Stephen King disse uma vez que os seus livros eram o equivalente literário de um Big Mac com batatas fritas. Escrever sobre videojogos, do ponto de vista jornalístico, não andará muito longe desta comparação. Em dia de primeiro aniversário, o Rubber Chicken olha para o ano que passou.

No dia 30 de Outubro de 2011 sentei-me para escrever o primeiro texto naquele que seria um dos projectos mais importantes da minha vida. O objectivo era muito claro: criar um espaço de opinião divertido mas também amadurecido sobre videojogos. Um espaço destinado àquelas e àqueles que procuram entretenimento nos jogos mas que discutem com entusiasmo os aspectos narrativos, artísticos e emocionais que são possíveis experimentar neste formato. Um espaço que respeite os jogos como forma de arte emergente e incontornável. Um espaço que faça rir. Mas mais importante, um espaço que não deixe morrer uma visão de que o jornalismo fundou-se sobre um conjunto de valores que não devem ser abandonados. E ter jogos grátis.

 

Quem me conhece sabe que existem muito poucas coisas que me tiram do sério, daí o cognome de Dalai Gamer, mas consigo enunciar algumas: jovens em plena puberdade a cantarem Kate Perry nos meus ouvidos quando jogo multiplayer; pedidos de ajuda dos “amigos” para construir um celeiro; ou tentar que o Kinect perceba o que estou a querer fazer. A lista completa é impossível, mas não pode deixar de contar com a agregação noticiosa e a publicação de rumores. O facto de quase todos os meios copiarem e publicarem a mesma notícia, muitas vezes fazendo apenas a tradução do comunicado de imprensa da editora, e a publicação de suposições, possibilidades ou especulação conseguem irritar-me profundamente.

As prioridades trocaram-se nos novos tempos digitais. A luta agora faz-se para ver quem é o mais rápido a publicar uma informação. Chegámos ao ponto absurdo de uma notícia já ser velha se outro local já a colocou há 30 minutos. Verdade seja dita, não há grande volta a dar. O certo é que todos os locais que apostam nesta velocidade são aqueles que conseguem mais visitantes. O povo é quem mais ordena. Mas não existem almoços grátis e tudo é feito de escolhas. Quando se escolhe a rapidez, coloca-se de lado o amadurecer da opinião. Quando se escolhe o rumor, coloca-se de lado a verificação dos factos. Quando se escolhe a agregação, coloca-se de lado o nosso sentido crítico. Mas o maior perigo da escrita actual sobre videojogos, baseada na agregação, é que faz com que no futuro não seja necessária. Isto é, se não existe uma opinião crítica, uma visão pessoal e uma investigação, então as próprias agências de comunicação e editoras vão acabar por se tornar elas próprias as produtoras de informação. Se o trabalho principal do jornalista for transcrever e traduzir, então a escrita sobre videojogos passa a ser um ditado. Isto é, qualquer pessoa que saiba escrever o pode executar.

 

A ideia de criar o Rubber Chicken foi a de contrariar esta tendência. Longe de mim acreditar que vamos substituir a actual tendência noticiosa, nem nunca foi esse o objectivo. Mas há uma certa forma de estar nesta indústria, praticada ao longo dos anos por alguns dos melhores jornalistas do mercado que acreditamos que deve ser protegida e continuada. É um processo que não tem soluções fáceis ou guias rápidos de como deve ser feito. É algo que todos os dias nos interrogamos se estamos a fazer bem ou mal, e é essa interrogação constante de nós próprios para com aquilo que escrevemos a peça fundamental para o sucesso do Rubber Chicken. No dia em que deixarmos de nos questionar e duvidar de nós próprios sobre a opinião que publicamos é o dia em que deixamos de ser válidos neste projecto.

Com a mesma visão e forma de estar juntaram-se a mim o Frederico Lira e o Pedro Soares Filipe no arranque do site há um ano atrás. O Pedro partiu para outros projectos a partir deste Verão mas o seu contributo foi fundamental para definir o tom dos nossos textos. O André Sanchez passou a formar então comigo e com o Frederico a equipa de editores do Rubber Chicken e todos os dias nos criticamos uns aos outros e nos questionamos sobre aquilo que escrevemos e publicamos. Desde muito cedo que definimos que não queremos uma voz comum dentro do site. Queremos liberdade e por isso cada um manifesta o que lhe vai na alma, mesmo que os outros possam não concordar com a sua opinião. Esse é um dos maiores gozos de escrever aqui.

