para treinarmos e irmos correr. Quando treinamos em conjunto é sempre melhor pois há sempre um mais forte que vai puxando pelos outros. Tivemos também um apoio da Sony e da Last Lap que nos providenciaram o Move Fitness, para enquanto estávamos em casa podermos aproveitar para fazer algum treino físico.
RC: E continuaram a jogar como forma de treino?
HG: Continuámos a jogar, para já porque o bichinho está lá sempre, mas naturalmente agora com uma outra perspectiva. Não sabíamos se íamos ter provas de simulador em Silverstone, e até achávamos que não, mas no entanto havia sempre o receio que pudesse haver uma surpresa e que nos colocassem novamente à prova em simuladores. Portanto não descurámos completamente o Gran Turismo, até porque nenhum dos três consegue (risos).
RC: Silverstone foi muito diferente de Portugal?
HG: Foi uma semana radicalmente diferente. Em termos físicos alguns exercícios eram iguais: testes de flexão, testes de salto, prancha, o blip test, mas o nível de exigência era maior e o nível de preparação dos candidatos era muito maior. Notou-se logo que todos nós tínhamos feito o trabalho de casa e fomos ver como é que funcionava o Race Camp e isso também passou para a organização que percebeu que nós estávamos preparados de forma diferente. Isso elevou bastante a fasquia. Houve gente nos blip tests a fazer nível 13 e nível 14 que já são considerados níveis de treino militar (em Portugal as pessoas que aguentaram mais tempo fizeram nível 9). Eu cá fiz creio que nível 3 (risos) e lá fiz nível 9,4 quando já só existiam 6 candidatos.
RC: 9,4 foi muito bom então?
HG: Sim, mas mesmo assim fui o primeiro a desistir (risos). Dois mantiveram-se em luta até ao nível 14. Já nas provas de condução a diferença foi abismal. Em Portugal só tivemos a oportunidade de conduzir um carro e num espaço reduzido e lá todos os dias tínhamos provas de condução em pista.
RC: Por falar nisso, como é que foi correr com o Nissan 370Z com mais pilotos em pista? Assustador? Divertido?
HG: Eu curiosamente estava bastante calmo e relaxado e sabia o que tinha que fazer. É natural que para uma primeira vez acusemos sempre um pouco a pressão e correr em Silverstone no traçado completo, no traçado GP, com bancadas cheias (porque estavam a decorrer outras provas na altura) e com toda a organização em torno de um evento destes (nós fizemos inclusive testes para obter a licença desportiva para podermos correr) é uma experiência que nos causa um formigueiro. Eu não diria assustador, mas foi sim muito estranho estarmos perante um cenário que só vemos no jogo ou na televisão. Bancadas cheias, um semáforo, bandeiras. Ali tivemos a percepção real daquilo em que nos estávamos a tornar.
RC: Que era?
HG: Pilotos (um sorriso). Chegaram mesmo a dizer-nos, vocês agora já correram em pista, por isso são pilotos de automóveis. Por isso foi muito interessante. Nas duas voltas que fizemos de aquecimento e de posicionamento da grelha ver as pessoas a aplaudir, ver os comissários de pista a dar-nos informação com as bandeiras, foi uma experiência muito boa e muito gratificante. O António Felix da Costa estava a correr nesse dia e deu para ver duas ou três bandeiras Portuguesas. Foi muito bom estar sentado no carro e ver as nossas cores na bancada.
RC: Os dias de treino eram muito intensos?
HG: Sim eram. Acordávamos muito cedo e por vezes às 7h30 da manhã já estávamos a fazer treinos de fitness. Mas o dia acabava sempre por ser excepcional e passava a voar. A verdade era que se dependesse de nós começávamos a conduzir às 7h da manhã e só parávamos de madrugada. Fizemos por exemplo a prova de Rally e quando acabou fomos pedir aos instrutores por favor, por favor só mais uma volta. Fizemos o Drift e perguntamos ainda há pneus? Podemos continuar? Fizemos Fórmulas e fomos logo perguntar se íamos ter mais Fórmulas durante a semana. Tudo o que eram provas de condução, mais viessem. Fizemos a corrida de Karts ao final do dia e começámos a correr já com o pôr do sol e acabámos a corrida à noite já com as luzes artificiais do Kartódromo, uma experiência fantástica correr à noite. Foi tudo excepcional. Nós quando chegávamos aos quartos do grupo ibérico (nós três e os três espanhóis convivíamos muito) comentávamos que era impossível ter um dia melhor que aquele, e depois o dia seguinte acaba por superar o anterior.
