Canalizadores, princesas e cogumelos.

Desde que me lembro de haver consolas (leia-se: desde que tive uma NES) que a palavra Nintendo evoca a imagem do Mario, qual reflexo condicionado de Pavlov. O primeiro jogo que tive foi precisamente Super Mario Bros e deu direito a inúmeras horas de diversão, correrias, cabeçadas em tijolos e pontos de interrogação, powerups escondidos, viagens por tubos secretos e imprecações mentais (que não seria de boa educação reproduzir por escrito) contra uns tais de Lakitu e Hammer Bros.

As consolas Nintendo foram-se sucedendo e, com elas, novos títulos do Mario. Alguns eram as plataformas 2D e os outros, cada vez mais variados, iam do RPG às corridas de karts, ao Mario em 3D, passando pelo seu alter-ego maligno. Muitos anos depois a Wii trouxe com ela uma grande surpresa: chegava New Super Mario Bros Wii (NSMB) com tudo o que desejava desde o primeiro título e ainda mais: modo cooperativo local, não só com duas mas com até quatro pessoas. Acabei-o em single player e em família, por entre risos e gritos de “bolha-te!” e, desde então, tudo o que queria era ver a Nintendo lançar um New Super Mario Bros Wii 2 (já que afinal o excelente Super Mario Galaxy teve direito a dois títulos para a consola). Nem precisava de trazer rigorosamente nada de novo. Mais daquela experiência, tanto a um como a quatro, teria sido mais que suficiente para nos satisfazer.

Se o negócio de canalizador for por água abaixo, Mario pode sempre dedicar-se ao circo. É ou não é perfeito como homem-bomba?

Se o negócio de canalizador for por água abaixo, Mario pode sempre dedicar-se ao circo. É ou não é perfeito como homem-bomba?

 

New Super Mario Bros U aparece agora como título de lançamento da nova Wii U. Mal o jogo arranca somos imediatamente saudados por uma banda sonora sobejamente conhecida e por uma imagem estática, a mesma da capa do jogo, que reflecte bem o caos que é jogar em modo cooperativo. Mas estou a adiantar-me. Em single player o jogo é aquilo a que o antecessor directo, na Wii, já nos habituou (lamentavelmente incluindo a limitação de apenas permitir três saves quando deveria permitir pelo menos seis – um para cada potencial jogador e um para todos). Só que desta vez e pela primeira vez, o Mario está em HD. E é qualquer coisa de magnífico ver o Mario, em toda a sua glória híper-colorida e vibrante, acompanhado pelos efeitos sonoros que conhecemos tão bem, desta feita em alta definição.

Os níveis seguem a fórmula de NSMB, uma bandeira pequena a meio de cada nível, que serve como checkpoint temporário e uma grande bandeira no final, com os mundos a seguirem a mesma lógica dos títulos anteriores: castelo de semi-boss a meio (muito bem vindo porque só podemos gravar à saída dos castelos) e castelo de boss de pleno direito no fim, com atalhos e caminhos secretos com fartura. Já a história teve direito a uma pequena reviravolta cosmética: cansado de raptar a princesa só para que Mario e companhia a salvem vezes sem conta, Bowser e os seus koopalings decidiram desta vez fazer uma tomada hostil ao castelo da princesa e ficar com ela, expulsando Mario e os amigos para uma terra longínqua onde imperam as bolotas mágicas. Depois foi só contratar um decorador de interiores e zás! O castelo ficou logo mais acolhedor para o nosso vilão. Mario vai então ter de percorrer esta terra e os seus vários castelos para não só libertar a princesa como ainda expulsar os ocupantes ilegais do reino.

Mario e os amigos jogam ao quarto escuro, e o Baby Yoshi consegue ser a luz da festa.

 

Pelo caminho conta com as mesmas coisas fundamentais que o ajudam há mais de 20 anos: powerups, atalhos secretos, moedas, o mano Luigi, e os dois cogumelos com voz de araras. Luigi é, aliás, útil de duas maneiras: tanto como aliado nas mãos de outro jogador, como numa função de guia, depois de termos morrido vezes suficientes. Se estivermos constantemente a saltar para o abismo surge a oportunidade de vermos o Luigi a jogar o nível por nós. O problema é que quando pegamos no comando para regressar à acção continuamos do ponto em que Luigi se encontra. Ou seja, o jogo pode jogar sozinho.