Tenho de agradecer ao Frederico e ao André todas as horas que dedicam a este projecto que é tanto deles como meu. O Rubber Chicken é por enquanto um projecto sem qualquer financiamento ou receitas publicitárias. O que aqui fazemos é por pura carolice, em todos os momentos livres que conseguimos. Sofrem muitas vezes a família, a namorada, os filhos e até, confessamos, as nossas profissões principais. Sofre o tempo para a corrida, para as séries, para ir à praia ou para a leitura. Sofre o tempo para nos dedicarmos semanas inteiras a desbloquear tudo no nosso jogo preferido. Mas cada minuto destes 365 dias que passaram valeu a pena. Sentimos que estamos a fazer algo que faz falta em Portugal. Chamem-nos dementes, irrealistas ou utópicos. Nós preferimos apaixonados.

 

Muito obrigado à restante equipa editorial que nos acompanha nas análises. A Carlota, a Mónica, o João e o Rui são vozes, todas diferentes, que partilham a opinião de que existem leitoras e leitores que querem algo mais e algo diferente, e é isso que têm dado ao Rubber Chicken sempre que “esmifram” os jogos até ao tutano e partilham connosco uma opinião pensada e divertida sobre a experiência. Um obrigado também à Ana que colaborou nos primeiros momentos do projecto.

Finalmente, o Rubber Chicken não seria o que é sem o apoio que tem tido por parte das editoras, das produtoras e das agências de comunicação. Confesso que é a relação mais complicada de gerir num projecto jornalístico. Qualquer editora, compreensivelmente, quer passar para o público a melhor informação possível sobre os seus produtos e sabe que um dos canais de comunicação mais directos é a imprensa especializada. Por essa razão, as empresas facilitam o acesso aos jogos. Somos convidados a experimentar produtos antes do público, confirmamos que recebemos informação privilegiada em primeira mão e não escondemos que recebemos os jogos gratuitamente para análise. Muitas vezes, e bem, se discute qual a imparcialidade de um jornalista que acaba por ter uma relação de tamanha proximidade para com as empresas sobre as quais escreve e que recebe de forma gratuita os produtos sobre os quais opina. Essas dúvidas vão sempre existir e a única coisa que podemos fazer para ter a confiança de quem nos lê é ser transparente na nossa relação com as editoras, que existe e que continuará a existir. Nestes 365 dias nunca sentimos qualquer pressão para escrever bem ou mal sobre um produto. Sempre tivemos liberdade total, quando aplaudimos ou quando criticámos e o estreitar de relações com os representantes facultou-nos um acesso mais facilitado à informação e nunca um impedimento ou constrangimento ao trabalho de opinião. Se há algo que podemos apontar às editoras que colaboram connosco é um enorme respeito por tudo aquilo que temos escrito.

 

Agradecemos às editoras nacionais: Capital Games, Electronic Arts Portugal, Microsoft, Nintendo e Sony todo o apoio que nos têm dado e todo o trabalho que têm feito para divulgar os seus jogos no nosso mercado.

Agradecemos às editoras e produtoras internacionais que têm trabalhado directamente connosco: Bethesda, Excalibur, Grasshopper Manufacture, Klei Entertainment, Minority, Namco Bandai, Square Enix, Telltale Games, Ubisoft, entre muitas outras que nos têm facilitado o acesso aos seus jogos para análise.

E muito, muito obrigado a todas e todos que têm lido os nossos textos. Ver o Rubber Chicken a crescer todos os meses é a maior motivação que podemos ter para escrever. Estamos repletos de ideias para o próximo ano, desde novas formas de vos fazer chegar os conteúdos, a rubricas que vos façam rir, às nossas primeiras viagens à E3 2013 e à Gamescom 2013 para vos falar de todas as novidades incluindo a próxima geração da Playstation e da Xbox. Para o segundo ano de vida do Rubber Chicken aqui fica o nosso compromisso com vocês: continuar a ter uma opinião vincada, uma postura divertida e uma escrita pensada e trabalhada sobre videojogos.

Mais uma vez, muito obrigado e nunca se esqueçam: