A Sony PlayStation tem nas mãos algo muito sério: a oportunidade de criar uma experiência nova e enriquecedora entre pais e filhos, mas que perdure. Wonderbook é especial, por ser uma tecnologia que nos faz esquecer a própria tecnologia em si mas que nos consegue transportar para um lugar mágico. A questão é: saberá a Sony dar a devida importância àquilo que tem nas mãos?
Nos meus tempos de criança, certos livros na prateleira nunca deixaram de me fascinar. Um deles, que os meus pais me ofereceram para que compreendesse de onde vinham os bebés, encerrava com uma última página fascinante em que podíamos puxar um recém-nascido de cartão e fazer nós próprios o parto. Aquela possibilidade do livro seduziu-me durante vários anos e não me cansava de regressar ao mesmo e repetir a experiência. A esse juntavam-se dois ou três livros pop-up, em que cada virar de página resultava em fantásticas construções tridimensionais de papel. O encantamento de cenários que se montam e desmontam no virar de uma página é algo que toca todas as crianças que o experimentam ao longo de diferentes gerações.
Wonderbook tem essa capacidade mágica, a de juntar ao livro o fenómeno do deslumbramento visual. Das duas vezes em que me foi possível experimentar a nova tecnologia da PlayStation não retive, curiosamente, memória visual do livro em si: um livro de páginas azuis com formas geométricas abstractas que se destinam a ser “lidas” pela câmara do PlayStation Move. Todas as memórias visuais que ficaram das minhas primeiras experiências com o livro são aquelas que apareceram na televisão mas a memória que tenho delas é como se tivessem estado no próprio objecto físico. Isto é, Wonderbook consegue transportar a nossa imaginação da imagem gerada para o livro que está à nossa frente.
Livro de Feitiços, o primeiro grande livro para Wonderbook, uma parceria entre a Pottermore de J.K. Rowling e a Sony, transporta os leitores para o universo de Harry Potter. O comando do Move serve de varinha mágica que permite interagir com o livro, e aprender e lançar um conjunto variado de feitiços. Mas a melhor singularidade do livro não é a interacção mas sim a magia de ver os conteúdos nas páginas a mexer. Um dragão ilustrado que desliza por baixo do texto de uma página para outra, um teatro de marionetas em movimento e em 3D que roda quando rodamos o livro, letras que se constroem e desfazem em cima da página. Quando me sentei no chão com o responsável da Sony a experimentar o livro senti-me uma criança e certamente quem olhasse para mim veria um brilho nos olhos.
Quando foram anunciadas as parcerias futuras com a BBC e o Discovery Channel é impossível não antever as enormes possibilidades e ficar com uma imensa expectativa. Imagino-me sentado no chão com a minha filha enquanto os Dinossauros passeiam entre uma página e a outra, ou a rodarmos no ar vários tipos de minerais. As possibilidades para criar conteúdos inovadores são ilimitadas e é aqui que reside a grande dúvida, se a Sony estará preparada para dar a Wonderbook o acompanhamento que a tecnologia merece. Wonderbook não pode ser abandonado depois de um ano ou dois. Wonderbook não pode receber poucos lançamentos e, principalmente, os diferentes livros de Wonderbook têm de ter preços acessíveis. Se a Sony quiser apenas fazer dinheiro rápido com os primeiros tempos, este produto pode ser algo lucrativo mas passageiro. Se a Sony se empenhar a sério, Wonderbook pode ser uma verdadeira revolução. Não vai nunca substituir a leitura de um livro tradicional, nem deve, mas a nova criação da PlayStation tem tudo para aproximar as famílias na sala, em redor de uma narrativa. E isso, em si mesmo, já é magia.
Comments (2)
[…] do livro mágico da Playstation com Livro de Feitiços (Book of Spells). O Rubber Chicken já fez algumas considerações acerca da oportunidade que a Sony tem de trazer aos jogadores algo de único para todas as […]
[…] aqui o escrevemos: Wonderbook é uma grande oportunidade de criar um livro mágico para crianças e adultos, e também referimos que este não é um substituto aos livros mais tradicionais mas sim um […]