Para inovar um pouco mais na saga a Nintendo introduziu Nabbit, um ladrão que temos de perseguir para recuperar itens roubados (alguém mais se lembrou do Spyro?). Há ainda três Yoshis bebés que conferem habilidades extra e que nos acompanham de nível para nível até morrermos, esperando pacientemente à porta dos castelos, nos quais não entram. Estes pequenos dinossauros a quererem competir com a cuteness dos lol cats provocam sempre o sorriso quando activamos as suas características especiais: um transfoma-se num enorme balão muitas vezes maior que ele, outro dá-nos luz em cavernas escuras naquele que é um dos desenhos de nível mais bem concebidos de jogo e temos ainda um terceiro, que poderíamos chamar o babão, que faz bolhas de cuspo para aprisionar os inimigos.

Não é o tamanho que importa, mas o que se faz com ele.

 

Uma vez terminado o jogo, como é apanágio de Mario, não chegou ainda a altura de pousar o comando e levar pancadinhas nas costas; pelo contrário, há ainda muito que fazer e mundos para explorar. Conseguir as cinco estrelas no nosso save vai implicar dedicação, muito esforço e confere um valor acrescentado ao jogo – mesmo depois de chegarmos ao fim sabemos que ainda temos muito que jogar. E, se entre família e amigos não tiverem uma única pessoa que goste de jogar Mario, a história fica por aqui. Se bem que, no vosso caso, eu consideraria arranjar uma nova família e novos amigos. Se, por outro lado, houver pelo menos mais uma pessoa disposta a jogar convosco, então preparem-se para uma experiência caótica mas muitíssimo divertida.

O modo cooperativo standard é igual ao que era em NSMB. Os powerups dão para todos e têm em consideração quem está grande e quem está pequeno, havendo a hipótese de ficarmos numa bolha protectora dentro da qual não levamos dano (mas não todos ao mesmo tempo, senão é como se tivéssemos falhado o nível). Podemos agarrar e atirar os nossos companheiros ou mesmo transportá-los dentro da boca do Yoshi, o que pode provocar risadas e irritação no próximo, principalmente quando o libertamos num precipício. Para usufruirmos deste modo de jogo vamos precisar de um Wii remote por jogador, até um máximo de quatro. Mas há também o +1, qual assoalhada independente numa casa, que é o jogador com o GamePad. Este pode fazer várias coisas com o écran touch do GamePad, desde criar plataformas do nada a apagar fogos, passando por desmantelar esqueletos e fazer girar as rodas dentadas. Quando nas mãos de um jogador experiente pode ser uma ajuda preciosa – ou um oponente de respeito, se escolher usar os poderes que tem para o mal. Seja qual for o papel escolhido é uma mecânica que aumenta muitíssimo a diversão de cada nível. Experimentem ter um jogador com o GamePad a tentar esmagar outros 4 nas rodas dentadas, enquanto esses 4 tentam atingir o topo e começam a ter jogos dentro do jogo.

Numa noite estrelada chegaram os quatro Reis Magos. Traziam consigo cogumelos, moedas e plantas piranha.

Numa noite estrelada chegaram os quatro Reis Magos. Traziam consigo cogumelos, moedas e plantas piranha.

 

O melhor: Uma explosão de cor em alta-definição; A jogabilidade com mecânicas extremamente afinadas; A possibilidade de ser jogado em família; A mecânica de ajuda no GamePad; O respeito pelas origens da série; Enfim, quase tudo.

O pior: saves limitados a três (a sério, porquê?) e pouca inovação relativamente a NSMB (não que lhe sinta a falta) para quem joga exclusivamente sozinho.

New Super Mario Bros U é um excelente jogo de plataformas tanto para fãs da saga como para quem só agora se estreia nas andanças do canalizador. Visualmente é um mimo, com o Mario finalmente em HD, retém todos os bons elementos dos antecessores sem ter necessidade de explicar nada aos recém-chegados, e proporciona muitas horas de diversão de qualidade. Quem o quiser jogar em família vai tirar ainda mais proveito do jogo. Nintendo Land é anunciado como o título para jogar em conjunto. New Super Mario Bros U é capaz de lhe tirar o título. A não perder.

(New Super Mario Bros U é um exclusivo Wii U)