Click Click, Bang Bang
Estávamos em pleno outono de 2009 quando o Torchlight original andou pelos monitores do mundo inteiro, saciando a sede de Hack-and-Slash que se tinha abatido sobre a comunidade desde o lançamento de Diablo II. É inevitável a comparação destas sagas, mas acaba por ser uma comparação positiva para Torchlight, pois a Runic Games foi fundada por ex-empregados da gigante Blizzard, e em vez de uma cópia barata, Torchlight surge como uma evolução linear e lógica dos mecanismos explorados por Diablo.
Com o lançamento de Torchlight II agendado de forma estratégica para cinco meses depois do de Diablo III, a Runic Games conseguiu seduzir bastantes jogadores a comprar por um preço razoável mais umas boas horas de Hack-and-Slash, jogadores que se encontravam a ressacar, perdidos nas cinzas ainda mornas de Sanctuary. No entanto as comparações acabam aqui, pois as duas sagas, apesar de serem meias-irmãs, seguem agora caminhos divergentes.
Torchlight II traz-nos bastantes evoluções de mecânicas introduzidas na prequela, no entanto são apenas “evoluções” e não “revoluções”. O jogo mantém-se humilde e fiel às suas origens, o que nem é uma má ideia. Se pensarmos bem este jogo existe maioritariamente devido à enorme demanda que houve dos fãs, e apresentar algo completamente novo com gameplay diferente poderia originar grande revolta por parte destes mesmos fãs.
Algumas diferenças claras incluem um mundo com várias cidades e dungeons, ao contrário do formato mono-cidade/dungeon do seu predecessor, e a função multiplayer (até 6 jogadores) adicionada e complementada pela inclusão de novas classes: os Engineer usam as suas ferramentas gigantes e trajes steampunk para fazerem bastante dano corpo-a-corpo; os Outlander especializam-se em armas de longo alcance; os Berserker usam ataques rápidos para infligir dano; e os Embermage são a classe mágica que invoca o poder dos elementos.
A narrativa do jogo está dividida em três capítulos mais um epílogo, e esta consiste da nossa procura incessante pel’O Alquimista que foi corrompido pela Ember Blight. Aqueles que jogaram o primeiro Torchlight reconhecerão O Alquimista como uma das classes jogáveis, o que não deixa de ser bastante curioso, uma vez que esta foi a personagem com a qual investi bastantes horas no primeiro jogo e afinal o seu destino foi tornar-se um vilão.
As cidades dão-nos ainda maior sentimento de segurança, promovendo actividades mais demoradas que comprar centenas de poções, como encantar armas e melhorar equipamentos. Assim que passamos por um dos portais o panorama é completamente diferente. Entramos em áreas desoladas nas quais a humanidade claramente desistiu de tentar habitar, resultando no domínio destas por hordas de monstros e bestas dos mais variados, possíveis e imaginários feitios, que nos atacarão mal nos vejam. E é nestas áreas que, enquanto enfrentamos centenas de monstros em simultâneo, surgem as sidequests mais interessantes e que normalmente resultam no melhor equipamento que podemos obter, sem matar um boss dez vezes maior que nós e que cospe ácido.
A quantidade de bosses neste jogo é alucinante, todas as subdivisões de tribos de aberrações têm o seu chefe, resultando em batalhas prolongadas contra um boss sempre que viramos uma esquina. Isto permite-nos chegar ao híper-super-big-boss final da quest ou dungeon com bastante mais experiência, e equipamento muito melhor. É nesta situação que o nível de dificuldade tem tendência a aumentar a pique, levando-nos a combater durante dez minutos, queimando poções quase ao mesmo ritmo que o Molyneux faz promessas infundadas.
O número de pequenos inimigos digitais é apenas rivalizado pela quantidade de loot. Todos os goblins, esqueletos, ogres e restantes raças de mauzões sofrem duma estranha doença que os leva a sangrar moedas e todo o tipo de parafernália de combate imaginável. É verdadeiramente recompensador ver rios de armas e dinheiro a aparecer como por magia, depois de derrotarmos um boss particularmente difícil. Ainda melhor que isto, é quando divergimos do caminho principal e damos por nós a percorrer um corredor que não está assinalado no mapa, para poucos passos à frente, descobrirmos uma sala secreta repleta de dinheiro reluzente. Existe uma sensação genuína de rebeldia e descoberta ao sairmos do mini-mapa para encontrar uma sala cheia de loot, e apesar de provavelmente esta já ter sido descoberta por outros jogadores inúmeras vezes, por momentos sentimo-nos como os primeiros exploradores a entrar num qualquer templo perdido cheio de riquezas, sem as complicações fiscais e judiciais que isso nos traria no mundo real.
Existe algo bastante recompensador na construção de uma personagem impossivelmente poderosa, que consegue derrotar bosses sem usar poções e derrotar dezenas de inimigos com apenas um ataque de uma skill. É este elemento mais que qualquer outro que nos prende a Torchlight II, a sensação de que somos realmente uma entidade quase divina no meio deste mundo cheio de monstros que todos os outros temem. O sistema de Fama do jogo serve também para enfatizar este facto, enchendo um pouco mais a sua barra cada vez que matamos um boss principal.
O melhor: Construir uma personagem que é uma maquina bem oleada de matar mauzões, e conseguir arrasar centenas de inimigos duma só vez. Não há momento mais gratificante neste jogo que aquele em que olhamos para uma enorme masmorra, repleta de corpos de monstros coroados por reluzentes moedinhas de ouro e equipamentos raros (com auras de cores que nem sabíamos que existiam no jogo)!
O pior: O grind. Este jogo chega a parecer um emprego, principalmente quando sabemos que para alcançar um dos nossos objectivos (de vida / do jogo) temos que passar horas a decepar cabeças de demónios-menores, na esperança de encher mais um milímetro da barra de experiência para evoluir de nível.
Torchlight II é um jogo que qualquer pessoa que tenha investido algumas horas da sua vida em videojogos consegue perceber e jogar rapidamente, no entanto não é para todos. Depois da sensação inicial de novidade, torna-se rapidamente repetitivo e enfadonho se nos reduzirmos a jogar de forma primitiva. No entanto, todos os sistemas e mecânicas melhoradas, em conjunto com novas áreas para explorar, novos inimigos para destruir, e diferentes equipamentos e armas poderosas para descobrir, fazem um bom trabalho em manter o jogo fresco e imprevisível. A saga Torchlight veio para ficar, e esperamos ansiosamente por uma nova aventura neste mundo.
(Jogo disponível para Windows)