A ópera do povo, versão digital afinada por um velho maestro.
Mais um ano passa, mais um novo título da saga que, alguns dizem, tomou de assalto no ano passado o rei das simulações de futebol. Ainda que conte com uma base de jogadores generosa, a Konami tem outra vez razões bastante válidas para se preocupar. A versão 13 do já longo franchise da EA aprimora apostas vencedoras que foram feitas no passado e adiciona outras que tornam a experiência virtual de um jogo de futebol em algo mais do que marcar golos. Se a realidade exige resultados positivos, a simulação virtual convida os jogadores a “viverem” a experiência desportiva. Não esperem um FIFA totalmente diferente, encarem antes a proposta da EA como um vinho que ficou na adega a amadurecer, sempre na mesma garrafa, claro.
A dicotomia actual entre Pro Evolution e o FIFA é descrita por alguns como a diferença entre um sentimento mais arcade proporcionado pelo título da Konami e o carácter mais intensificado da simulação de futebol da EA, mas nem sempre foi assim. O PES instituiu desde cedo uma forma de jogar mais parecida com a realidade, com pormenores tão simples como a bola não permanecer colada sempre aos pés dos jogadores. Esta “revolução” fez com que a abordagem dos jogadores não fosse tão descuidada e individualista. Já vai longe o tempo em que nos jogos de futebol fosse possível atravessar o campo de uma ponta à outra sempre com o mesmo jogador. O FIFA teve desde o início um carácter mais arcade onde era possível passar a bola para qualquer direcção dentro da área de jogo que certamente lá estaria um colega de equipa para a receber. Embora o franchise no seu início defendesse uma abordagem mais “fácil”, a verdade é que com o tempo as coisas foram mudando. No ano passado com o lançamento da versão 12 do jogo e as inovações que trouxe consigo, este título libertou-se definitivamente do estigma arcade, apostando essencialmente na simulação desportiva. Este ano o motor de física, (introduzido no ano passado) foi melhorado e é responsável por um cálculo mais preciso das colisões entre os jogadores. As variáveis (peso, velocidade, entre outras) tidas em conta criam verdadeiros momentos de disputa de bola. A Inteligência Artificial (I.A.) foi aperfeiçoada, dinamizando o decorrer das partidas e alguns elementos da jogabilidade foram introduzidos catapultando o jogo para o patamar mais alto das simulações.
A apresentação do jogo da EA Canada é um regalo para a vista de qualquer adepto. As animações fluem com a elegância de um cisne e o aspecto gráfico é bonito e eficaz. As sequências animadas que intervalam os desafios são do melhor que se faz em videojogos deste segmento. A apresentação gráfica é muito apelativa e eficaz na promoção do espírito futebolístico. Há que dar crédito a um título que sempre fez por proporcionar aos jogadores uma experiência envolvente do desporto rei. Podemos contar mais uma vez com um vasto número de campeonatos, equipas licenciadas, selecções e suas estatísticas actualizadas. Factores de sobra para aliciar os amantes da modalidade. Apesar de não ser nenhuma novidade ainda bem que FIFA continua igual a si mesmo, não esperaríamos menos.
Naquilo que é mais importante, podemos contar com um jogo bastante semelhante ao ano passado. A diferença acentua-se no vector realismo, a grande aposta da produtora sediada em Burnaby (Vancouver). Se estivermos a participar numa liga, a nossa equipa é influenciada pelo lugar que ocupa na tabela de classificação e a empatia entre os jogadores influencia a sua performance. Numa ultimate team com jogadores de diferentes clubes, dois jogadores do Barcelona, por exemplo, jogarão melhor entre eles. Ocasionalmente os atletas lesionam-se e saem automaticamente, sem contemplações ou insistências, não havendo volta a dar… “Ah e tal mas o Eusébio jogava com as canelas todas “quincadas” e nunca teve problemas!” – Temos pena…
O 1st Touch Control é uma nova adição que poderá ser controversa para alguns, porque impõe alguns desafios na recepção da bola. As habilidades do jogador, pressão que os adversários lhe estão a fazer na altura, velocidade do remate ou até o estado do tempo influenciam o controle do esférico. Mas juntando às características individuais dos jogadores existe o elemento de realismo/incerteza que dita, justa ou injustamente, a sorte desportiva. A EA Canada arriscou consideravelmente na implementação deste factor. Nos videojogos existe uma linha muito ténue a separar o nível de realismo do divertimento e por vezes, uma jogada que podia ser perfeita poderá ser comprometida seriamente se uma recepção de bola for mal feita. Nessa altura gritaremos: “Que estupidez!!!”, em vez de: “Que realismo, uau…”. De qualquer forma, o sistema tende a favorecer mais o factor divertimento e a ocasionalmente aplicar a simulação pura e dura.
