De Survival Horror a shooter
Mais uma vez a Visceral Games e a EA juntaram-se para nos trazer mais um episódio da vida do engenheiro aeroespacial Isaac Clark. Ele está de volta, em Dead Space 3, e o que anteriormente era um homem perturbado e paranóide, agora parece ter total controlo sobre os fantasmas do seu passado, bem como grande à vontade no campo de batalha. Isaac amadureceu, passou a dominar o medo, desmembrar Necromorphs tornou-se um hobbie e agora até é apelidado de caçador de markers (obeliscos que originam os Necromorphs).
Para quem não tenha jogado os títulos anteriores, no inicio do jogo é feita uma boa recapitulação dos eventos que antecedem Dead Space 3. A acção inicia-se connosco na pele de um soldado, no planeta Tau Volantis, onde se parece ter encontrado a solução para a destruição dos markers. Mas algo corre mal e a obra fica pela metade. Duzentos anos depois, Isaac é requisitado para pôr termo a todo este terror que paira no espaço e que macabramente se apoderou da raça humana.
Como classificamos Dead Space 3? Supostamente de Survival Horror, mas na realidade estamos perante um híbrido já que o jogo sofreu uma metamorfose. Boa ou má? Se tal como eu pertencerem ao grupo conservador que viu em Dead Space um acordar para o género survival horror, um jogo feito por pessoas que amam o género e o souberam transmitir aos jogadores, vão ter alguma dificuldade em digerir Dead Space 3. No entanto, e desprendendo-me de toda e qualquer emoção pela série, tenho que afirmar que temos aqui um bom shooter na terceira pessoa, com elementos de survival horror. O terror e suspense já não nos são apresentados nas mesmas doses cardíacas. Gerir recursos deixou de ser uma tarefa difícil, Isaac tem agora um companheiro de jornada, e vê-se inserido num triângulo amoroso, que mais parece uma novela mexicana.
Das várias modificações que este franchise sofreu, há que destacar a introdução de um modo cooperativo que permite jogar a campanha principal na integra. Portanto ao iniciar Dead Space 3 podemos optar por o jogar sozinhos ou na companhia de alguém do outro lado dos servidores. Mesmo que optem por começar em modo solo, a qualquer momento podem chamar alguém para vir jogar convosco. Pessoalmente optei primeiro pela campanha singular, sem nunca pelo meio ter acasalado com alguém. No final testei o modo co-op e fiquei satisfeita com o seu funcionamento, pois acabamos quase por ter duas experiências de jogo diferentes. Ao jogar a solo, aproximamo-nos mais da experiência Dead Space classica; em modo co-op, não nos apercebemos do isolamento e avançar no jogo torna-se mais fácil. Inteligentemente, a Visceral Games introduziu um novo personagem, para que este modo cooperativo tenha sentido. A nós junta-se o soldado John Carver, com uma personalidade e história próprias. Quer isto dizer que no desenrolar da acção assistimos a cenas extra que envolvem Carver, bem como usufruímos de uma maior longevidade do jogo, já que algumas missões secundárias apenas são possível de completar em modo cooperativo.
Apesar de ser contada uma estória com Carver, o enredo de Dead Space 3 não se altera, sendo o mesmo em ambos os modos de jogo. Na campanha a solo, Carver está presente, mas apenas nas cenas cinematográficas, portanto estaremos mesmo sozinhos com Isaac. Em algumas situações no modo a solo, senti que estas estavam feitas para serem jogadas em co-op, o que não é nada interessante. Importante será dizer que para a experiência de co-op ser gratificante, deverá ser jogada com alguém que o jogador conheça e que tenha a mesma empatia por Dead Space. Porque estar a jogar com alguém que aleatoriamente entra e sai da campanha e joga de forma “avacalhada”, não faz sentido nenhum.
O sistema de combate é diferente. O simples e ordinário engenheiro de movimentos pesados e toscos, agora é capaz de rebolar e baixar-se para obter cobertura. Cobertura?! Desde quando é que Isaac se esconde de um Necromorph? Humanos… agora existem soldados humanos, dotados de AI burreca, contra os quais temos autênticos tiroteios Hollywoodescos. Contudo, mantém-se a variedade de criaturinhas grotescas, bem ao estilo de The Thing de John Carpenter e o estratagema para as eliminar continua a ser a característica abordagem de Dead Space: o desmembramento. Shoot the limbs off! A gestão de recursos é praticamente inexistente, uma vez que eles aparecem de forma abundante pelo cenário, desde surgirem após a morte de um inimigo, passando pelo interior de cacifos e em caixotes que devemos partir. As munições são agora universais, tal como em Mass Effect, podendo assim ser usadas em qualquer arma que Isaac tenha.
