Irritante até mais não!

Egocêntrico, egoísta, arrogante, vaidoso, malandro, trapaceiro, inconsequente, cínico; são variadas as formas de adjectivar Rufus, o protagonista de Chaos on Deponia, que vive na ilusão de que é um herói capaz de salvar Deponia da destruição total. Quem Jogou o primeiro título, Deponia, estará familiarizado com a agitação e sarcasmo com que a alemã Deadelic Entertainmente caracterizou esta lixeira a céu aberto que é o planeta Deponia.

Não querendo revelar muito do enredo, Deponia deixou-nos com um cliffhanger, sendo a acção retomada em Chaos on Deponia. Rufus vê-se confrontado com uma situação complicada, ao dar conta de que o planeta Deponia está prestes a ser destruído por Cletus (seu arqui-inimigo) e só Goal (a sua amada biónica) tem a solução para impedir os planos de destruição. Mas como estamos a falar de Deponia e de Rufus, as soluções nunca são simples; e em resultado de acontecimentos tresloucados, Goal aparece-nos com uma tripla-personalidade! Baby Goal, inocente e ingénua; Spunky Goal, rude, teimosa e resmungona e Lady Goal, mimada, snob e exigente. Estas três personalidades estão em cartuchos, que podem ser alternadamente inseridos no crânio de Goal. Cabe então a Rufus a difícil tarefa de conquistar e convencer cada uma das personalidades de Goal a voltarem a ser uma só. E, para isso, escusado será dizer que Rufus vai provocar o caos em Deponia. Somos nós que controlamos o personagem Rufus, ou será ele que nos controla a nós? Digo isto porque me senti naquelas situações em que vemos tudo fugir do nosso domínio; sendo Rufus um personagem bem característico, que só sabe resolver os seus problemas gerando novos problemas. Estar a solucionar um puzzle e ver que ele vai originar uma situação incómoda, não a podendo contrariar, poderá gerar irritação a alguns jogadores e até mesmo puro gozo aos que se revêm na personagem de Rufus.

Estás a ver ó velhote! É assim que se faz! Aprende comigo!!

Estás a ver ó velhote! É assim que se faz! Aprende comigo!!

 

Iniciamos a nossa aventura com um pequeno tutorial, onde nos são explicados os acessos aos menus, como pegar em objectos e fazê-los interagir com elementos do cenário. Posto isto, partimos para Deponia, entregues à desgraça. À nossa espera temos diversas localizações na cidade de Deponia a pedirem para ser exploradas, que vão desde as docas com aspecto malcheiroso; passando pelo bar boémio mal frequentado; o mercado central, com um farmacêutico invisual, com o qual Rufus goza a tempo inteiro. Até tem uma esplanada onde é servido ornitorrinco, a maior iguaria de Deponia, cozinhado das mais diversas formas e feitios, havendo uma secção de take-away. Estas localizações aparecem sob a forma de um mapa, que nos possibilita um fast travel entre todos os locais de Deponia.

A resolução de puzzles, pelo que dá a entender, é mais acessível que o seu antecessor. Contudo, não esperem facilidades, pois já se sabe, impera a desordem. As diferentes localizações do mapa contêm puzzles para serem resolvidos, não estando no entanto a sua resolução restringida a esse mesmo local, fazendo com que se vá de local em local em busca da solução aparente. Portanto o caminho não é linear, permitindo que não nos sintamos perdidos sem saber o que fazer a seguir, pois há sempre algo para solucionar e que mais tarde ou mais cedo nos conduzirá ao ponto chave que desenrolará a acção. A resolução de alguns puzzles passa também por jogar uns mini-jogos, os quais têm a possibilidade de não ser concluídos se fizermos uso de uma opção skip, disponível no ecrã do mini-jogo. De destacar a resolução de um puzzle tão simples, mas tão out of the box, que não cairá no esquecimento de quem tenha jogado Chaos on Deponia; pois a solução passa por fazer uso dos menus do jogo! E mais não me posso chibar.

Que dois Ornitorrincos estes me saíram

Que dois Ornitorrincos estes me saíram

 

Os diálogos são também uma forte componente chave para a resolução de problemas, sendo que a condução correcta de uma conversa levará a avançar na acção. Os diálogos chegam a ser bastante longos e por vezes irritantes ou mesmo sem ter sentido, estando presentes alguns erros ortográficos; pelo menos na língua inglesa.

A série Deponia foi muito bem recebida e merecedora de destaque, pois é uma aventura gráfica que se afirma muito pelo seu visual e pela personalidade vincada dos seus personagens. São apresentados cenários 2D muito bem ilustrados, capazes de transmitir sensações, e os personagens possuem personalidades distintas e únicas, tendo cada um deles o seu historial próprio que vamos conhecendo à medida que nos vamos relacionando com eles. Outro grande ponto forte desta série é o seu humor. Diria quase negro, com doses de sarcasmo e cinismo, em especial por parte do protagonista Rufus que parece claramente inspirado no protagonista de Monkey Island, Guybrush Threepwood; mas quase que levado ao extremo.

Chaos on Deponia_3

Herpes! Tenho herpes! Vou-te pegar!

 

O melhor: Grafismo 2D primoroso; Voice acting; Humor negro; personagens carismáticos; inclusão de uma mapa com os variados locais a explorar, bem como a opção fast travel;

O pior: Diálogos por vezes incoerentes, apresentando erros ortográficos.

A Deadelic Entertainmente volta a depositar todo o seu charme neste segundo título Chaos on Deponia, mas não lhe acrescenta algo substancialmente novo. Contudo, não deixam de ser cerca de 12 horas a fazer point and click em frente a um ecrã cheio de deliciosas animações, acompanhadas de momentos de humor que vos farão dar gargalhadas, bem como ficar com os cabelos em pé de tanta vontade de dar uma sova em Rufus! O facto de Chaos on Deponia ser um pouco de “mais do mesmo”, poderá servir como preparação para o derradeiro final que chegará com Goodbye Deponia; o terceiro e último título desta série de aventuras gráficas que pretendem dizer que o género não está, nem pode ser esquecido e que continua a apresentar potencial. Acabamos assim Chaos on Deponia, com a única certeza de que Rufus voltará para nos mostrar os seus dotes de idiota.

Chaos on Deponia é um exclusivo PC