A polémica estalou há cerca de duas semanas na imprensa especializada em videojogos, naquele que já é conhecido como o caso Doritosgate. Um debate recorrente nos últimos anos mas ainda por resolver, sobre qual o significado das relações muito próximas entre os departamentos de relações públicas das editoras e os jornalistas, regressou e mostrou que a grande maioria dos leitores acredita que existe promiscuidade e influência naquilo que se escreve. Isto levou alguns dos maiores sites a mudarem a sua política editorial e lançou uma das maiores discussões internas de sempre sobre o que é ético e o que é reprovável, com argumentos de todos os lados e muitas opiniões convergentes e divergentes. O Rubber Chicken não pode afastar-se dessa discussão, nem da responsabilidade necessária de definir a sua postura que será redefinida no final deste artigo.

Um dos artigos mais importantes desta discussão foi o de Patrick Garratt, o editor e fundador do VG247 que declarou “Acredito, honestamente, que todos temos sido profissionais de uma forma muito pouco profissional durante demasiado tempo. Mesmo tendo a total confiança em nós próprios de que somos independentes de corpo e mente, temos que, a certo ponto, tornarmo-nos também independentes com acções. “Vocês têm de confiar em nós”, depois do Doritosgate, já não é suficiente”. O VG247 mudou esta semana a sua política editorial.

Outros estão a seguir-se, incluindo o Polygon e o Eurogamer.net, onde aliás a polémica rebentou, mas a mensagem que está a passar e a provocar a mudança de políticas editoriais pode resumir-se na difícil questão: estará o jornalismo de videojogos a tornar-se cada vez mais indistinguível do trabalho de relações públicas e promoção. Não existe uma única revista ou um único site de renome que não esteja neste momento a tentar responder a esta pergunta e a discutir o seu futuro editorial.

Mas afinal, o que raio aconteceu?

 

Tudo rebentou com uma imagem a circular na internet. Geoff Keighley, um dos mais conceituados jornalista de videojogos e apresentador e editor executivo de vários programas no GameTrailers, apareceu no programa à frente de uma banca de promoção da Doritos a Halo 4, repleta de produtos promocionais. A imagem deu origem a um artigo de opinião de Robert Florence no Eurogamer.net que apontava a enorme promiscuidade na qual o jornalismo e  a indústria dos videojogos  já estavam completamente enredados e o facto de isso estar a colocar em causa a integridade das notícias e reportagens. Como exemplo, Florence deu o caso de jornalistas de destaque que promoveram produtos na sua conta de Twitter num evento, na tentativa de ganhar uma PS3, e outros que tinham as suas páginas repletas do que poderia ser considerado publicidade a jogos, referindo também uma política já demasiado normal de relações demasiado próximas cheias de ofertas entre jornalistas e RP’s. Uma das jornalistas envolvidas não achou graça e ameaçou um processo legal ao Eurogamer. O Eurogamer resolveu retirar as menções aos jornalistas do artigo, o que levou Florence a despedir-se na sequência dessa acção e rebentou uma das maiores polémicas de sempre que incluiu, não fosse isto a internet, uma enorme caça às bruxas e um lavar de roupa suja que descobriu vários jornalistas a fazer consultadoria a empresas das quais analisam jogos na imprensa.

O Rubber Chicken acredita que a grande maioria dos jornalistas de videojogos são pessoas íntegras, pessoas que tentam não deixar que o seu trabalho seja influenciado por interesses comerciais de terceiros e que conseguem manter uma noção de factualidade mesmo numa apresentação repleta de luz e som. Por outro lado, existem excelentes pessoas a trabalhar nas  relações públicas das editoras, pessoas íntegras cuja forma de trabalhar não é a de tentar influenciar de forma positiva ou de punir as críticas. Até hoje, o Rubber Chicken nunca recebeu uma única pressão nem qualquer insinuação. Mas, no entanto, é certo que há uma linha muito ténue entre o jornalismo e a promoção quando um jornalista aceita mordomias da parte da empresa cujos produtos está a cobrir. O Rubber Chicken acredita que tem de redefinir a sua política editorial.

Qualquer jornalista de videojogos com alguns anos de experiência já foi acusado de tudo: fanboy, faccioso, vendido, ignóbil, you name it.

 

O Rubber Chicken alerta que as mudanças agora feitas à sua política editorial em nada constituem um antagonismo com as editoras e agências. Não conseguiríamos ter feito nem metade do trabalho que fizemos até hoje se não fosse o apoio das mesmas. Contudo, tem de existir transparência nessa relação, para que os que nos seguem saibam o que se passa nos bastidores.

Por todas estas razões, o Rubber Chicken resolveu rever a sua política editorial e introduzir as seguintes alíneas.

– O Rubber Chicken não aceitará o pagamento de viagens, alojamento ou refeições em eventos de lançamento de jogos, eventos para análises de produto final ou em congressos e feiras de videojogos nas quais estejam presentes mais do que uma editora de jogos. O Rubber Chicken também não aceitará o convite para eventos de editoras ou agências de representação que não estejam directamente relacionados com um jogo, consola ou periférico.

– O Rubber Chicken aceitará o pagamento de viagens e alojamento da parte de editoras, distribuidoras e produtoras, apenas para antevisões de jogos que estão em fase de desenvolvimento e quando não é possível ter o contacto de jogabilidade com esses produtos de outra forma. Sempre que isto acontecer iremos mencionar esse apoio no artigo, para que fique clara aos nossos leitores a existência do mesmo.

– O Rubber Chicken aceita receber jogos para análise, peça fundamental para executar o seu trabalho. O Rubber Chicken também aceita receber consolas, hardware ou periféricos, estes desde que a título de empréstimo temporário e apenas produtos que sejam imprescindíveis para a antevisão ou análise de jogos.

– Qualquer material promocional que seja recebido que não seja necessário para análises (ex: figuras de edições especiais, posters, etc) será sorteado e oferecido aos fãs no site.