E é de armas que vamos falar agora. O acesso a elas é também uma novidade em Dead Space 3; apesar de Isaac poder transportar apenas duas armas ao mesmo tempo, temos a possibilidade de personalizar e criar um grande leque de armas únicas, ao ponto de numa mesma arma termos duas. Uma superior e uma inferior, como por exemplo uma espécie de caçadeira de curto alcance em conjunto com a famosa plasma cutter. O leque é variado e fica a vosso critério. Estas armas são construídas com partes específicas que vamos encontrando e procurando ao longo do jogo. Mas encontrar essas variadas partes, para a construção da arma ideal, não é facil e é aí que entra a mestria da EA, ao introduzir o sistema de micro-transacções, poderá implementar em alguns títulos daqui para a frente. Basta alguém estar disposto a gastar dinheiro real na enorme variedade de bens e extras, para Dead Space 3 deixar de ser interessante e o conceito de survival horror ficar ainda mais distante deste titulo.
Os gráficos de Dead Space 3 não rivalizam com os da actualidade. Pedia-se e esperava-se mais. No entanto os ambientes Sci-Fi estão belos e dão-nos a sensação de dimensão. Se anteriormente nos sentíamos enclausurados dentro de naves como USG Ishimura, a vaguear por entre os seus corredores escuros como breu, pé ante pé, de arma em punho com o coração a mil à hora e na expectativa de que da ventilação mais próxima saltasse um Necromorph prontinho a dilacerar-nos, agora Isaac movimenta-se por cenários muito variados. Como andar em exteriores onde neve e ventos fortes provocam fraca visibilidade, ou em pleno espaço a fazer uso da gravidade zero, explorando destroços que por ali flutuam, ou de repente a fazer rappel e escalada, com uns tirinhos pelo meio. Todos estes diferentes cenários conferem a Dead Space 3 uma jogabilidade variada e nada aborrecida. Volt
a e meia vão acontecendo algumas situações que ainda conseguem por as palmas das mãos a suar. Situações essas sempre bem complementadas pelos efeitos sonoros a que a série nos habituou. No escuro o nosso melhor sentido é a audição e isso funciona lindamente. Mas muito sinceramente, a tensão já não é o que era. Talvez em busca de um maior desafio aconselharia aos mais hardcore a jogarem o jogo em modo Hard ou até mesmo Impossible, pois aí terão mais hipóteses de encontrar maior dificuldade pela gerência de recursos, e maior pressão. Isto se não recorrerem às micro-transacções.
O melhor: Jogabilidade variada; excelente visual e uma atmosfera que consegue despertar os sentidos; bons efeitos e ambientes sonoros; modo cooperativo bastante divertido, especialmente se jogado com a companhia certa.
O Pior: Estória pouco envolvente e muito ao estilo de Hollywood; não é tão assustador quanto os anteriores, o que poderá não satisfazer os fãs da série.
Dead Space 3 surge como um blockbuster, um bom shooter na terceira pessoa com elementos de survival horror, dotado de uma atmosfera de filme bastante intensa nas cenas cinamatográficas e na sua jogabilidade variada e nada repetitiva, de puro entretenimento. A introdução de um modo cooperativo, em susbtituição do Multiplayer competitivo que existia em Dead Space 2, revela-se interessante e está muito funcional. Apesar de todas estas mudanças, o jogo tenta não se desviar da sua matriz e fá-lo de forma balanceada e flexível. O que se pretendeu com este capítulo da série? Talvez acompanhar as tendências e agradar as massas? Um franchise que tinha tudo para ser um marco no survival horror desta geração, Dead Space 3 não ficará na memorias dos fãs, pelas melhores razões. Mas dentro do seu género, leia-se acção e aventura na terceira pessoa, é um jogo bastante bom.
Análise da versão PlayStation 3. Também disponível para Xbox 360 e Windows.
Comments (1)
Grande jogo sim senhor! Joguei os ultimos 2 e adorei!
Um passatempozinho para ganhar o joguinho é que era =P