RC: Qual é a melhor história que trazes?
HG: Tantas… (suspiro). Era um ambiente único pois estávamos rodeados dos nossos ídolos da infância e conversávamos com eles. Por exemplo conversámos com o Johnny Herbert sobre as corridas de Fórmula 1, sobre a vitória dele em Le Mans em 91; conversámos com o René Arnoux sobre as lutas que ele teve com o falecido Gilles Villeneuve na Fórmula 1 do final dos anos 70. E jogávamos matrecos! Cheguei a estar a jogar matrecos eu e três pilotos de Fórmula 1, e houve uma altura que eu olhei em redor e pensei: onde é que alguma vez eu pensei que ia estar a jogar matraquilhos com três pilotos de Fórmula 1 e ainda com outro atrás de mim à espera para vir jogar? É indiscritível.
RC: Eras apontado ao longo da semana como o grande favorito. O que correu mal na última corrida?
HG: As condições não foram as ideais. A qualificação foi feita em seco, no dia anterior. E depois no sábado choveu. Ao longo da semana íamos sabendo dos resultados aqui e ali, de como é que as outras nações se estavam a sair, resultados normalmente “off the record” porque nós nunca tivemos acesso às nossas folhas de tempos para comparação. Sabíamos quem é que eram os potenciais candidatos dos outros países, mas nunca tínhamos estado em confronto directo, nem nunca estivemos. Na qualificação vimos mais ou menos o andamento de cada um, e depois fomos para a corrida.
Infelizmente não correu bem, o lado direito da pista era o lado que estava mais sujo, e o lado que estava mais molhado (porque a trajectória é do lado esquerdo, e com o passar dos carros, nomeadamente com o passar dos GP2, a pista vai ficado seca nas linhas de trajetória ideais). Eu parti da direita, e quando estava na grelha estava praticamente em cima da água. O meu objetivo era assim que saísse do sinal vermelho, tentar ser dos primeiros a responder. Nós tínhamos já feito uns testes uns dias antes, testes de arranques numa pista Dragsters que é só uma recta, e tínhamos testado a nossa capacidade de reação aos semáforos em milésimos de segundo. Eu estava confiante para fazer um bom arranque.
RC: E foi um bom arranque?
HG: Fiz talvez o melhor arranque e colei-me logo ao primeiro carro do Belga, mas depois tive um problema e não consegui engatar a segunda velocidade por duas vezes seguidas e fiquei com o carro em ponto morto. Aí perdi logo o momento e o embalo e fui ultrapassado pelos cinco carros. Em pouco mais de 50 metros passei de 2º para 6º.
RC: Ainda tiveste esperança de recuperar?
HG: Eu sabia que estava a correr em busca do prejuízo e a quantidade de spray na pista era impressionante (nunca tinha corrido à chuva). O medo de voltar a falhar a segunda velocidade fez-me fazer algumas curvas e ganchos em terceira que não me permitiam colocar tracção em lado nenhum, por isso nas rectas saia sempre em desvantagem. Depois o facto de saber que eram apenas 6 voltas e de não existirem quase espaços de ultrapassagem foi-me deixando psicologicamente mais afectado e acabei por esperar que alguém pudesse cometer um erro que eu pudesse aproveitar.
RC: Essa questão psicológica é algo que tiveram algum treino?
HG: Nós fomos tendo sempre, durante a semana, acompanhamento pelos nossos mentores e pelos nossos instrutores. Tivemos também acompanhamento com um psicólogo que é especializado na área automóvel e acompanha diversos pilotos. Fizemos, por diversas vezes, sessões de “mental rehersal”, portanto, “ensaios mentais” da própria pista que é uma técnica que eu desconhecia e achei muito interessante. Pilotos que desconhecem os circuitos e têm uma prova em determinado circuito, visualizam vídeos “on-board”, fazem a passagem – o chamado “track map” – andam por volta do circuito a pé, ou andam com bicicleta a analisar o circuito, e depois imaginam o circuito e a condução do mesmo.
