Nostalgia aos molhos

O Rubber Chicken é um site que se orgulha de escrever na  língua de Fernando Pessoa e como tal, quando um jogo tem uma má tradução do seu título, nós sentimos a obrigação de a comentar. É importante sublinhar que a tradução de nomes, subtítulos, e jogos inteiros para a nossa língua avó não é algo que seja errado, principalmente se são jogos que a nossa criançada pode querer jogar, mas adivinhem o que é que o Epic Mickey: Mundo Misterioso não tem… um Mundo Misterioso! Epic Mickey desenrola-se em três mundos e nenhum destes é misterioso, principalmente porque o encanto do jogo é reconhecer os vários mundos de animação da Disney em cada nível. No entanto o jogo tem bastante ilusão. Desde a ilusão de movimento da animação – na qual assenta toda a história da Disney – até à ilusão da bruxa metamórfica que é o inimigo principal de Mickey neste titulo. Daí o nome original deste jogo: Epic Mickey: Power of Illusion.

Epic Mickey: Mundo Misterioso foi desenvolvido pela DreamRift, o estúdio responsável por Monster Tale, e publicado pelos Disney Interactive Studios. O jogo é uma sequela espiritual de Castle of Illusion Starring Mickey Mouse, um jogo que saiu em 1990 para a Mega Drive. Tendo em conta esta informação, não será chocante se vos disser que todo o jogo transmite uma só emoção: Nostalgia. A nostalgia tem muito poder e a Disney sabe isso, daí terem fechado os olhos para muitos dos defeitos que Power of Illusion tem.

Deve ser um pesadelo encontrar o WC a meio da noite neste castelo.

Deve ser um pesadelo encontrar o WC a meio da noite neste castelo.

 

A história do jogo é simples mas resulta bem. Muitas das personagens principais dos filmes de animação Disney foram raptados por uma bruxa má e aprisionados no seu castelo, onde serão condenados ao esquecimento se lá permanecerem muito tempo. Mickey é então chamado por Oswald para os ajudar e, sem sequer deixar um bilhete no frigorífico para  Minnie, salta prontamente à aventura.

O jogo tenta assumidamente emular as experiências dos velhos platformers 2D, mas falha num único ponto essencial: deveria tentar emular aquilo de que nós nos lembramos desses platformers e não do que eles realmente eram. Isto pode parecer um conceito estranho mas qualquer pessoa que já tentou voltar atrás e jogar de novo Castlevania ou qualquer outro jogo dessa Era sabe do que estou a falar: a nostalgia que nos invade quando pensamos nesses títulos faz-nos esquecer os seus problemas. Os nossos dedos mimados por dualshocks e analog sticks mais suaves que a cabeça de um recém nascido já não estão preparados para lidar com a brutalidade dos controlos “old-school”, quando jogar três horas por dia era sinónimo de calos e tendinites agudas no polegar.

Os controlos de Power of Illusion são brutalmente fieis aos da Era passada, o que torna o jogo um pouco rijo e espasmódico. Foi introduzida também uma mecânica de “pincel”, com a qual podemos usar duas cores para pintar objectos que aparecem no cenário e apagar outros. Esta mecânica tem potencial em teoria, mas a execução torna-se repetitiva e rapidamente insatisfatória.

O jogo sente-se de uma forma geral muito reduzido e superficial. A campanha é curta e os elementos de jogo são reutilizados vezes sem conta, chegando a um ponto em que cogumelos e capacetes de armaduras andantes se tornam pura e simplesmente aborrecidos. O jogo tem apenas três mundos – dentro do Castelo – e consequentemente também apenas três boss fights, o que é uma pena, pois estas são a parte mais divertida do jogo.

O Peter Pan deu de frosques e deixou um rato com um pincel lidar com o assunto.

O Peter Pan deu de frosques e deixou um rato com um pincel lidar com o assunto.

 

Antes de mais é impossível não falar da animação, afinal de contas este jogo tem literalmente os nomes “Disney” e “Mickey” estampados na embalagem. Estes nomes carregam consigo um peso enorme no mundo da animação e do entretenimento e é impossível e injusto não julgar mais severamente um jogo que os exibe como principal ponto de venda. As animações deste jogo não estão más, até estariam boas para qualquer outro jogo, mas este grita-nos “DISNEY! AH!” na cara sempre que abrimos a 3DS, e as animações simplesmente não estão à altura.

As animações estão ao nível de um Cartoon Network por exemplo, o que não é mau, apenas choca de frente com todos os valores de produção da Disney. Daí que embora todo o jogo seja 100% em 2D e uma homenagem aos bons velhos 2D platformers; daí que todo o jogo seja uma trip de nostalgia,  isto não é suficiente para justificar a falta de conteúdos.

Gostam? Isto é o que não acontece no jogo! Nunca!

Gostam? Isto é o que não acontece no jogo! Nunca!

 

O melhor: A nostalgia; O jogo transporta-nos para a nossa infância e tem o poder de invocar algumas emoções fortes.

O pior: A falta de conteúdos; A pouca atenção dada à animação e a alguns recursos gráficos do jogo, algo que não seria de esperar num jogo Disney.

Power of Illusion  devia ser um titulo para download na Nintendo eShop de preço mais reduzido. A sua curta duração e falta de conteúdos seria aceitáveis se o jogo não fosse comercializado como um titulo “retail”. Acima de tudo isto, a única coisa que poderia fazer este titulo destacar-se – a animação – foi algo esquecido e posto de parte. Para quem quer alguns momentos de nostalgia ou para quem quer uma experiência de jogo casual, repetitiva e genérica, este é o jogo perfeito. O Mickey merecia melhor.

 

Epic Mickey: Mundo Misterioso é um exclusivo Nintendo 3DS.