Fechem os Angry Birds numa gaiola, enterrem a espada de Infinity Blade, e arrumem o Jetpack de Joyride no armário. O jogo perfeito para iPad acaba de ser criado e lançado.

The Room é um jogo criado pela produtora Fireproof Studios cujo DNA criativo é de ex-membros da Criterion, responsáveis pelo fantástico Black e pela série Burnout. A produtora foi criada como uma empresa de outsourcing onde as outras produtoras podiam encomendar blocos e elementos a incluir nos seus jogos. As armas da equipa foram anunciadas como sendo a mestria técnica e criativa, e foi isso que convenceu produtoras como a Media Molecule (LittleBigPlanet), Activision (DjHero), Codemasters (Bodycount) e Disney (Split/Second) a recorrerem aos serviços da Fireproof. Os exemplos acabados de listar são de jogos que conseguiram várias proezas ao nível técnico o que prova que a empresa é uma aposta segura. Mas o que acontece quando uma equipa com esta qualidade resolve criar o seu primeiro jogo original?

 

O objectivo de The Room é conseguir abrir um enorme armário cheio de compartimentos secretos, mas para conseguirmos entrar dentro deste enigma de madeira existem dezenas de obstáculos que precisamos primeiro ultrapassar. Essas barreiras podem ser um pedestal que se desatarraxa, uma ranhura na qual colocamos uma chave, um objecto que revela ter vários elementos no seu interior, uma estatueta que se deve rodar, entre dezenas de outros mecanismos e estruturas que podem ser extremamente simples ou então precisar de muita observação e pensamento. A quantidade de formas secretas e escondidas de ir abrindo os vários fechos e trancas da caixa é enorme e cada uma mais criativa que a próxima.

 

Quando finalmente conseguimos abrir o armário, encontramos outra caixa no seu interior. Caixa essa que vai ter muitas zonas para resolver, quase como se fossem níveis, e a complexidade do segredo vai crescendo e ramificando-se ao longo da resolução. Abrimos painéis para revelar mecanismos incompletos que devemos colocar a funcionar; procuramos relevos estranhos na madeira para descobrir pistas que nos permitam descobrir uma frase a introduzir como código; ou utilizamos uma lupa especial de “luz negra” para ver pormenores invisíveis a olho nu. Quando finalmente conseguirmos abrir esta caixa, teremos novas caixas e novos enigmas para resolver, e assim sucessivamente.

 

Se The Room é perfeito no desenho dos enigmas, é porém na execução que se torna uma obra-prima. As caixas e todos os elementos que as compõem estão representados num 3D fotorealista que utiliza materiais muito fundamentais como madeira, pedra, metal, alumínio, ouro e outros que provocam uma sensação de naturalidade e de estarmos perante um objecto antigo e misterioso, quase Steampunk até. Muitas vezes durante o jogo veio-me à memória o filme “A Invenção de Hugo” de Martin Scorsese e dos mecanismos presentes nessa narrativa, mas também me recordei de Jules Verne e das ilustrações científicas do século dezanove. Há algo mágico naquelas caixas e mecanismos que o aspecto visual do jogo nos transmite.

 

Por mais importante que seja o aspecto visual tem de existir algo mais que diferencie este jogo dos restantes, já que o estilo gráfico pode ser recriado em qualquer computador ou consola actual. O que torna The Room um jogo perfeito para iPad é a utilização do toque. Nós podemos rodar chaves, abrir pequenas portas, raspar a pedra de um isqueiro ou operar combinações de cofres utilizando os dedos e temos um retorno directo da sensação real de mexer nesses elementos. Isto, aliado à natureza morfológica que o grafismo empresta aos objectos faz com que eles se tornem “reais”. Descobrir os segredos de The Room torna-se algo mágico que nos transporta para os nossos filmes da adolescência e para os livros de fantasia, quando alguém descobria um mecanismo secreto.

O preço de €3,99 pode afastar alguns jogadores e curiosos, mas garanto-vos que The Room vale todos os cêntimos. O jogo tem uma longevidade curta mas repetir todo o processo é mais do que certo para quem atinge o segredo final. A produtora também promete que estão mais caixas e salas a caminho e, possivelmente, serão gratuitas com as futuras actualizações.

 

A Fireproof Studios consegue grandes proezas em jogos de outras produtora mas com The Room, o seu primeiro jogo original, prova que deverá concentrar-se nas suas próprias criações. The Room é um dos melhores jogos de sempre a serem lançados no iPad e aquele que é o jogo perfeito para uma plataforma tablet. A magia de ir abrindo caixas, descobrindo portas secretas ou utilizando mecanismos imaginativos é inexplicável e tem de ser experimentada, pois é o acto de “mexer” nos elementos que torna The Room um jogo ideal. Se Jules Verne e Houdini vivessem nos dias de hoje, iam adorar.

 

(The Room é um exclusivo iOS para iPad 2 ou superior)