Isto acontece muitas das vezes até já depois de terem feito uma sessão de treinos, e mentalmente tentarem assimilar a pista, por forma a que seja a pista que fique gravada no nosso subconsciente e o nosso consciente esteja pura e simplesmente a trabalhar para pensar na estratégia de corrida: como poupar pneus, em que volta é que tenho de ir à box, como é que vou ultrapassar o piloto da frente, e a pura condução do traçado fica automática. E isso foi muito interessante conhecer e experimentar essa técnica.
RC: Um terceiro lugar entre mais de 800 mil participantes. Devem ter-se aberto algumas portas?
HG: Eu quero acreditar que sim. Fiz alguns contactos em Silverstone e aqui em Portugal e não quero que o sonho termine. Temos já a prova de pilotos que não conseguiram ganhar o GT Academy noutros anos mas conseguiram ir mais além. O facto de ter estado no GT Academy acaba por ser um certificado de qualidade no currículo de qualquer um de nós. É sinal que existe alguma coisa e portanto quero acreditar e estou já a trabalhar nesse sentido para poder colocar de pé um projecto para a muito curto prazo poder estar em pista.
RC: Conselhos para quem deseja chegar à GT Academy?
HG: Há os triviais de comprar a consola, o jogo e o volante. É certo que há pilotos que conseguem andar ao nível dos outros apenas com comando, mas acredito que não só pela parte técnica, pois vai criar-nos situações no subconsciente que são muito similares em Silverstone, mas também pelo próprio gozo em si, jogar com o volante é bem melhor do que jogar com o comando. Quando passamos a jogar com o volante descobrimos um jogo novo. Eu já tinha o jogo completo quando passei do comando para o volante e depois vim repetir novamente as provas todas para trás com o volante, porque a experiência de condução é completamente diferente. O gozo é muito maior.
Quem quer estar mesmo decido em chegar à final e vencer a GT Academy em Silverstone, naturalmente que a parte física é fundamental, e jogar, disfrutar e gostar. Se tiverem o talento, a paixão, forem determinados, e não se importarem de sacrificar alguma coisa vão chegar lá de certeza. Eu tenho 31 anos, tenho um filho, um emprego e uma família em casa. Se eu lá cheguei, qualquer pessoa pode chegar.
RC: Não é preciso jogar 12 horas por dia para se conseguir?
HG: Não é preciso ser um estudante com tempo livre, não é preciso ser um desempregado com muito tempo. É possível ter uma vida profissional, ter uma vida familiar e chegar ao GT Academy.
RC: Para além do Gran Turismo, o que é que jogas?
HG: Mais nada (risos). Desde que comprei o jogo no dia 24 de Novembro de 2010, mais nenhum blu-ray entrou na consola e ele não saiu de lá. Eu já nem sei de que cor é ou como é o autocolante. Entrou e não saiu. O próprio Move Fitness que a Sony nos emprestou para fazer o treino estava noutra consola emprestada, porque o GT5 nem sequer pode sair da consola. Já faz parte dela. Se o tirar acredito que a consola nem funciona (risos).
RC: Alguma coisa a acrescentar?
HG: Gostaria de agradecer à Sony e à Nissan por esta inacreditável semana que tivemos e pela extraordinária hipótese que dão a pilotos de sofá que têm a paixão pelo desporto automóvel e não têm oportunidades num desporto que é bastante dispendioso e que necessita de muitos apoios. Agradecer-lhes e esperar que o sucesso da GT Academy continue para que próximas gerações de jogadores e de futuros pilotos tenham estas oportunidades.
RC: Muito obrigado pela tua disponibilidade e desejamos-te o maior sucesso.
HG: Obrigado eu.
Comments (1)
Excelente entrevista Miguel!
Muitos Parabéns Hugo e não percas a esperança! :)