Este artigo pertence ao passatempo Nintendo. Partilhem no facebook para ganharem uma viagem a Paris. Podem consultar todas as regras aqui.
Já alguma vez escreveram uma carta? Atenção! Antes de responderem deixem-me definir o conceito de carta: uma ou mais folhas de papel, de formato A5 ou A4, com ou sem linhas pautadas, nas quais se escreve com a mão e a utilização de uma caneta ou de um lápis (batom também pode ser um elemento) uma mensagem que se quer fazer chegar a alguém, colocando posteriormente o resultado dentro de um envelope onde se cola um selo e onde se escreve o nosso nome e morada, para além do nome e morada da ou do destinatários da mensagem. Este elemento deve ser então colocado num marco do correio, aqueles estranhos objectos vermelhos com uma enorme ranhura espalhados pela via pública, ou nos buracos colocados nas paredes das estações de correios. Torno a perguntar: Já escreveram uma carta?
A Nintendo 3DS trouxe para as novas gerações o acto de escrever a carta como fizeram os seus avós, pais ou as suas irmãs e irmãos mais velhos, com a Caixa Postal Nintendo. Esta particularidade não deve ser olhada apenas como mais uma função, pois sociologicamente estamos perante algo que já julgávamos perdido para sempre: o acto de escrever mensagens com uma caneta.

Eça de Queiroz a ditar carta para Ramalho de Ortigão: “Ramalho, não te esqueças de me enviar o teu friend code para trocarmos personagens no Mario Tennis”.
Porque razão deverá existir tanto saudosismo no acto antigo de escrever à mão, quando as tecnologias actuais como o email, o sms ou o facebook são muito mais instantâneas e eficazes? O problema da escrita digital é que muito poucas vezes nos diz algo sobre o remetente. A escrita manual passa muito da personalidade de quem escreve para a folha. De palavras que começam a ser mais gatafunhadas em passagens mais exaltadas, à letra cuidada e muito certa de alguns, ou à eventual mancha azul provocada por uma lágrima que caiu na folha, a carta escrita à mão torna o outro num ser humano. Muito mais lenta, é certo, mas também muito mais eficaz e muito menos fria e acéptica que caracteres num ecrã de cristais líquidos.
A Caixa Postal da Nintendo permite enviar pequenas cartas entre utilizadores, que uma vez que são escritas exclusivamente com a caneta (stylus) acabam por tornar-se o semelhante digital da carta analógica. Podemos desta forma escrever o que nos vai na alma e embelezar essas mensagens com desenhos, gatafunhos, sorrisos ou grandes pontos de exclamação ou interrogação. Mais do que um sistema de comunicação, a Caixa Postal é uma transmissão de pensamentos com um attachement de personalidade.
No melhor pano cai a nódoa e este fabuloso sistema de contacto acaba por se encontrar preso na política de amizades da Nintendo que nos obriga a utilizar “códigos de amigos” complexos que não promovem a facilidade na construção de uma comunidade. Felizmente, com o advento da nova rede que irá unir a Wii U e a 3DS isso parece que irá mudar. É necessário que a Nintendo o faça rapidamente, para desta forma libertar a escrita destas cartas. Isto pode ser apenas o início de algo maior, pois se a Wii U possui uma stylus também irá ter certamente algo do género, e com a vontade da Nintendo em espalhar os novos Gamepads por muitos lares então temos aqui uma grande possibilidade de voltar a massificar a beleza de comunicar com uma identidade própria. Quem sabe até não voltamos a utilizar selos digitais sacados do Paper Mario.
Podem ver vídeos sobre esta e outras características na visita guiada 3DS (onde os modelos também jogam com consolas portáteis).