Que ninguém ouse quebrar pactos com os deuses do Olimpo.
God of War: Ascension é o mais recente título deste franshise exclusivo da Sony; e trata-se de uma prequela que nos vem dar conta do que antecede em todos os títulos de God of War até ao momento. Conhecemos Kratos há 8 anos aquando do lançamento do primeiro titulo (God of War, em 2005, exclusivo PS2), e desde sempre nos habituámos a um homem violento, sedento de vingança, incapaz de baixar a guarda em momento algum. God of War: Ascension tenta apresentar-nos um Kratos mais humano e com moral; um homem que luta pela busca da verdade; e que carrega consigo um pesado fardo que o acompanhará ao longo de todos os títulos da saga. Contudo, esta prequela não nos vem contar nada substancialmente novo, pecando por conter uma estória pobre e por vezes confusa. Um ou outro pormenor transparecem a moral de Kratos, como por exemplo o facto de ele não ceifar a vida dos inocentes com os quais se cruza ao longo do jogo. Algo que não acontecia até então. Mas depressa isso se desvanece, para dar lugar ao monstruoso soldado espartano, dominador do género hack and slash.
God of War: Ascension apresenta um sistema de combate mais refinado e absolutamente grotesco. As mudanças não foram radicais, a fórmula mantém-se, mas “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. E desta vez até temos direito a combate corpo a corpo. Kratos é capaz de pontapear e socar os inimigos de forma brutalmente violenta para, num golpe de finalização, arrancar-lhes a cabeça com as próprias mãos. Ao contrário dos jogos anteriores, Kratos possui apenas as Blades of chaos como arma. Existem no entanto lanças, martelos de guerra, espadas e escudos, que aparecem pelos cenários e podem ser usados temporariamente como arma secundária, tendo cada uma delas golpes e combos específicos associados a si. Ter unicamente as Blades of chaos não nos vai limitar o combate, isto porque foi feita uma adição bastante interessante. Ao longo da sua jornada, Kratos vai adquirir poderes característicos dos Deuses: elementos como o fogo (Ares); magia negra (Hades); a fúria dos oceanos (Poseidon) e a electricidade (Zeus). Cada um desses elementos funciona em conjunto com as Blades of Chaos, dando origem a uma valsa sanguinária de lâminas capazes de congelar os inimigos, de os electrificar, de os deixar com o rabinho a arder ou os assombrar com a magia das almas penadas do outro mundo. Cabe a cada um de nós escolher o que acharmos mais eficaz, uma vez que determinado elemento provoca mais danos numa espécie de inimigo do que noutra. Todas essas variantes podem ser escolhidas rápida e eficazmente nos botões direccionais do comando enquanto nos defrontamos com diferentes espécimes da mitologia grega.
A versatilidade de Kratos não acaba aqui. É possível agarrar um inimigo com uma das correntes e mantê-lo refém, enquanto a outra continua a laminar os corpos dos adversários, podendo a qualquer momento pegar nesse refém da nossa corrente e arremessá-lo contra um inimigo. E após uma boa colheita de red orbs, há a possibilidade de desbloquear combos específicos para cada um dos elementos dos Deuses, associados às nossas Blades of Chaos.
Existem duas adições de grande valor, podendo ser usadas tanto no combate como na resolução de puzzles. A aquisição de dois artefactos vão permitir a Kratos ter um clone dele mesmo e a capacidade de reconstruir ruínas dos cenários. Em combate, ter dois Kratos em cena é uma grande ajudinha. Mas atenção que esta “benesse” é também ela temporária, pois temos de esperar que o artefacto recarregue para usarmos o seu poder novamente. Quando não temos o nosso clone a dar tau-tau aos inimigos, temo-lo a ajudar na resolução de puzzles que envolvem movimentar grandes peças do cenário. Os jogos anteriores sempre tiveram puzzles deste tipo, mas desta vez foi mais além, sendo-nos dada a capacidade de construir e destruir partes especificas do cenário, para se progredir e resolver determinados puzzles. Reerguer pontes, estátuas, engrenagens e poder parar o processo a meio para obter soluções… Moisés, que dividiu o Mar Vermelho para a passagem dos Judeus, era um menino ao pé disto!
