por André Sanchez Silva
As minhas escolhas são alguns dos jogos que considero importantes de relembrar quando pensamos no ano de 2012. Jogos que chamam a atenção pela sua originalidade, por serem arriscados, divertidos, ou uma experiência com impacto sobre o jogador. Pela capacidade de nos fazerem pensar e sentir, ou pela pura diversão e gozo de serem jogados. Não existe para mim melhor do ano, mas sim jogos importantes que devem ser jogados, com mais ou menos destaque.
Em 10º lugar não posso deixar de colocar Chivalry: Medieval Warfare, por ser uma experiência de combate na primeira pessoa diferente do que estamos habituados, por ser extremamente divertido e visceral. Em 9º lugar Hotline Miami, um jogo que nos oferece uma promiscuidade deliciosa entre shooter, beat ‘em up e puzzle game, e nos assalta os sentidos com a sua estética retro.
Dear Esther ocupa o 8º lugar, por ser um exemplo perfeito de como a investigação académica na área dos jogos pode dar frutos, e por mostrar que a decomposição da dinâmica do FPS pode ser uma experiência emocionalmente rica e transformadora. Em 7º lugar, Kyle Gabler mostra-nos porque está na vanguarda da arte dos jogos com o seu Little Inferno, de conceito diabolicamente simples, forte simbolismo e sátira, com uma jogabilidade muito diferente do que estamos habituados.
Guild Wars 2 ocupa o 6º lugar por ser uma lufada de ar fresco na estagnação dos MMORPG, pela forma renovada como nos permite explorar um mundo e partilha-lo com outras pessoas. O 5º lugar é ocupado por FEZ, pela sua megalomania de puzzles, muitas vezes inteligíveis, mas que fazem parte de um mundo complexo em que nos queremos perder.
Spelunky falha os lugares cimeiros apenas por ser um jogo que já existia à algum tempo em versão gratuita, se bem que claramente inferior. Ainda assim é uma das melhores experiências do ano, num mundo totalmente aleatório, cheio de segredos e perigos à espreita. Uma aventura rogue-like onde somos testados ao limite e onde aprendemos com os erros, num jogo que não parece ter fim.
3º Lugar: DayZ
Não é uma versão final, mas um mod que merece especial destaque. A curva de aprendizagem é terrível, porque somos obrigados a lutar contra os problemas de polimento que o jogo tem, o interface, os bugs e glitches que resultam da transformação de um simulador de guerra em algo diferente. Mas DayZ é provavelmente o melhor jogo de zombies que poderão jogar este ano, e talvez no próximo, quando for lançada a versão standalone. Oferece-nos um mundo imenso onde nos podemos literalmente perder, numa experiência de sobrevivência que é um marco no género. A intensidade dos momentos em que nos cruzamos com outros jogadores é única, e vira de pernas para o ar todas as mecânicas de progressão a que estamos habituados num jogo multijogador.
2º Lugar: FTL – Faster Than Light
FTL consegue a proeza de nos fazer sentir a bordo de uma nave, investidos sobre a nossa tripulação e o seu destino. Visualmente muito simples, é a sua complexa simplicidade que destaca este jogo e o coloca a par e passo com os grandes. Por detrás dos mecanismos de gestão da nave acessíveis a qualquer pessoa, encontra-se uma dinâmica de jogo complexa. As suas mecânicas permitem que o jogo esteja ao alcance de todos, mesmo os não letrados nas andanças da gestão estratégica. Mais um rogue-like, o que significa que as sessões de jogo podem durar 2 minutos ou duas horas, cada aventura é aleatória e a morte é permanente. É muito difícil, com alguma sorte pelo meio, mas como jogadores sentimos um crescimento enquanto percorremos os meandros da galáxia. Tem uma simplicidade narrativa que nos trás à memória os jogos de aventura com texto, ou qualquer outro jogo em que a escrita é força motriz da imaginação. Uma pérola.
1º Lugar: Journey
Tenho o desejo secreto de que toda a gente no mundo jogue videojogos, e se tivesse de escolher um título para apresentar a quem nunca jogou, talvez Journey fosse uma escolha acertada. Mais do que o aspecto visual ou técnico, a importância de Journey está no facto de conseguir obliterar com certas barreiras que a industria tem neste momento. Acredito que os seus conceitos são comuns a qualquer cultura humana: jornada ou caminho, morte, vida, solidão e proximidade (esta última, das poucas necessidades humanas que se julga ser comum a todas as culturas). É visualmente irrepreensível e envolvente. Foi das poucas vezes que me senti incomodado por ter de usar um comando para explorar um mundo de jogo – com um acessório que obriga a aprendizagem e quebra o ímpeto que sentimos em percorrer a vastidão desse mundo. Um pináculo técnico e artístico dos videojogos, enquanto objecto de criação humana. Para hardcores, casuais e pessoas.
Comments (1)
Gostava mesmo de experimentar o journey, mas não tenho PS3 :(. Era fixe que viesse para o pc