O sistema de física sofreu melhorias e isso reflecte-se na interacção entre os jogadores que agora já não caem ao mínimo impacto. Essa melhoria é visível no decorrer do jogo e nas parcas faltas que são apontadas. Pode-se dizer que a fluidez de um desafio dá-nos a sensação que estamos a jogar na Premier League. Não estou a dizer de todo que é possível fazer “34 hit Combo” num adversário e ver o árbitro a olhar para o lado, a assobiar como nada se passasse. A inteligência artificial que controla a intervenção do juiz da partida é que foi revista no sentido de promover o desfrute do jogo pelo jogo, em vez do apitar sucessivo, cada vez que um atleta cede à pressão de um adversário. O Player Impact Engine, adicionado na versão do ano passado, foi melhorado reflectindo a aposta deste ano de aperfeiçoar o franchise em deterimento de o revolucionar. Variáveis como a estrutura muscular e esqueléctica dos jogadores proporcionam colisões realistas e lógicas, mais fáceis de identificar pelo árbitro que, também de forma exemplar, não se coíbe de benefeciar o infractor e sancionar no final da jogada quem fez a falta. Situações verificadas na versão anterior, como visíveis fracturas das pernas, mortais encarpados, quedas súbitas e inexplicáveis, bem como cenas de amor imortalizadas no youtube por Andy Carroll e Lukasz Fabianski, não se irão repetir. Detesto desapontar os eternos românticos, mas estamos a falar de futebol, desporto para machos latinos (se é que ainda os há)…
Os progressos realizados na inteligência artificial trazem mais veracidade às movimentações dos jogadores, seja a atacar ou a defender. A fuga de um avançado, a forma como procura espaço para se desmarcar ou a movimentação que os nossos colegas fazem para se tornarem opções válidas de passe, credibilizam o jogo como nunca. Conseguir dominar essa dinâmica é um desafio exigente e não está ao alcance de todos. Há que continuar a trabalhar de domingo a domingo…
Existe um modo no menu principal que nos dá acesso a uma série de mini desafios, com o objectivo de melhorar as nossas habilidades como jogador. Estes jogos de perícia permitem que aprendamos a driblar, afinarmos a qualidade do nosso passe, os remates livres, em profundidade, penalties, entre outros. Porque o sistema foi feito por objectivos e metas, a motivação é maior. Durante trinta e dois mini jogos teremos a oportunidade de nos adaptarmos à jogabilidade, que de certa forma incorpora novos elementos (controle do esférico, disputa de bolas, entre outros). É também uma óptima oportunidade dos jogadores menos experientes tomarem contacto com os controlos básicos do jogo. A experiência que tive neste modo oscilou entre alguma frustração e a sensação de melhoria no domínio da bola. A direcção que imprimimos no controle analógico e a pressão e duração que exercemos nos botões são muito subtis, o que por vezes torna a nossa tarefa difícil de executar. Porém, quando o fazemos com sucesso, sentimos que evoluímos e que será uma questão de tempo até dominarmos a redondinha (como o Jorge Perestrelo tão carinhosamente lhe chamava) o suficiente para não sofrermos tanto com o sistema 1st touch control.
O modo online é um dos principais activos do jogo, como tal a EA apostou em aprofundar a experiência proporcionando com o modo Match day que o desempenho das equipes do jogo seja influenciada pelo momento de forma que as verdadeiras equipas estão a atravessar naquele momento. Esta funcionalidade aproxima ainda mais o jogo da realidade, tornando a experiência mais transparente e motivante.
Esteticamente, FIFA 13 não mudou muito desde a época passada. Solidez será a palavra para melhor descrever os gráficos e as animações. O polimento das texturas é súbtil talvez porque as limitações técnicas do hardware assim o imponham. O motion capture respira vida para dentro dos jogadores virtuais e espelha fielmente a estética de um desafio de futebol real. O som mantém a mesma qualidade de sempre e alguns dos temas mais badalados do momento são a banda sonora. Neste capítulo nada de novo e ainda bem.
O melhor: Sistema de inteligência aperfeiçoado, afirmando-se como o state of the art das simulações de futebol electrónicas. Sistema de colisões sólido e coeso que espelha realismo e veracidade à experiência de jogo. Integração online com as equipas reais.
O pior: Gráficos polidos mas pouca melhoria desde a época passada. Alguém disse próxima geração? O sistema 1st touch control introduz menos automatização e penaliza a falta de destreza.
FIFA 13 não sendo um jogo revolucionário, consegue colmatar falhas do passado e adiciona funcionalidades que serão bem vindas pelos fãs da série. O futebol, como todos os outros desportos, depende da destreza dos seus intervenientes humanos, mas também tem em conta todos os factores externos que estes não controlam. A gravidade, velocidade e a inércia são factores circunstanciais do momento em que se disputa o esférico. A sorte é fruto dessa dinâmica e a incerteza, embora seja algo que receamos, é condicionante essencial da prática desportiva. Este título celebra essa filosofia com uma mecânica firme, eficaz e é difícil ficar indiferente.
(Versão analisada: PS3. Também disponível para Xbox 360, PC, PS2, Wii, 3DS, PS Vita, PSP. Proximamente para outras plataformas).
Comments (4)
Boa review, embora não considere os piores apontados como piores do jogo, é necessário alguma destreza para o jogar não é como um PES que é dedicado a jogadores mais casuais, a parte da simulação faz o seu papel nesse aspecto, porque considerar mau a falta de automatização e penalização de destreza é olhar de forma errada para o jogo, pois até se joga melhor em modo manual que automático, é mais dificil sim mas é isso que faz o jogo bom e desafiante
Eu também concordo contigo no que diz respeito à automatização que retira o verdadeiro gozo da simulação. O que queria dizer é que o factor “realismo”poderá demover alguns jogadores da experiência.
Acho que o que falta a analise são os modo carreira tanto como jogador como treinador!!! São na minha opinião os que mais agarraram a malta!!
A minha intenção foi focar a aposta da EA na simulação e transmitir aos leitores esse “feeling”. Às vezes por razões editoriais (número de caractéres), também se torna difícil tocar em todas as áreas de um jogo, como elas mereceriam. Vou tentar melhorar para que numa próxima vez consiga diminuir esse desnível… Obrigado pelo comentário :)