Este franshise sempre se destacou pela brutalidade e grandiosidade. Brutalidade com que Kratos executa os adversários, a grandiosidade dos seus cenários, a personificação de figuras mitológicas, bem como os excelentes gráficos. God of War: Ascension não desilude em nenhum desses campos, atrevendo-me a dizer que os seus gráficos são tão bons ou melhores que os de God of War III, dando a entender as capacidades de hardware da PS3. E a execução dos inimigos? São de fazer cair o queixo, por estarmos perante um carniceiro altamente qualificado, que sem pudor e misericórdia corta as suas vítimas de alto a baixo num único golpe. Não nos esqueçamos que somos nós a controlar Kratos, somos nós que executamos os inimigos, somos nós que participamos neste festival de sangue, somos nós participantes neste espectáculo de brutalidade. O jogo faz-nos sentir assim, completamente imersos no combate e nunca espectadores. Quer dizer… a maior parte do tempo! Porque há um pormenor irritante que volta e meia nos coloca quase como espectadores da acção. A câmara é fixa e da qual muitas vezes somos reféns, quando em certas alturas estamos a lutar. Para destacar a grandiosidade do cenário, a câmara afasta-se de tal forma que Kratos e os inimigos parecem formigas, tornando-se complicado distinguir quem é quem, podendo levar à morte do jogador.
Como sempre, uma Épica banda sonora e um elenco de luxo a dar voz aos personagens é aquilo com que se pode contar em God of War: Ascencion. De louvar a sua dobragem para português, com vozes como Teresa Madruga na narração e Ricardo Carriço a dar voz a Kratos. Mas mais uma vez, tal como aconteceu em God Of War III, parece que estamos a assistir a desenhos animados. É como se estas dobragens tirassem dimensão ao que o Universo God of War é, até mesmo numa perca de identidade.
A campanha principal, em modo normal, poderá ser concluída em cerca de 9 a 10 horas. De destacar os níveis finais, que podem levar algumas pessoas a desistir de terminar o jogo, pois temos que defrontar inimigos em três rondas, sendo que no final de cada uma não existem saves nem possibilidade de apanhar green orbs para recuperar a vida. É um combate durinho e com bastante táctica e, ao fim de várias tentativas, consegue-se ultrapassar. Mas será um momento frustrante para algumas pessoas. A boa notícia é que a SONY planeia criar um patch que corrija a dificuldade deste desafio que tem condicionado muitas pessoas a finalizar o jogo.
Pela primeira vez é introduzido um modo multiplayer, que desde o seu anúncio despertou muita curiosidade. É uma adição interessante, mas que não se destaca por aí além. Confere mais algumas horas de longevidade ao jogo, dependendo da vossa dedicação, mas não o suficiente para nos agarrar horas a fio em busca de mais e mais. Está bem executado, é bastante estável e oferece-nos varias opções tais como Capture The Flag, Trial of the Gods, Team Favor of the Gods e Deathmatch. Não somos Kratos, mas sim um soldado que inicialmente terá de escolher a aliança a que se quer juntar e, assim, lutar e ter poderes referentes ao Deus na aliança que se optar. São eles os conhecidos Ares; Hades; Poseidon e Zeus. Toda a mecânica de combate é a mesma da campanha a solo, e portanto não iremos estranhar. No entanto, vamos dar conta do quanto estamos em desvantagem quando nos iniciamos no modo multiplayer, pois não existe qualquer tipo de matchmaking e vamos portanto defrontar-nos com jogadores que já levam níveis bem avançados com o seu personagem. Um dos modos mais divertidos é o que permite ter 8 jogadores em jogo, em equipas de 4. É um autêntico mata e esfola, e mal morremos já estamos de volta ao combate, o que é bastante atractivo. Para além de usarmos os poderes do nosso personagem, podemos usar a nosso favor armadilhas dispostas pelos cenários que estão bem arquitectados.
O melhor: Excelente level Design; Banda sonora épica; Elenco de vozes em Inglês; Modo multiplayer; Puzzles interessantes;
O pior: Estória confusa e sem profundidade; ângulos da câmara por vezes atrapalham o combate; momentos finais frustrantes que poderão levar à desistência do jogador em concluir o jogo.
God of War: Ascension surge com o pretexto de nos mostrar um Kratos humanizado, mas nesse âmbito revela-se uma tentativa mal conseguida. E apesar de ser mais do mesmo, jogar God of War: Ascension é uma experiência extremamente gratificante recheada de violência brutal e banhos de sangue que tanto apreciamos neste franshise. É também uma das melhores experiências visuais dos últimos tempos, dada a magnificência e escala dos seus cenários, bem como os gráficos. A reestruturação do sistema de combate torna a experiência diferenciada e versátil e a adição do tão reticente modo multiplayer, revelou-se interessante e bem implementado, dado que proporciona diversão por mais tempo. God of War: Ascension não irá desiludir quem procura ter uma boa sessão de hack and slash na companhia de Kratos, mas não irá satisfazer quem procura respostas para o passado deste soldado espartano. Mas haverá questões do passado de Kratos que não tenham ficado claras nos títulos anteriores? Haverá algo tão importante que necessite ser contado nesta prequela?
God of War: Ascension é um exclusivo PlayStation 3.
Comments (1)
[…] nossa Carlota achou na sua análise que embora Ascension seja mais do mesmo, jogar God of War continua a ser tão gratificante como […]